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Diálogo, utopia e sensibilidade são fatores-chave para refletir os rumos e desafios da saúde mental

O 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – o Abrascão 2015 – reúne toda a diversidade dos campos da saúde, e a discussão sobre a Saúde Mental foi privilegiada na mesa-redonda Saúde mental e Atenção Psicossocial: novos rumos e desafios, realizada na manhã de 30 de julho. O debate contou com as pesquisadoras Rosana Onocko Campos, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), Elisa Rosa Zaneratto, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Ana Pitta, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA). A mesa redonda foi mediada por Fábio Belloni, da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme).

Rosana Campos apresentou pesquisas que mostram as relações de cuidado entre as pessoas que utilizam os serviços de saúde mental e os profissionais de saúde que os acolhem. “Os usuários confiam nos profissionais, que são chamados de ‘técnicos de referência’ por eles, pois os profissionais dão valor à sua palavra, ou conhecem sua história”. Ela destacou ainda a importância de uma formação profissional que possibilite um trabalho de forma inovadora e responsável, apoiando usuários no processo de retomada de suas vidas.

Outro ponto destacado pela pesquisadora são os diálogos entre psiquiatria e processos terapêuticos. Para Rosana, é evidente a força, em nossa sociedade atual, da medicalização da vida social. “Há uma pressão da indústria para a venda, uma pressão social contemporânea para a felicidade e o sucesso. O estilo de vida atual, as cidades, a solidão propiciam esse quadro, o que marca a mudança de paradigmas do nosso campo profissional. Em 1970, fazíamos política, hoje, faz-se receitas”, observou Rosana.

Contribuindo com a reflexão, Elisa Zaneratto afirmou que é preciso superar a noção de doença mental. A pesquisadora discorreu sobre alguns contextos da saúde mental no Brasil, chamando atenção para a mudança no número de leitos psiquiátricos no país antes e após a Reforma Psiquiátrica. “Em 1983 o Brasil contava com 85 mil leitos psiquiátricos, e cerca de 75% desses leitos eram da rede privada. Atualmente, o país conta com cerca de 32 mil leitos”, afirmou.

Para a professora da PUC-SP, esses dados apontam para os rumos da saúde mental no país. “É preciso criar novas possibilidades do sujeito ser compreendido, precisamos avançar e construir projetos terapêuticos territorializados. Tem-se colocado pouco em pauta o debate da psiquiatria no país”, concluiu Elisa Zanerrato.

Ana Pitta discorreu sobre a ressignificação do trabalho como ferramenta essencial para desenvolver as tarefas cotidianas dento dos serviços de saúde mental. “Os rumos e desafios profissionais estão baseados na utopia, que é um estímulo da vocação de sermos sujeitos amorosos. Estamos perdendo links humano e solidários, usando a ritalina como depósito diário que substitui o afago, o acompanhamento, o interesse”, ressaltou a pesquisadora.

Com base nos autores Zygmunt Bauman e Pierre Lévy, Ana Pitta refletiu brevemente sobre o paradoxo de nossa contemporânea sociedade fluida, que vê o avanço das conexões, das redes da comunicação concomitantemente ao genocídio, ao consumismo e ao neoliberalismo, construindo relações nas quais medo tem predominado, enquanto os laços humanos são fragilizados.

Em sua conclusão, Ana Pitta, que recentemente foi conduzida à vice-presidência da Abrasme, enfatizou a urgência de uma sede de participação e de protagonismo, exigências de uma sociedade mais democrática e aberta ao diálogo. “Temos sede de abraço e uma necessidade de encontros periódicos para atualizar utopias que nos movem”, encerrou a pesquisadora, ressaltando a posição da Abrasme pela convocação da 5ª Conferência Nacional em Saúde Mental, política atualmente descontinuada pelo Ministério da Saúde.

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