Em entrevista ao jornalista Stefano Miranda do Jornal do Brasil, o pesquisador da Abrasco e professor da Universidade de Brasília, Pedro Luiz Tauil comentou que “o combate ao Aedes aegypti é muito difícil de ser feito com as armas hoje disponíveis. Além de uma vacina, há necessidade de inovações no combate. Existem três linhas de pesquisa em desenvolvimento: mosquitos transgênicos para reduzir a população dos Aedes silvestres (pesquisa de origem inglesa); mosquitos infectados com uma bactéria (Wolbachia), que não transmitem a doença (pesquisa de origem australiana); mosquitos irradiados por raios gama que tornam os machos estéreis, reduzindo a população de mosquitos. É necessário deixar claro que na ausência de uma vacina eficaz e de um tratamento antiviral, o único elo vulnerável da cadeia de transmissão é o mosquito, portanto o combate a ele é o melhor remédio”.
A matéria, que também conta com a participação da professora associada do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBa), Glória Teixeira, mostra que apesar de números assustadores da Dengue, São Paulo não gasta verba. Confira a íntegra:
Na manhã desta segunda-feira (4), o Ministério da Saúde divulgou os números da dengue no primeiro trimestre de 2015. Os resultados são assustadores. No período entre 1° de janeiro e 18 de abril, foram registrados 745,9 mil casos da doença. Esse número representa um aumento de 234% em relação ao mesmo período de 2014. Ao todo, 229 pessoas morreram em decorrência da doença, 45% a mais do que o último ano.
A situação mais preocupante está na Região Sudeste, com 489.636 casos registrados. Desses, 401.564 apenas no estado de São Paulo. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, o segundo estado com mais casos registrados foi Goiás, com 63.203. Em toda história, São Paulo nunca teve tantos casos registrados
Segundo dados divulgados pelo Portal Contas Abertas, no plano orçamentário “Coordenação Nacional da Vigilância, Prevenção e Controle da Dengue”, apenas R$ 5 milhões foram gastos em 2014. O valor representa menos da metade dos R$ 10,1 milhões autorizados pelo governo federal para a iniciativa.
Para repercutir os números, o Jornal do Brasil conversou com a doutora em saúde coletiva e professora associada do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBa), Glória Teixeira, que explicou que esse alto número da doença registrado em São Paulo se deve muito à crise hídrica vivida pelo estado no começo do ano.
Comparativo dos casos notificados de Dengue
“Em toda a história, São Paulo nunca teve tantos casos registrados, portanto, no estado existe sim uma epidemia. Com o passar dos anos, o mosquito se adaptou ao ambiente urbano e a cada vez se expande mais facilmente. A epidemia está concentrada na Região Sudeste. Por mais que tratemos o ambiente do mosquito, nossas cidades estão criando inconscientemente possíveis criadores. A crise hídrica, ao contrário do que muitos pensam, piora a situação do mosquito, pois as pessoas armazenam água, e muitas vezes isso é feito de maneira errônea e, consequentemente, isso aumenta a quantidade de criadouros para a fêmea colocar os ovos”, explicou Glória.
Em entrevista coletiva após a divulgação do balanço, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que não existe uma epidemia da doença, e que em relação ao balanço de 2013, o número de registros é bem menor. Ainda segundo o ministro, os números desse ano assustam apenas se comparados aos de 2014, ano que registrou uma boa queda nos casos da doença, 48,6% a menos do que este ano.
Glória Teixeira concorda com o ministro se formos nos basear em âmbito nacional. Isso é demonstrado nos números, a grande discrepância entre os casos registrados em São Paulo e nas demais regiões.
“Se falarmos em âmbito nacional, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, está certo, o país não está vivendo uma epidemia, mas o estado de São Paulo sim. Isso está claro. A dengue é uma doença que tem causado uma dificuldade de controle no mundo todo, não só nos países menos desenvolvidos, mas também em países ricos, como é o caso de Cingapura”, comentou.
O JB também entrou em contato com pesquisador da Abrasco e professor da área de medicina social e do programa de pós-graduação em medicina tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, Pedro Luiz Tauil, que lembrou das dificuldades encontradas para a guerra contra a doença, da importância do desenvolvimento de uma vacina e de se criar novas formas de combater o mosquito.
“O combate ao Aedes aegypti é muito difícil de ser feito com as armas hoje disponíveis. Além de uma vacina, há necessidade de inovações no combate. Existem três linhas de pesquisa em desenvolvimento: mosquitos transgênicos para reduzir a população dos Aedes silvestres (pesquisa de origem inglesa); mosquitos infectados com uma bactéria (Wolbachia), que não transmitem a doença (pesquisa de origem australiana); mosquitos irradiados por raios gama que tornam os machos estéreis, reduzindo a população de mosquitos. É necessário deixar claro que na ausência de uma vacina eficaz e de um tratamento antiviral, o único elo vulnerável da cadeia de transmissão é o mosquito, portanto o combate a ele é o melhor remédio”, encerrou Tauil.
Sintomas
Diagnosticar a doença com antecedência é fundamental para o sucesso no tratamento. Para isso é preciso conhecer os principais sintomas.
Existem quatro tipos do vírus: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Ambos os vírus causam os mesmos sintomas. A diferença é que a partir do momento que um paciente pega um dos tipos da doença, ele cria imunidade a ele, ou seja, só se pega Dengue quatro vezes na vida.
Os principais sintomas são: Dor intensa na barriga, sinais de desmaio, náuseas, dor nos olhos, dor nas articulações e febre alta.