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Debater em meio à crise: Hermano Castro avalia participação da ENSP/Fiocruz no Abrascão

Vilma Reis com informações do Informe ENSP

Para o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Hermano de Castro, o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva é um termômetro para se medir a saúde pública no Brasil. Se assim é, a temperatura certamente subiu depois dos cinco dias de intensos debates do 11° Abrascão, como é conhecido o congresso devido ao seu tamanho e importância. Em meio a greve dos servidores da Fiocruz, a ENSP marcou presença no evento, em Goiânia, com cerca de 200 pessoas, entre pesquisadores, alunos, profissionais de saúde e de comunicação. A cobertura do congresso já começou a ser publicada em nosso informe e na página da Escola. Para fazer um balanço da participação da ENSP no Abrascão, Hermano Castro conversou com o Informe ENSP.

Informe ENSP: Hermano, como você avalia a realização desse Abrascão no atual contexto político em que a todo momento surgem ameaças as conquistas da Reforma Sanitária, de um sistema de saúde universal, integral e equânime ?

Hermano Castro – A importância do Abrascão, nesse momento, é fundamental. A aparente crise pela qual o país passa está impactando o sistema de saúde. Hoje, com a proposta de cortes tanto na saúde quanto na educação, certamente teremos consequências enormes nas ações de saúde nos próximos anos, em todos os campos: na atenção básica, na rede, na formação, nas pesquisas. Principalmente quando a gente fala de Fiocruz, teremos impactos em várias das atividade que serão reduzidas em função da falta de recursos e investimentos que, na verdade, deveriam aumentar.

Informe ENSP – Como o atual contexto influenciou as discussões do congresso e como a ENSP se colocou nos debates ?

Hermano Castro – Durante o Abrascão, houve reflexão e debate sobre o campo do planejamento, da gestão, dos estudos epidemiológicos, da vigilância, entre muitos outros. A ENSP esteve presente em praticamente todas essas discussões. Foi bastante reforçado, dentro do debate, a importância de se lutar por um SUS público e nacional, com uma política de reversão da privatização. Uma outra questão que foi reforçada: a importância da formação e da carreira dentro do Sistema Único de Saúde. Várias mesas abordaram o tema da força de trabalho, do reconhecimento do trabalho no SUS. Os pesquisadores da escola discutiram essas pautas. Questões relacionadas aos grandes estudos epidemiológicos apareceram, como, por exemplo, na apresentação do estudo Nascer no Brasil. Foi discutida a formação médica, as grandes questões ambientais, como as mudanças climáticas. Também foi feito um lançamento do dossiê do agrotóxico agregando mais informações ao que já tinha sido apresentado. Por fim, uma novidade importante foi a presença dos movimentos sociais no Abrascão. A gente espera que isso comece a ser uma marca do congresso e que se possa integrar a academia com os movimentos sociais, trazendo a realidade da nossa população para o debate e a reflexão acadêmica.

Informe ENSP: Também houve uma mesa sobre a Comissão da Verdade da Reforma Sanitária…

Hermano Castro: Sim, houve um debate em que, inclusive, se propôs que haja continuidade ao trabalho dessa comissão, abarcando em seus trabalhos profissionais da saúde que enfrentam, nos dias de hoje, desafios regionais ou até em nível nacional quando se tem, por exemplo, um embate com o sistema do capital, sistema financeiro, ao se publicar estudos que questionam posturas do estado brasileiro sobre a privatização. São defesas em que a comissão da verdade pretende trabalhar.

Informe ENSP: O congresso ocorreu durante um momento de greve da Fiocruz e a Escola toda participou ativamente. Como a questão da greve se fez presente no Abrascão ?

Hermano Castro: a abertura foi um marco. A presença da Fiocruz na mesa foi importante. Muitas das falas reforçaram a questão da carreira, da defesa de uma saúde pública de qualidade. Uma defesa intransigente de uma saúde coletiva que atenda às necessidades da população. Isso foi uma marca na fala dos oradores. Num momento em que a Fiocruz está em greve, em defesa desse SUS, em defesa da Saúde Pública, em defesa de uma carreira digna onde se possa ter melhores condições de trabalho, mais adequadas nos seus processos internos, isso tudo apareceu também na abertura do Abrascão. Vive-se um momento de negociação importante, hoje, com o governo, para que se atenda as revindicações dos trabalhadores da Fiocruz. Não são apenas questões salariais, mas a defesa de uma saúde de qualidade que a população tanto exige. Estamos falando de uma grande quantidade de ações e serviços da Fiocruz, que vão desde a formação de profissionais para o sistema de de saúde, à produção de insumos, fármacos, vacinas, passando por serviços de referência de auto-nível, como o Instituto Fernandes Figueira e o Teias, da ENSP, o Centro de Referencia de Saúde do Trabalhador e tantos outros. O que queremos é reforçar isso, melhorar essa qualidade e acompanhar as mudanças que ocorrem no sistema, sempre para melhor, em processos de acreditação etc. É o que Fiocruz estava colocando lá no debate. Estiveram presentes o sindicato junto e toda a militância da Fiocruz, mostrando faixas durante a cerimônia de abertura exatamente nesse sentido, o de colocar a greve como instrumento legitimo de defesa da saúde no brasil.

Informe ENSP: Para finalizar, quais foram os números da Escola no Abrascão ?

Hermano Castro: nós tivemos a participação de quase 200 pessoas, entre professores e alunos. Isso é uma marca. Circularam pelo Abrascão cerca de 5 mil profissionais de saúde. Entre os cerca de 200 que representaram a ENSP, havia professores, alunos, todos compondo mesas de debates, comunicações orais e palestras. Acho que não teve nenhum departamento da escola que não estivesse presente. A cobertura da equipe de comunicação também foi total. Onde havia profissionais da escola, inclusive alunos, estiveram presentes nossos repórteres e fotógrafo para que, agora, pudéssemos refletir sobre o que foi apresentado lá. É esse o papel da comunicação: retornar para Escola a informação que está nos debates para que possamos refletir e continuar a desenvolver as nossas atividades dentro da saúde pública. O Abrascão é um termômetro da saúde pública no Brasil e certamente existem desdobramentos pós-abrascão que vão, em muitas áreas, produzir mudanças de comportamentos, de projetos, dentro do sistema único de saúde.

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