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Curso mobiliza troca de saberes entre academia e movimentos no nordeste

Bruno C. Dias com informações de Raquel Dantas, da Cáritas Regional Ceará/RESSADH

Potencializar repertórios e saberes em prol do bem viver das comunidades, dos povos e de seus territórios é a missão do curso misto de aperfeiçoamento e de especialização em Educação Popular e promoção de territórios saudáveis na convivência com o semiárido, lançado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 07 de janeiro deste ano. Organizado pela Articulação Nacional de Movimentos e Práticas em Educação Popular e Saúde (ANEPS) e pela Rede Saúde, Saneamento, Água e Direitos Humanos (RESSADH), o projeto é coordenado pela Fiocruz Ceará e tem financiamento do Ministério da Saúde através da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP). A atividade conta também com o envolvimento profissional e militante de abrasquianos dos grupos temáticos Saúde e Ambiente (GTSA/Abrasco) e Educação Popular em Saúde (GTEdPop/Abrasco).

Um dos principais objetivos da formação é contribuir para a implantação de políticas públicas do SUS que dialoguem e fortaleçam as populações envolvidas, como a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEP-SUS), lançada em 2013, e a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCFA), criada em 2011.

O curso é dividido em três unidades de aprendizagem: Educação Popular em Saúde no Contexto do Semiárido; Diálogos e intervenções nos territórios; e Políticas públicas e sistematização de ações afirmativas em Educação Popular em Saúde e Convivência com o Semiárido nos Territórios. Para um tema e uma turma tão especiais, uma metodologia adequada: cada unidade conta com o tempo-escola, quando são desenvolvidas as atividades pedagógicas presenciais – e com o tempo-comunidade, momento em que os educandos elaboram seus projetos de intervenção, tanto para os/as cursistas do Aperfeiçoamento como para os/as educandos/as da Especialização – para esses, o projeto constitui-se como Trabalho de Conclusão de Curso. Além das unidades de aprendizagem, o projeto inclui 5 encontros regionais e 1 encontro interestadual para promover o intercâmbio das experiências que serão realizadas pelas educandas e educandos nos territórios.

A  turma conta com 77 educandas e educandos, oriundos dos territórios onde a ANEPS e RESSADH desenvolvem trabalhos de redução de impactos socioambientais e de monitoramento contra a violação de direitos humanos, como Fortaleza, Sobral, Sertão Central, Cariri e Vale do Jaguaribe/Litoral Leste, no Ceará, e da região Oeste do Rio Grande do Norte.

Para a coordenação do curso é importante que a formação seja incorporada de fato pelo SUS, abrindo pontes de diálogo e ação com outros sujeitos de fora do setor da saúde. “Se eu estou numa área que é atingida pelo uso de agrotóxicos, e isso tem prejudicado a saúde das pessoas, como é que os movimentos do campo da saúde e da educação popular se juntam com os movimentos que lutam contra os agrotóxicos, que lutam pela agricultura familiar e agroecológica, para que a gente construa possibilidades de um caminho de viver mais saudável?”, exemplifica Vera Lúcia Dantas, médica sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, doutora em Educação e integrante da coordenação do curso e do GT EdPop/Abrasco.

Na perspectiva da prevenção, promoção e vigilância da saúde, a expectativa é que o curso contribua com o desenvolvimento de estratégias que visem à incorporação das experiências e práticas de Educação Popular na atenção básica, com enfoque em temas como água, agroecologia e saneamento, ressalta Ana Cláudia Araújo, pesquisadora da Fiocruz Ceará, também da coordenação do curso e associada Abrasco. “A riqueza desse processo se dá por esse diálogo entre as áreas e também por toda a construção coletiva que foi feita desde o início”.

Já Fernando Carneiro, docente do Mestrado em Saúde da Família da Fiocruz Ceará, coordenador do Observatório da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, Floresta e Águas – Teia de saberes e práticas (Obteia) – e integrante do GTSA/Abrasco, destaca a  importância  histórica do curso. “É fundamental a articulação dessas redes, movimentos e instituições que já possuem muitas convergências, sendo a saúde e a agroecologia elementos importantes para a promoção de territórios mais saudáveis e justos. No atual contexto político, potencializar essas temáticas nos exige mais união, criação e animação para nossos corações, mentes e corpos”. Entre os materiais utilizados no curso está o livro “Campo, Floresta e Água — práticas e saberes em saúde”, disponível para download. 

 

 

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