Neste fim de ano, a Abrasco organizou uma série de painéis para debater extensão universitária, uma das pontas do tripé na formação de nível superior, e seu processo de composição dos currículos dos cursos, em especial, da Saúde Coletiva. As atividades foram transmitidas como parte da programação Ágora Abrasco, e estão disponíveis para quem quiser assistir na TV Abrasco.
Segundo Pedro Cruz, diretor da Abrasco e professor da UFPB, o intuito foi “explorar as diferentes potencialidades e contribuições do processo de extensão para a formação na área de Saúde Coletiva, bem como evidenciar experiências inovadoras e seus apontamentos no sentido de metodologias, dimensões pedagógicas e perspectivas educativas”
O primeiro encontro aconteceu em 29 de novembro, com o tema “Curricularização da Extensão na Saúde Coletiva: quais princípios ético-políticos?”. Humberto Tommasino trouxe referências de Paulo Freire, para pensar o vínculo entre educadores e comunicadores populares e a universidade: “Precisamos de um processo de construção de hegemonia das universidades, e fortalecer o vínculo orgânico com os movimentos sociais. Se não, tudo o que debatemos não vai acontecer, será só um exercício intelectual. Somos fundamentais protagonistas desse processo popular”, defendeu.
Já no dia 6/12, o tema da sessão foi “Aprendizados e legados de experiências históricas da curricularização da extensão na Saúde Coletiva”. As contribuições da Educação Popular em Saúde marcaram a sessão, trazidas nas falas de Eliana Cyrino, que falou da vivência da Faculdade de Ciências Médicas (depois, de Medicina), de Botucatu, no interior de São Paulo, atualmente integrada a Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) , e a Eymard Vasconcelos, que falou das experiências vivenciadas na extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O terceiro painel aconteceu no dia 8 de dezembro e debateu os caminhos e desafios de experiências atuais da construção da curricularização da Extensão na Saúde Coletiva.
Dentre as participações, Adalberto Floriano Greco Martins Pardal, da direção do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Rio Grande do Sul (MST-RS), refletiu sobre a importância de não se anular a possibilidade de que os alunos sejam também sujeitos do processo educacional. “É por isso que olhamos algumas experiências de curricularização que se resumem a oficinas, capacitações e seminários. Coisas muito pontuais. Nessa ideia, de que temos apenas o que oferecer, essas pessoas se tornam objetos, não sujeitos do processo.”
A última sessão, realizada em 15/12, chegou a uma importante conclusão: apesar de ainda pouco valorizada pelas congêneres nacionais, ações de extensão e integração de pesquisa e comunidades têm sido cada mais exigidas pelas agências internacionais de fomento. “Essas agências estão valorizando desde a base projetos que tragam a perspectiva da pesquisa-ação, isso é uma novidade”, ressltou a professora do ISC/UFBA Leny Trad.
Para ela, movimentos sociais têm sido cada vez mais presentes em bancas e atividades do meio acadêmico. Ainda que esse troca não seja fácil, dado o viés positivista muito forte da academia, o novo ativismo contemporâneo tem abalado essa torre de marfim. “Há muito que a ciência precisa aprender com o outro”.
Na mesma leitura, Rachel Moura destacou as léguas que faltam para a devida valorização da extensão, que não é contabilizada nas méticas acadêmicas e não conta como prática científica par os orgãos de fomento. “Extensão não é mera trivialidade. Precisamos nos reconhecer como trabalhadores da universidade e articular novas inserções do nosso fazer com a comunidade”.