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Crise da saúde do Rio se aprofunda e ganha o noticiário nacional

Bruno C. Dias, com informações do Nexo Jornal

Profissionais da saúde do município do Rio protestam em frente ao TRT, no centro da capital – Tomaz Silva/Agência Brasil

Numa sequência de descasos públicos e palavras vazias que se estende desde setembro e parece não ter fim, a crise da saúde do município do Rio de Janeiro aprofunda-se tanto política e financeiramente como no agravamento das condições sanitárias às vésperas das festas de fim de ano.

Na tarde desta quinta, 12 de dezembro, o Tribunal Regional do Trabalho determinou o arresto de R$ 300 milhões das contas e recursos próprios da prefeitura da cidade para o pagamento dos salários atrasados dos profissionais de saúde e condições mínimas para a reabertura de unidades de saúde parcialmente fechadas por falta de insumos, caso do hospital Albert Schweitzer. Enquanto isso; o prefeito Marcelo Crivella encontrava-se em Brasília, com pedidos de “piedade” e “clemência” a políticos e técnicos do Ministério da Saúde e da Advocacia Geral da União, e publicava nas redes sociais um vídeo em que classifica como “falsa” uma crise que afeta mais de 20 mil funcionários, além de toda a população carioca e Grande Rio.

A situação de desalento e penúria que mobiliza uma greve iniciada na terça, dia 10, recebeu a solidariedade e indignação da Abrasco e demais entidades do movimento sanitário, que em nota destacam o agravamento do desmonte da saúde pública carioca há pelo menos três anos, iniciada com a demissão de mais de 200 equipes de Saúde da Família e NASF, desmonte do programa de atenção domiciliar e consultório de rua, juntamente com retrocessos à política de saúde mental e falta de insumos – leia aqui na íntegra. Nesse período, deixou-se de investir mais de R$ 2 bilhões na área da saúde, de acordo com levantamento feito pela Defensoria Pública do Estado e pelo Ministério Público do Rio.

Para entender a crise na saúde do Rio, o jornalista Estêvão Bertoni, do Nexo Jornal, ouviu a abrasquiana Lígia Bahia para a matéria “Salários atrasados e paralisação: a crise da saúde pública no Rio”.

Integrante da Comissão de Política, Planejamento e Gestão em Saúde da Associação, Lígia retoma a trajetória particular da formação da rede assistencial no Rio de Janeiro e o cenário de recessão econômica local e nacional, mas vaticina: a gestão Crivella não deu a devida priorização à saúde que a Constituinte atribuiu. A professora participou ainda do podcast “Ao Ponto”, do jornal O Globo, falando sobre o tema.

Leia abaixo parte da entrevista concedida ao Nexo e clique aqui para ler o texto completo.

Nexo Jornal: Por que a crise da saúde do Rio parece sempre mais aguda do que no resto do país?
Lígia Bahia: O Rio de Janeiro concentra a maior rede pública do país, por ter sido a capital federal e por causa de prefeitos que priorizaram a saúde. É onde estão situados os grandes hospitais públicos tanto da rede federal como da estadual e da municipal. A gente sempre dizia: ou o SUS vai dar certo no Rio de Janeiro ou não dará. Ao longo do tempo, o SUS foi dando às vezes certo aqui, mas mais vezes errado.

Nexo Jornal: O Ministério Público diz que não falta dinheiro, mas que ele foi aplicado em outras áreas que não a saúde. Isso explica a crise?
Lígia Bahia: Certamente sim. Essa é uma ênfase, mas há falta de dinheiro também. O Rio de Janeiro perdeu lugar no país. A arrecadação diminuiu muito, o estado tem altas taxas de desemprego. O Rio decaiu no ranking do PIB per capita nacional [é o estado com menor crescimento econômico acumulado nas últimas duas décadas] e diminuiu a arrecadação. Por isso, diminui recursos das políticas públicas. Esse é um quadro geral que a gente não pode deixar de lado. Agora, não quer dizer que o que deveria ter sido aplicado na saúde foi. Não foi. Mesmo nesse quadro, com esse panorama desfavorável, os recursos não foram utilizados. A gente não está dizendo com isso que foi corrupção, mas que não houve a devida priorização que a Constituinte atribuiu à saúde.

Nexo Jornal: A crise é só na rede municipal?
Lígia Bahia: É geral. Na realidade, foi assim: no início do governo Bolsonaro era uma crise na rede federal por corrupção. Depois, saiu da federal e passou para a rede estadual, que parou de pagar as OS (organizações sociais). Agora, a crise veio para o município. Na realidade, se a gente for olhar, desde 2017 isso vem acontecendo assim. Ora no estado, ora no município, ora na rede federal. As três redes públicas estão sucateadas. Nas três há falta de pessoal,desânimo grande dos profissionais, problemas de estoques de insumo, de medicamentos.

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