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Cuidado de crianças com deficiência na Atenção Básica é discutido no 12º Abrascão

A palestra “Triangulação de estratégias para o cuidado da criança com deficiência na Atenção Básica: pesquisa, intervenção e formação em foco”, apresentada pela psiquiatra e pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) Darci Neves dos Santos, na sexta-feira (27/7), durante o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2018), trouxe para discussão o cuidado prestado às crianças com deficiência na Atenção Básica.

Com coordenação da pesquisadora Fernanda dos Reis Souza, também do ISC/Ufba, a palestra apresentou os objetivos, metodologia e alguns resultados do projeto de pesquisa desenvolvido em Salvador, capital baiana, com uma proposta triangular envolvendo três eixos: a pesquisa, com investigação epidemiológica; a intervenção na atenção básica, paralelamente à pesquisa, para melhoria das condições das crianças afetadas e seus cuidadores; e de capacitação, por meio de uma residência multiprofissional em saúde.

Diante do aumento dos casos de microcefalia no Brasil, o projeto se propôs a pensar estratégias de enfrentamento da iniquidade no desenvolvimento infantil de modo a possibilitar o desenvolvimento do potencial humano pleno das crianças acometidas pela SZC, entendendo que o desenvolvimento pleno implica três elementos fundamentais – ambiente familiar, vizinhança e comunidade – e que intervenções realizadas em crianças de 0 a 3 anos apresentam maior efetividade.

Tomando como base a realidade das crianças diagnosticadas com Síndrome da Zika Congênita (SZC), algumas questões motivaram a reflexão: quais as consequências desenvolvimentais e de saúde mental para essas crianças; que respostas imediatas e de longo prazo são esperadas da rede pública de cuidados; quais as lacunas de conhecimentos colocadas nesse contexto; e como viabilizar um cuidado contemporâneo e com acesso universal a essas crianças e suas famílias.

No âmbito da investigação epidemiológica, foi realizado um estudo de coorte prospectivo, entre julho de 2015 e junho de 2016, quando 553 casos de microcefalia foram notificados no município de Salvador, dos quais 22,6% foram confirmados por diagnóstico de imagem para SZC. Assim, foram constituídos dois grupos: os expostos, do qual participaram 166 crianças e familiares; e o de controle, com 100 crianças, chamadas de típicas, e os grupos foram comparados de acordo com uma série de critérios relacionados ao desenvolvimento, como domínio cognitivo, linguagem receptiva e linguagem expressiva e desenvolvimento motor refinado e amplo.

O componente da intervenção consistiu de diversas ações, como oferta de estimulação do desenvolvimento infantil para a díade cuidador-criança; promover apoio psicológico regular para os familiares; aproximar as questões do desenvolvimento psíquico das práticas habituais de acompanhamento em saúde e crescimento; estruturar um diálogo a partir da noção integrada de desenvolvimento infantil para articular creches e unidades de assistência social do território, inclusive para a inclusão social dos sujeitos; e construir conteúdos interdisciplinares que viabilizem essa prática integrada na Atenção Básica.

No que concerne à formação de recursos humanos, foi realizada, em 2017, uma oficina para capacitação de profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador e criada a Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva com ênfase na Primeira Infância no contexto do Zika Vírus, reunindo profissionais de psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, enfermagem, saúde coletiva e serviço social.

Segundo a pesquisadora, a epidemia de Zika teve um ponto positivo, que foi conferir visibilidade ao problema da deficiência no país, sobretudo para pensar a lacuna sobre o papel da Atenção Básica. Para Darci, o cuidado com a deficiência não pode se resumir aos serviços especializados. “Se a deficiência é algo que não acaba em um ano ou dois e o que está colocado para ela é que o melhor é a inclusão social, nós precisamos encontrar uma forma para que esse sujeito exista e funcione. Para isso, é necessário articular saúde, educação e assistência social no território”, concluiu ela.

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