A volta das atividades escolares tem sido sinalizada em alguns estados do Brasil, despertando a preocupação de educadores, sanitaristas, estudantes e familiares. Mais do que uma medida que diga respeito à comunidade escolar, ela impacta toda a sociedade e requer medidas de controle sanitário, rastreamento e testagem de casos. Além disso, educadores apontam que o retorno deve lidar com o momento da pandemia como algo determinante da vida e do presente, e não só focar em conteúdos. Para debater a questão, a Ágora Abrasco reuniu educadores, gestores e sanitaristas no colóquio “Covid-19 e o retorno às aulas: condições e possibilidades”.
Papel da educação na crise
Com coordenação de Regina Flauzino (Abrasco e ISC/UFF), a sessão reuniu quatro expositores da área da educação.
“Qual será o papel da educação numa crise profunda como a que estamos?”. A pergunta colocada por André Lázaro (FLACSO) remete aos mais diversos debates sobre o papel da escola em nossa sociedade. O Educador destacou a importância da escola pública no país e o seu lugar na sociabilidade das comunidades. Visão esta que foi reforçada na fala de Thereza Marcílio, (Presidente da Avante-Educação e Mobilização Social), que apontou que o menor dos problemas no momento está na questão do conteúdo que não foi dado. Para ela, “escola é muito mais que cumprimento curricular. É laço, incorporação de valores, é troca de experiência”. Thereza ressaltou ainda que, além de termos ficado sem Ministro da Saúde durante a pandemia, a pasta da educação sofreu três trocas e muitos problemas.
A necessidade de mapeamento de todos os que frequentam as escolas, além daqueles que têm contato com pessoas da comunidade escolar, foi apontada como uma necessidade para um retorno seguro. O debate açodado sobre o tema tem causado ainda mais ansiedade e danos à saúde mental dos professores, como apontou o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio), Afonso Celso. Além disso, o diálogo, no momento inexistente, entre as autoridades de saúde e educação são essenciais para que se tenha medidas seguras.
A exclusão ampliada pela pandemia foi o centro da fala do presidente do Conselho estadual de Educação da Bahia, Paulo Gabriel Soledade Nacif. Para o professor, “se não colocarmos a educação como prioridade efetiva das construções sociais nos territórios, vamos transformar a tragédia da pandemia numa tragédia de longo prazo”.
Após a exposições dos educadores, o debate foi aberto para participação de especialistas na área da saúde dialogarem com as falas dos educadores. .Guilherme Werneck e Naomar Almeida Filho, vice-presidentes da Abrasco, apontaram a importância dos sanitaristas terem essa escuta com os educadores. Guilherme ressaltou a importância de mais debates desse tipo para que profissionais e gestores entendam o ponto de vista de quem está na escola. Já Naomar indicou a necessidade de o Plano Nacional de Enfrentamento à Pandemia, elaborado pela Frente Pela Vida, incorporar aa questão da educação, “principalmente para dar um exemplo contrário à absurda desarticulação dos planos de saúde e educação”.
Também estiveram presentes como debatedores Estela Aquino, Ingrid D’Avila, Ricardo Heinzelmann, Luli Süssekind, Carlos Silva, Isabel Quadros, Bárbara Salvaterra, Geraldo Lucchese, Reinaldo Guimarães, Anaclaudia Fassa, Claudio Maierovitch, Claudia Lopes e Ana Garcia.
Assista a íntegra do colóquio na TV Abrasco: