A professora da faculdade de Saúde Pública da USP, Deisy Ventura, participou na quinta-feira (12) do programa Em pauta da Globonews, abordando as medidas acerca do avanço do coronavírus no país. A professora destacou dois elementos como fundamentais para lidar com situações como a atual: o fortalecimento do SUS com ampliação de seu financiamento; e o respeito para que as decisões sobre as medidas a serem tomadas sejam feitas pelas autoridades sanitárias do país.
Primeiramente, Deisy destacou que o país não será pego desprevenido por possuir um sistema de saúde universal, gratuito e com boa capilaridade: “Muitos brasileiros não sabem que o país é uma referência internacional em termos de sistema de saúde. Temos um dos maiores sistemas em atendimento de pessoas no mundo. É um sistema que atende 200 milhões de pessoas com gratuidade de acesso e cobertura com capilaridade em todo o território nacional.”
O subfinanciamento sucessivo do SUS também foi abordado por Deisy. Ela aponta a necessidade de se pensar o Sistema não somente para momentos de emergência: “tem que pensar no SUS não só pro Coronavírus, mas daqui pra frente e frear o processo que ele vem sofrendo nos últimos anos de subfinanciamento e redução do número de leitos. A gente precisa lembrar das emergências não só durante o período em que elas ocorrem. A saúde pública não é um intervalo entre um susto e outro. A gente precisa ter investimentos constantes para que essa estrutura possa funcionar cotidianamente, inclusive com aspecto fundamental que é a prevenção, a estratégia de saúde da família, a atenção primária à saúde.”
A professora trouxe para o debate também os ataques à educação e pesquisa, que prejudicam todo o sistema de saúde: “O Brasil tem massa crítica em saúde pública. Tem excelentes sanitaristas, excelentes virologistas, excelentes imunologistas… E tudo isso é resultado de um sistema de formação superior, de um sistema de pós-graduação e de um sistema de pesquisa que está sendo atacado e que precisa ser defendido. E o coronavírus é uma ótima situação para as pessoas se darem conta da importância da saúde pública, da importância da educação e da importância de termos profissionais do nível que nós temos. Além disso, é uma questão de soberania, pois se não temos massa crítica aqui, ficamos dependendo dos outros e acaba tendo a tentação de copiar soluções que não são adequadas para nós.”
Por fim, o reconhecimento das autoridades sanitárias e do Ministério da Saúde como agentes que devem das as respostas e indicar as etapas de ação diante da pandemia da Covid-19 é fundamental para toda a população: “Enquanto for o MS e as autoridades sanitárias da saúde que estiverem tomando decisões sobre essa situação, nós podemos confiar. Quando se meterem outros setores do governo, aí temos de começar a ter cautela, porque são as autoridades sanitárias que têm de nos orientar nessa resposta à emergência.”