Covid-19 e Envelhecimento: panorama em favelas do Rio de Janeiro, colóquio da Ágora Abrasco que aconteceu no dia 9 de setembro, trouxe relatos da experiência de profissionais da saúde em comunidades do Rio de Janeiro, onde os desafios do envelhecimento e da pandemia se recrudescem, em cenários de vulnerabilidades e violências. A coordenação foi de Alexandre Kalache, do ILC-Brasil e do Grupo Temático Envelhecimento e Saúde Coletiva da Abrasco.
Eberhart Portocarrero-Gross, médico de família e comunidade na Clínica da Família Maria do Socorro Silva e Souza, na Rocinha, destacou a importância da Atenção Primária à Saúde, da Estratégia Saúde da Família e da presença dos agentes comunitários de saúde na organização do SUS e que, no início confuso da pandemia, foi necessária ‘muita conversa’ para a reestruturação da clínica e dos fluxos. Em tempos de isolamento, o médico de família apontou ainda a necessidade do acompanhamento atento em situações de violência doméstica e o aumento de casos de tuberculose.
Médica residente em Medicina de Família e Comunidade na Clínica da Família Zilda Arns, no Complexo do Alemão, Caroline Almeida contou da experiência de vivenciar a pandemia em seu primeiro ano de residência, em um território bastante vulnerável, violento e sem saneamento básico e que lidar com pacientes acamados e que dependem de doações para se alimentar é desafiador. “Tenho muito orgulho da minha equipe e da especialidade que escolhi. Precisamos acreditar no SUS e na Medicina de Família e Comunidade”, afirmou.
Uma das preocupações de Antônio Márcio da Silva no início da pandemia foi com a visita aos idosos, por receio de transmissão do novo coronavírus. O agente comunitário de saúde morador de Manguinhos explicou que houve adoecimento de profissionais, sobrecarga, mudança nos fluxos de atendimentos e implantação de sistema de monitoramento. “Não é pandemia, é pandemônio. Aqui temos uma vulnerabilidade gigantesca, tem a questão de violência, mas nossa clínica da família funciona, as pessoas têm como referência”, completou ele, que trabalha na Clínica da Família Victor Valla, instalada no mesmo bairro.
Em seu comentário, Vanja Vormittag, diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, citou a importância das organizações comunitárias e disse ter orgulho dos profissionais que trabalham na linha de frente da Covid-19, principalmente em áreas vulneráveis como favelas. “Agradeço muito pelo aprendizado e peço que façam o registro acadêmico, pois só com relatos e indicadores a gente pode chegar nos gestores e conseguir mudanças”.