Contracepção, gestação, parto e puerpério – como garantir direitos reprodutivos durante a pandemia e para além dela? Este foi o questionamento inicial do painel “Saúde reprodutiva, gestação, parto e nascimento na pandemia de Covid-19”, articulado pelo Grupo Temático Gênero e Saúde da Abrasco. O evento, que aconteceu em 15 de junho – na Ágora Abrasco – abordou as dificuldades das mulheres brasileiras no acesso ao cuidado e informações adequadas. Suzanne Serruya, Ligia Gabrielli, Melania Amorim e Simone Diniz foram as convidadas para debater o assunto, e a coordenação foi de Ana Paula Reis, coordenadora do GT Gênero e Saúde da Abrasco e professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA).
Suzanne Serruya , Diretora do do Centro Latino-Americano de Perinatologia (CLAP), da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) , apontou que, só na região das Américas, existem mais de 15 milhões de mulheres grávidas – que devem ser cuidadas com dignidade e respeito durante a gestação, o parto e o puerpério, independente da pandemia. Outra preocupação é o acesso à contracepção para todas as mulheres em idade reprodutiva, já que o acesso aos métodos anticoncepcionais já são bastante limitados pela desigualdade social. ” Se reduzir 10% do uso de contraceptivos reversíveis de curta e longa duração, durante a pandemia, é possível que tenham 15 milhões de gestações não desejadas adicionais em um ano. Dar autonomia para as mulheres é um dos caminhos que a gente pode e deve seguir durante e depois da pandemia”, afirmou.
Já Ligia Gabrielli, professora do ISC/UFBA e pesquisadora da Rede Covida, sinalizou que, apesar das gestantes serem consideradas grupos de risco à Covid-19, ainda existem poucos dados sobre como o vírus afeta gestantes: “No pré-natal, é importante monitorar desordens hipertensivas, diabetes gestacionais e monitorar o feto. Mas existem poucos estudos sobre transmissão vertical do coronavírus [diretamente da gestante para o feto]. Não está claro se a transmissão viral pode ocorrer nos primeiros meses da gestação, por exemplo, e nem quais efeitos teria. É importante investigar se o vírus pode danificar a placenta, o que ajudaria a compreender se há ou não a transmissão vertical”.
Melania Amorim, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), também falou sobre a falta de dados mais concretos sobre os efeitos que o coronavírus pode ter sobre gestantes: “Hipertensão é a maior causa de morte materna no Brasil, e isso pode estar se somando à Covid-19. Existe até a possibilidade que Covid-19 possa mimetizar alguns casos de pré-eclâmpsia, por exemplo”. Segundo Amorim, é essencial que as gestantes sejam vinculadas a unidades de saúde desde o diagnóstico da Covid-19, para que recebam os cuidados necessários. No Brasil, foram 83 óbitos rastreados de gestantes em decorrência da doença:, e dois foram em casa: “Toda morte materna é uma tragédia ignorada”, afirmou.
Já Simone Diniz, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), pontuou que é preciso incluir os riscos e custos da pandemia ligados às desigualdades sociais – como as inequidades de gênero – nos objetos de pesquisa: “O feminismo veio trazer um elenco de questões para ação e pesquisa: mulheres não são só saúde materno-infantil. Podemos pensar, por exemplo, sobre todo o adicional de trabalho doméstico das mulheres em isolamento. Essa é uma oportunidade da gente problematizar como o trabalho doméstico é distribuído. A pandemia torna evidente o trabalho gratuito que as mulheres fazem em casa”
Assista ao painel completo, na TV Abrasco:
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