Sereno quero saber
Por isso, vou perguntar
Nem me venha com enrolação
Nem tente me engabelar
Essa tal fluoretação
pode a cárie evitar?
Ao som da viola e do violão, os versos acima dão o tom de um projeto pioneiro desenvolvido pelo Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal, ligado à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (CECOL/USP): falar de um tema tão difícil como a fluoretação da água potável para a sociedade por meio de ferramentas da cultura e da educação não formal. O resultado é o video-cordel O Dragão da Maldade Contra a Fluoretação das Águas, que o Centro acaba de lançar.
O projeto começou inicialmente com a produção do cordel propriamente dito, editado ainda no ano passado. O texto é uma parceria de Paulo Capel Narvai, professor do Departamento de Prática de Saúde Pública da FSP/USP, especialista em fluoretação das águas e membro do Grupo Temático Saúde Bucal Coletiva/Abrasco, com os cordelistas Cristine Nobre Leite (que usa o nome artístico de “Madrugada”) e Antônio Costa Teixeira (batizado de “Sereno”). Além de cordelista, Cristine Nobre Leite é dentista da Equipe Saúde da Família em Pirpirituba, interior da Paraíba, e Conselheira Municipal de Saúde, o que facilitou o entendimento e a produção dos versos.
Além de contar e cantar sobre o trabalho pioneiro do cirurgião dentista Frederick McKay, que em 1911 estabeleceu uma relação direta entre o defeito estrutural do esmalte dentário, materializado nas manchas na dentição de crianças residentes na cidade de Spring, no Estado do Colorado (EUA), e a presença de substâncias na água de abastecimento público de cidades vizinhas, onde a população não apresentava o mesmo problema, o cordel fala também de nomes pioneiros na saúde bucal coletiva brasileira, como Mario Chaves e Alfredo Reis Viegas.
“Ao contar a história da fluoretação das águas em um cordel, nós quisemos preservar nos versos os conflitos de valores, a luta entre o bem e o mal, o universo muitas vezes mágico presente nas histórias que os cordéis relatam. Por isso a evocação do Dragão e do Santo Guerreiro. Creio que funcionou. Nossa expectativa é que, utilizando essa linguagem poética, possamos ampliar o leque de interessados no tema e popularizar os esforços em prol da água de abastecimento público, de qualidade, portanto clorada e fluoretada, como direito de todos”, explica Narvai.
Após a produção do livro na mesma técnica artesanal que o consagrou, o segundo passo foi fazer os arranjos e a gravação dos versos em vídeo, realizada no TL Studio, em Guarabira (PB), em setembro do ano passado. A edição e finalização se deram nas últimas semanas do mês de junho deste 2016.
Inaugurado em 26 de novembro de 2009, o CECOL/USP tem como missão desenvolver atividades de vigilância da saúde bucal, com ênfase aos aspectos relacionados com a vigilância da fluoretação das águas de abastecimento público e temas associados. “Nosso centro colaborador desenvolve várias atividades relacionadas com o SUS em vários âmbitos e um dos focos está na produção de material didático, dirigido a públicos variados. A perspectiva do vídeo é de que seja utilizado amplamente, seja em atividades didáticas em processos formais de aprendizado, seja em espaços de discussões sobre saúde pública, SUS e direito à saúde. Espero que funcione. Mas não temos recursos para dar a isso uma amplitude maior, ”, explicou o abrasquiano.
Assista na íntegra: