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DIA DA MULHER – HOMENAGEM ABRASCO. Entrevista Lilia Blima

Lilia Blima Schraiber 'Saúde do homem em articulação com a saúde da mulher'

 

ABRASCO: Recentemente, postula-se uma política nacional para a saúde do homem. Neste dia em que se comemora a mulher e se debatem questões voltadas à saúde da mulher, você acha importante também comentar sobre a saúde do homem?

LILIA BLIMA: Acho, sim, importante, mas não com uma abordagem isolada desse segmento populacional e, sim, tratando das relações entre homens e mulheres da perspectiva de gênero, que implica na crítica às desigualdades e busca de equidade nessas relações. Em termos da promoção da saúde e recuperação ou prevenção dos adoecimentos, essa perspectiva significa abordar aquelas situações em que agravos à saúde ocorrem em função dessa relação (entre homens e mulheres). Acho, que de imediato, qualquer pessoa se lembra de situações tais como ter filhos, ter relações sexuais e afetivas, e, portanto, ligadas à saúde reprodutiva, saúde sexual e  à vida afetiva e íntima de casal, e ainda as da constituição de famílias. Mas essas relações também ocorrem em espaços públicos, como no trabalho, na escola, nas atividades de lazer, etc. Assim existe um amplo leque de situações relacionais que não são abordadas dessa forma nos agravos que podem ocorrer para mulheres e meninas, mas também para os meninos e homens.

ABRASCO: Se houver a inserção de questões masculinas nesse debate, isso não desviaria a atenção sobre as mulheres?

LILIA BLIMA: Isso só poderia ocorrer se os formuladores da política de saúde, seus  gestores ou ainda os profissionais da saúde desprezassem a mencionada perspectiva de gênero, e valorizassem apenas cada segmento populacional de modo isolado, autônomo, reproduzindo a hierarquia que hoje se conhece e se quer criticar entre homens e mulheres. Ou seja, quando a saúde é pensada em termos das relações sociais e de gênero, sua abordagem, seja voltada para a melhor qualidade de vida ou para assistir os adoecimentos, deve ser relacional, tal como postula a teoria feminista ao criticar as desigualdades de gênero na sociedade. A pretensão de se alcançar a equidade das situações, para homens e para mulheres, na vida pública ou privada, depende de conhecermos melhor e podermos propor mudanças no modo como essas relações foram construídas historicamente e que resultou em desigualdade de poder entre esses dois sujeitos, com valorização social do homem relativamente à mulher.
Compreender e atuar sobre apenas um dos polos dessa relação tem se mostrado insuficiente para mudar a própria relação.

ABRASCO: Em quais questões de saúde especificamente você situa essa necessidade de tratar da saúde do homem?

LILIA BLIMA: Essa é uma questão importante porque alguém até poderia pensar que os homens não foram até hoje alvo de atenção à sua saúde, o que não é fato, em absoluto. O que efetivamente ainda não foi trabalhado é justamente a perspectiva das relações de gênero e nesta a novidade é a de situar a saúde dos homens no âmbito das questões usualmente trabalhadas apenas com as mulheres, como a saúde reprodutiva, por exemplo. Também o contrário é importante, isto é, situar as mulheres em questões usualmente trabalhadas apenas com os homens, como em algumas situações da saúde sexual. Isso sem falar na recente questão trazida para o campo da saúde pelo grande impacto que tem nessa área, que é a da violência contra mulheres. A violência, seja urbana ou doméstica, e entre homens e mulheres, ou dos homens entre si, diz respeito, e muito, a desigualdades de gênero, e, a meu ver, é uma situação dependente dessa abordagem mais relacional para que se proponham políticas e programas mais eficazes na promoção de relações não violentas.

 

 

 

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