“Quem me dera ouvir de alguém a voz humana que confessasse não um pecado, mas uma infâmia” Com o poema de Fernando Pessoa, Joice Berth iniciou as reflexões do último Grande Debate do 4º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde., realizado na última quinta-feira (26). Junto a Joice, Cida Bento, e Christian Dunker foram os convidados da sessão, pensada como espaço de reflexão sobre as reais possibilidades de um Brasil sem infâmia e uma nova sociabilidade no pós-pandemia. A sessão foi coordenada por Rosana Onocko, psicanalista e presidente da Comissão Científica, e teve transmissão pela TV Abrasco.
Para Joice Berth, sonhar com uma sociabilidade sem infâmia talvez não seja possível neste exato momento que vivemos, mas é sim necessário. “Eu, como mulher negra, não posso deixar de considerar que o racismo é uma dessas infâmias, uma tremenda de uma desonra para um país”. Segundo a arquiteta e colunista da Revista Elle Brasil, as eleições passadas evidenciaram nossa omissão em relação aos nossos principais problemas e infâmias sociais.
O caminho para um novo horizonte, entretanto, requer um olhar atento e reparador sobre nossos próprios erros enquanto nação. “É preciso que a gente sonhe e vislumbre um novo padrão de sociabilidade. Contudo, isso não será possível sem resolver os efeitos nefastos da socialização que naturaliza as opressões estruturais”, conclui.
Para o psicanalista e colunista da Revista Cult, Christian Dunker, sempre que há o esgotamento de uma política e a necessidade de renovação, passamos por um momento de autotransformação, de pensamento, de reflexão, mas que, desta vez, passou despercebido. “Houve uma falta da capacidade de renovação ética em relação a determinada moralidade, uma falta de organização ética no momento em que ela se torna crítica, que precisamos enfrentar as nossas diferenças financeiras, sociais e políticas. Neste momento nos mostramos falhos.”, afirma.
Esse momento de reflexão proposto por Dunker foi abraçado pela psicóloga e ativista Cida Bento, que chamou a atenção para um ciclo de repetição da história que vem exatamente da falta de análise do nosso próprio passado. “Vivemos em um país que tem pouco mais de 500 anos e quase 400 anos foi de escravidão negra, cujo o principal trabalhador era o negro escravizado. Trago essa questão pois essa é uma herança que faz com que os negros estejam na condição que estão hoje, até se a gente analisar a realidade dessa população em relação à Covid-19”, avalia a psicóloga.
Para os convidados, existe um consenso na concepção de que um futuro sem desonra exige uma socialização acolhedora e menos discriminatória. Isso passa intrinsicamente por uma reflexão profunda sobre nossos atos e nossa história enquanto uma nação. Acesse aqui ou assista pelo player abaixo.