Nesta segunda-feira (13/7) um relatório do painel independente da Organização das Nações Unidas (ONU) – Every Woman, Every Child, Every Adolescent (“Toda mulher, toda criança, todo adolescente”) – apontou que “Mães, recém-nascidos, crianças e adolescentes perdem 20% dos serviços sociais e de saúde”, diante da Covid-19″.
A BBC Brasil fez uma matéria sobre o tema, e citou o Especial Abrasco sobre o aumento da mortalidade infantil e materna no Brasil , publicado em 2018, que já sinalizava uma preocupante tendência no aumento de óbitos pós-natal, relacionados à piora das condições de vida dos brasileiros. A reportagem também entrevistou Simone Diniz, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e integrante do Grupo Temático Gênero e Saúde da Abrasco. Confira trechos:
[…] O relatório traz classificações de 193 países em sete indicadores, avaliando-os como “superado” (metas globais ou do país em particular superadas); “avançado”; “intermediário”; e algo como “correndo atrás” (“catching up”). Os dados são em sua maioria anteriores à covid-19, variando entre 2015 e 2018.
O Brasil aparece com cinco indicadores “superados”: índice de mortalidade materna; taxa de crianças natimortas; mortalidade infantil; mortalidade abaixo dos cinco anos; e registro civil de óbitos.
No indicador mortalidade adolescente (entre 10-19 anos, a cada 100 mil habitantes), o país aparece como “intermediário”; e, no registro civil de nascimento, “avançado”.
Professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Simone Diniz ressalta no entanto que os dados do relatório global possivelmente não captam tendências preocupantes observadas em anos mais recentes.
Um relatório de 2018 da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) indicou, por exemplo, que após um período consistente de declínio na mortalidade no primeiro ano de vida, 2016 já apresentou uma reversão desta queda.
Em relação a 2015, houve aumento em 2016 da mortalidade pós-neonatal (dos 28 aos 364 dias de vida) em todas as regiões do país, com exceção do Sul. O maior aumento foi observado no Nordeste, onde o coeficiente de mortalidade pós-neonatal passou de 3,8 por 1.000 nascidos vivos em 2015 para 4,2 em 2016.
“Enquanto a mortalidade perinatal é mais influenciada pela assistência em saúde, a pós-neonatal é mais sensível às condições socioeconômicas (da família). Observamos uma tendência do aumento da proporção das mortes pós-neonatal, o que vai ao encontro da crise econômica, queda de renda, aumento do desemprego e desigualdade observados nos últimos anos no país”, explica Diniz, integrante do Grupo Temático Gênero e Saúde da Abrasco.
A pesquisadora destaca que, no contexto atual de pandemia, o país está assistindo à volta de situações que tinham ficado para trás, como por exemplo a não recomendada “alta” — ou liberação — de consultas de pré-natal e a peregrinação por leitos, transferidos para tratamento de covid-19, no trabalho de parto.
O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Imunizações também estão preocupados com a queda da cobertura vacinal em meio à emergência da covid-19 — por conta disso, a sociedade lançou a campanha “Vacinação em dia, mesmo na pandemia” com orientações para a imunização neste período.