O Joio e o Trigo, portal de jornalismo investigativo sobre alimentação, lançou uma nova ferramenta de comunicação – o podcast Prato Cheio. Semanalmente o grupo conta histórias sobre a relação entre os alimentos e a indústria, a política, a fome e os caminhos entre o que se planta, o que se fabrica, o que se come – e os efeitos na saúde da população. O primeiro episódio – “Parece comida mas não é” – foi ao ar no início de fevereiro (4/02), e abordou os ultraprocessados – conceito desenvolvido por pesquisadores brasileiros para nomear produtos alimentícios que se distanciam da forma natural dos alimentos, após passarem por muitos processos físico-químicos.
O abrasquiano Carlos Monteiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública (NUPENS) da USP, e Maria Laura Louzada, também integrante da Abrasco e pesquisadora do NUPENS, foram entrevistados neste programa inicial. Ambos abordaram as estratégias que a indústria encontra para inserir estes alimentos na mesa – e no organismo – das pessoas: “A indústria que lança o produto já tem uma ideia de que produto quer substituir: qualquer novidade que você coloca [no cardápio cotidiano], você tem que retirar alguma coisa. Os produtos são desenhados para substituir ou o alimento não processado ou a variedade de produto que é processada – o refrigerante substitui a água, por exemplo”, explicou Monteiro. Maria Laura corroborou: ” O s alimentos ultraprocessasdos são convenientes, portáteis, onipresentes – a gente vê eles na bancas de revista, no metrô – na farmácia, inclusive. E além disso eles são hiper palatáveis – isso [o hiper sabor] faz com que a gente substitua as refeições baseadas em alimentos em natura por ultraprocessados, e também que tenha a sensação de perda de controle de apetite, que a gente coma mais do que precisa sem perceber isso”.
Já o episódio “Fome, uma coisa horrorosa” , publicado em 11/02, fez uma retrospectiva à década de 1950, quando o Brasil viveu um êxodo rural: além da industrialização, que aumentou a oferta de empregos nas grandes cidades, houve uma maquinização do campo. As pessoas ficaram desempregadas , sem terra pra plantar – e famintas. Em algumas regiões, como no sertão, a fome foi agravada pela seca. Para falar sobre o assunto, o Prato Cheio trouxe as vozes de Elza Soares, cantora do “Planeta Fome” , e Elisabetta Recine, ex-presidente do Consea e integrante do Grupo Temático Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva da Abrasco. Elza disse que a fome “escurece as vistas, dói, tira você do seu raciocínio – a fome é horrorosa”. Já Elisabetta contou a história de Josué de Castro, um importante médico, professor, geógrafo, cientista social e política, que , em meados do século passado, investigou a fome e publicou o livro “Geografia da Fome”, descobrindo como o fenômeno acontecia em cada região do país.
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