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Controle do câncer: o desafio é desigual

Daniela Rangel - Fiocruz

Michel Coleman, da London School of Hygiene and Tropical Medicine

O epidemiologista Michel Coleman, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, destacou a importância da utilização de evidências científicas como base para a elaboração de políticas públicas de saúde em sua palestra “A luta contra o câncer em um mundo desigual: avanços e desafios”, na tarde do primeiro dia do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. O britânico, que foi diretor do Registro de Câncer Thames, em Londres, apresentou números epidemiológicos da doença em todo o mundo para demonstrar que, embora a incidência do câncer nos países mais ricos seja alta, é nas nações pobres que estão as maiores taxas de mortalidade.

Segundo Coleman, os responsáveis pela elaboração das políticas deveriam ouvir mais os pesquisadores para que fossem criadas estratégias que, de fato, pudessem melhorar a vida das pessoas. “Desde 2008, as desigualdades na área de saúde vêm aumentando, especialmente quando observamos a política global de controle do câncer”, afirmou. O epidemiologista mostrou que a Estratégia Global de Prevenção e Controle de Câncer da Organização Mundial de Saúde (OMS), lançada em 2017, prevê ações para diminuir desigualdades em exposição a fatores de risco, e melhora no rastreamento, diagnóstico precoce e tratamento de câncer.

O desafio é enorme, em todo o mundo, 400 milhões de pessoas não têm acesso a qualquer serviço básico de saúde, o que é fundamental para o diagnóstico precoce. O acesso à radioterapia é muito desigual: em países de baixa e média renda há, em média, uma máquina por cinco a 20 milhões de pessoas, já nos países de alta renda a média é de uma máquina por 250.000 pessoas. Há mesmo 25 países sem nenhuma máquina de radioterapia, tratamento essencial para cerca de 50% dos cânceres sólidos. “Falta vontade pública, investimento para a sociedade, não para os investidores, saúde não pode ser negócio”, ressaltou Coleman.

A prevenção seria a melhor estratégia, mas é um trabalho de longo prazo e difícil implementação. “Tivemos avanços, por exemplo, as vacinas que ajudam a prevenir alguns tipos de câncer. Nas técnicas diagnósticas também, com exames de imagem mais precisos e os de biomarcadores”, explicou o pesquisador. Coleman citou Aneurin Bevan, criador do National Health Service (NHS) – o equivalente ao Sistema Único de Saúde (SUS) do Reino Unido –, para celebrar o fato de tantas pessoas estarem reunidas no Congresso para discutir políticas de saúde. “Bevan dizia que o NHS duraria enquanto existissem pessoas dispostas a brigar por ele e isso é o que eu vi aqui hoje, todos em busca de um sistema público de saúde de qualidade”, finalizou.

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