“O Brasil estabeleceu uma política fantástica no embargo a aditivos de tabaco. Agora é inovar para diminuir a prevalência”. A fala do pesquisador estadunidense Jeffrey Drope abriu a mesa-redonda “Controle do tabaco: novos desafios para o século 21”, sessão da programação do X Congresso Brasileiro de Epidemiologia, promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. A discussão seguiu por três temáticas: política econômica e o controle do tabaco no mundo e no Brasil; cigarros eletrônicos e novos dispositivos: uma ameaça ou uma oportunidade para o controle do tabagismo? e; propaganda indireta de tabaco e imagens em programas de TV aberta, visando o controle do tabaco no contexto mundial e brasileiro como problema de Saúde Pública. A mediadora do debate foi Ana Luiza de Lima Curi Hallal, professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC (SPB/UFSC).
Sobre a primeira temática, Jeffrey Drope enfatizou o trabalho de controle do tabagismo realizado no Brasil ao longo de 20 anos. Para o pesquisador, as políticas deram certo porque foram fundamentadas nas restrições quantitativas da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Prevaleceu a necessidade da restritividade comercial, e não o controle em saúde”, disse. Embora o uso do tabaco continue aumentando globalmente, pesquisas revelaram que o Brasil apresentou redução no consumo, o que colocou o país entre os campeões de quedas do número de fumantes. Drope relacionou esses dados à forma como as políticas de controle do tabaco vêm sendo implementadas pelo Ministério da Saúde em conjunto com órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Apesar da diminuição do consumo, o Brasil ainda ocupa o oitavo lugar no ranking de número absoluto de fumantes: 7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens.
A secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, Tania Maria Cavalcante, explanou sobre a polêmica dos cigarros eletrônicos (CE). Apresentou dados internacionais sobre o uso do CE como mecanismo de diminuição do consumo do cigarro convencional. De acordo com as pesquisas, o CE possui teor de nicotina de 9 a 450 vezes menor do que o cigarro comburente. Ao mesmo tempo, reforçou que o produto necessita de uma regulamentação e pode trazer riscos à saúde dos usuários por suprimir a defesa pulmonar e causar explosão de baterias. “Precisamos de estratégias mais ousadas, tipo endgame para eliminar mortes prematuras causadas pelo tabaco”, explicou, citando a pesquisa Tabacco Control Endgame.
A palestrante e médica Valeska Carvalho Figueiredo finalizou o debate contextualizando a pesquisa realizada pela Equipe INOVA Tabaco e pelo Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab), projeto da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), sob o tema “Propaganda indireta de tabaco e imagens em programas de TV aberta”. A pesquisa teve como metodologia a análise de 400 horas de programação televisiva e o desdobramento da inserção de imagens diretas e indiretas do consumo de tabaco nas mídias sociais de alta participação. Os resultados constataram que 73% do filmes, 49% das séries, 44% dos reality shows e 14% das novelas estimulavam o consumo de tabaco na TV aberta brasileira. Já nas mídias sociais (Facebook, Youtube, Instagram e Twitter), 71,4% das publicações eram pró-tabaco.