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Publicado como editorial da Cadernos de Saúde Pública na edição de Outubro deste ano (vol.30 no.10/2014), o artigo “EpiVix: epidemiologia brasileira em transição” traz um panorama desse campo da Saúde Coletiva a luz das atividades e dos debates promovidos durante o IX Congresso Brasileiro de Epidemiologia, realizado entre os dias 07 e 10 de setembro, na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo.

Carinhosamente chamado de EpiVix, o congresso reuniu mais de 200 convidados, entre pesquisadores nacionais e estrangeiros, e cerca de 3 mil delegados para debater os diversos aspectos do conhecimento epidemiológico e resultados de importantes estudos realizados nos últimos anos.

No artigo, Guilherme L. Werneck, professor adjunto do departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj) e atualmente coordenador da área de Saúde Coletiva da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), destaca que o congresso jogou foco nas necessidades de maior articulação da Epidemiologia com as outras disciplinas constitutivas da Saúde Coletiva, e de superar um certo hiperprodutivismo de artigos e revisões bibliográficas – “sem inovação ou originalidade e com capacidade limitada de se traduzir em transformações sociais”. O texto dialoga diretamente com outro editorial da CSP, intitulado “Mais do Mesmo“, publicado no ano passado e assinado pelas editoras do periódico.

Para o autor, que também é editor associado da CSP, “sem uma abordagem integrada que permita o fortalecimento das suas bases disciplinares e, simultaneamente, expressar seu compromisso com o aprofundamento do caráter interdisciplinar da Saúde Coletiva, não há futuro promissor para a epidemiologia brasileira.” Confira abaixo o artigo na íntegra ou leia diretamente na página do periódico no SCiELO.

“A recente realização do IX Congresso Brasileiro de Epidemiologia em Vitória, Espírito Santo, Brasil (EpiVix 2014) propicia reflexões sobre o desenvolvimento da epidemiologia brasileira e seus desafios. O EpiVix se destacou na tarefa de valorizar a história dos congressos de epidemiologia, prestando as devidas honras aos que se dedicaram a organizar os congressos anteriores dos quais este é legítimo subsidiário. Emblemática, nesse sentido, a criação da Conferência “Sergio Koifman”, Presidente do Congresso de Epidemiologia do Rio de Janeiro (1998), grande pesquisador e figura humana notável, que nos deixou precocemente.

Esse congresso foi um marco para a epidemiologia brasileira. A começar pela atualidade de seu tema: As Fronteiras da Epidemiologia Contemporânea: do Conhecimento Científico à Ação, reforçando o caráter científico da epidemiologia e sua conformação como um âmbito de práticas. A estrututação das atividades do congresso salientou um dos grandes desafios atuais da epidemiologia: conjugar o aprimoramento teórico-metodológico com uma maior e mais profícua articulação com as outras disciplinas constitutivas da Saúde Coletiva. Sem uma abordagem integrada que permita o fortalecimento das suas bases disciplinares e, simultaneamente, expressar seu compromisso com o aprofundamento do caráter interdisciplinar da Saúde Coletiva, não há futuro promissor para a epidemiologia brasileira.

Dentre tantos desafios passíveis de serem elencados, esse parece fundamental, justamente pela aparente dualidade dos movimentos necessários para superá-lo. No campo teórico-metodológico avançou-se muito, talvez mais no que diz respeito à disponibilidade e incorporação de ferramentas e técnicas, do que no desenvolvimento de concepções teóricas que fundamentem abordagens analíticas de fenômenos complexos de forma mais sistêmica. Nesse desbalanceamento reside o risco (para não fugir do jargão epidemiológico) de uma estagnação hiperprodutiva, isto é, a produção desenfreada de peças publicáveis sem inovação ou originalidade e com capacidade limitada de se traduzir em transformações sociais. No que tange às tensas relações entre a epidemiologia, políticas, planejamento e gestão em saúde, e ciências sociais e humanas em saúde, penso ser necessário, sem ignorar uma perspectiva histórica para este problema, a identificação e o enfrentamento de novas fontes de esgarçamento que, eventualmente, poderão afetar o próprio futuro da epidemiologia como espaço de construção de saberes e práticas no âmbito da Saúde Coletiva.

É claro que os vetores que fomentam tais questões não residem somente nos dilemas históricos que influenciaram a própria formação e desenvolvimento da epidemiologia, mas também estão no contexto em que as práticas estão inseridas. O produtivismo acrítico e conservador em suas bases teóricas e metodológicas, ou “o mais do mesmo” (Carvalho MS et al., Cad Saúde Pública 2013; 29:2141-3), encontrará raízes também nas estruturas de avaliação de pesquisadores e programas de pós-graduação que não lograram ainda um meio de valorizar a qualidade em detrimento da quantidade, e na própria dinâmica da formação pós-graduada que, no mais das vezes, contribui para a reprodução destes vícios.

Jogar luz nessas questões foi o principal legado do EpiVix, resta-nos aproveitar o momento para buscar soluções e instaurar as transformações necessárias para garantir a formação de uma geração que promova um novo ciclo virtuoso para a epidemiologia brasileira”.

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