Pesquisar
Close this search box.

 NOTÍCIAS 

Declaração final do 17º Congresso Mundial de Saúde Pública

Comunicação Abrasco

Plenária do 17º WCHP | Foto: Divulgação



De 2 a 6 de maio, aconteceu o 17º Congresso Mundial de Saúde Pública (WCHP), em Roma. Confira a tradução da carta final do evento, aprovada por milhares de trabalhadores e pesquisadores da saúde, de todo o mundo. 

Um mundo em turbulência: oportunidades para focar na Saúde Pública 

O surgimento de um novo coronavírus, em 2019, mudou nosso mundo de maneiras que poucos poderiam imaginar. O vírus logo se espalhou para quase todas as partes do mundo. Milhões de pessoas morreram, a vida cotidiana paralisou e os governos tomaram medidas antes inimagináveis. Esses eventos reverteram melhorias de longa data na saúde global, impactando principalmente os grupos sociais que já estavam em desvantagem.

A pandemia de Covid-19 é uma manifestação do que tem sido chamado de sindemia: múltiplos fenômenos interconectados representam ameaças sem precedentes à saúde em todo o planeta. O aquecimento global está mudando nosso mundo, gerando escassez de água, expandindo desertos e causando eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes – como furacões, ondas de calor e inundações. Conflitos e guerras, muitas vezes motivados pela busca por controle de recursos naturais valiosos e por aumento do poder geopolítico, estão devastando comunidades inteiras. A escassez e insegurança alimentar, o deslocamento de populações e a perda de biodiversidade criam as condições ideais para que novos microrganismos surjam e se espalhem. Pela primeira vez na história, a atividade humana está ameaçando a sobrevivência de nossa própria espécie.

A pandemia da Covid-19 lançou luz sobre as fragmentações profundas que enfraquecem nossas sociedades. Sempre há aqueles prontos para explorar uma crise: os oportunistas, oficiais corruptos e comerciantes da desinformação. Enquanto a maioria dos políticos e da mídia comemoram a riqueza crescente, ignoram aqueles que ficam para trás. As pessoas de fato invisíveis, com vidas precarizadas, pertencentes a grupos sociais – definidos por gênero, idade, sexualidade, etnia ou situação migratória –  que não acessam os direitos que acreditávamos universais. 

A pandemia revelou muitas fragilidades institucionais. Isso ficou especialmente nítido em acordos multilaterais, comerciais e financeiros – como o TRIPS – que protegem os monopólios de patentes e deixam muitos países do sul global incapazes de se beneficiar de inovações, como as vacinas recém-desenvolvidas. 

A infodemia durante a pandemia – o aumento da desinformação e difusão de fake news, assim como as  interpretações incorretas de informação sobre saúde – impactou negativamente a saúde mental das pessoas, aumentou a hesitação vacinal e atrasou os cuidados em saúde.

Nosso mundo está em turbulência. No entanto, ainda há oportunidades. A pandemia trouxe, apesar de tudo, motivos para otimismo.

A comunidade científica encarou o desafio, trabalhando  de forma unificada para entender a crise sanitária. Os profissionais de saúde pública forneceram orientações sobre medidas preventivas e compartilharam informações sobre como responder à doença, à medida que se espalhava globalmente. Sistemas de vigilância e rastreamento de contatos de alta qualidade foram implementados, com sequenciamento genético que nos permitiu rastrear a pandemia em tempo real. Os ensaios clínicos passaram do projeto para a prática em poucos dias, fornecendo evidências vitais sobre o que funcionou e o que não funcionou. Vacinas inovadoras foram desenvolvidas em tempo recorde. Os profissionais de saúde, muitas vezes lutando contra a doença e a exaustão, redesenharam os modelos de atendimento, enquanto muitos outros trabalhadores essenciais de educação, assistência social e logística encontraram novas formas de trabalhar.

Essas oportunidades, e a esperança que elas significam, apareceram fortemente no 17º Congresso Mundial de Saúde Pública (WCPH), organizado pela WFPHA, ASPHER e SItI, e oferecem à comunidade global de saúde pública a possibilidade de união para buscar um futuro digno para todos. 

Primeiramente, fomos lembrados da importância de promover a equidade. Como profissionais de saúde pública, devemos sempre lembrar que nosso papel é ouvir as pessoas vulnerabilizadas, marginalizadas e discriminadas.

Em segundo lugar, percebemos que agir é urgente. Estamos atingindo pontos críticos, tanto na vulnerabilidade à rápida transmissão global de doenças infecciosas, quanto nos impactos da crise climática, manifestada no derretimento das calotas polares e no risco de perder as florestas tropicais. Não podemos mais demorar. Como humanidade, devemos desenvolver novos relacionamentos e formas de trabalhar uns com os outros e com a natureza, com quem compartilhamos este pequeno e vulnerável planeta. É preciso construir relacionamentos a partir da nossa interdependência, com soluções equitativas e sustentáveis ​​para as gerações futuras

Em terceiro lugar, vimos que, mesmo nas crises mais graves, nem todos estão do mesmo lado. Muitos de nossos problemas atuais decorrem do uso do poder para satisfazer interesses financeiros e políticos de grupos específicos. Esses grupos trabalharam duro para garantir que não sejam responsabilizados, num sistema de governança global enfraquecido. A comunidade de saúde pública não pode deixar de lutar para expor e combater aqueles que usam seu poder para ameaçar a saúde.

Em quarto lugar, nós fomos lembrados da importância da paz, que, conforme Ottawa Charter destacou, é um pré-requisito fundamental para a saúde. A escala de sofrimento humano criada pelos conflitos contemporâneos deve levar a uma nova ordem internacional que possa responsabilizar os agressores e prevenir futuras disputas. Isso é mais importante do que nunca, pois alguns países retrocederam no que tange a redução da ameaça nuclear.

Em quinto lugar, nós temos que aproveitar as oportunidades apresentadas pelo progresso científico. Isso inclui avanços tecnológicos em medidas preventivas, vacinas, tratamentos e também a revolução digital, que permite novos métodos para reunir, sintetizar e utilizar dados de forma correta, evitando abusos que podem levar à violação de privacidade e desinformação.

Em sexto lugar, devemos combater as informações falsas sobre saúde e seus determinantes. Os efeitos da infodemia e da desinformação podem ser combatidos “desenvolvendo políticas legais, criando e promovendo campanhas de conscientização, melhorando o conteúdo relacionado à saúde nas mídias de alcance massivo e aumentando a alfabetização digital e a literacia em saúde das pessoas”, segundo a OMS.

Em sétimo lugar, gostaríamos de enfatizar o papel essencial dos agentes de promoção da saúde na busca para atingir as metas de saúde e em todas as políticas, como parte indispensável da abordagem interdisciplinar e multissetorial. Damos especial atenção à promoção da saúde e à construção de ambientes físicos e sociais que proporcionem comportamentos saudáveis, moradia  segura e o acesso adequado aos cuidados de saúde.

Por fim, a natureza sindêmica das crises de saúde contemporâneas exige que nós, como profissionais de saúde pública, trabalhemos juntos em todos os setores, buscando oportunidades para obter benefícios para todos, e melhor enfrentar os desafios atuais. Esta é a única maneira de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, essenciais para a nossa sobrevivência.

Em nível global, nacional ou local, a comunidade da saúde pública esteve intensamente dedicada para resolver as questões de saúde e enfrentar a pandemia de Covid-19. Em serviços de saúde, orientaram as medidas de proteção e prevenção. Nas universidades e institutos de pesquisas, treinaram pessoas e produziram conhecimento essencial para reverter a situação crítica. Em organizações não governamentais, mobilizaram cidadãos e lutaram pela equidade em saúde. Em todos os lugares, sabemos que saúde pública é política.

O 17º WCHP reuniu pessoas de todo o modo para compartilhar experiências, destacar os aprendizados e progressos alcançados, registrar as novas habilidades e focar nas lições aprendidas para o futuro. Além disso, há tanto em jogo que intensificaremos nossos esforços para proteger as pessoas e o planeta, promovendo o conhecimento em saúde, pesquisa, educação e defendendo a paz, a equidade em saúde e o desenvolvimento sustentável.

Leia a carta original, em inglês. 

Associe-se à ABRASCO

Ser um associado (a) Abrasco, ou Abrasquiano(a), é apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, mas também compartilhar dos princípios da saúde como processo social, da participação como radicalização democrática e da ampliação dos direitos dos cidadãos. São esses princípios da Saúde Coletiva que também inspiram a Reforma Sanitária e o Sistema Único de Saúde, o SUS.

Pular para o conteúdo