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Discurso Isabela Cardoso – Presidente do 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva

Cumprimento a todas, todos e todes que fazem a ABRASCO acontecer, resistir e lutar pela saúde, pela democracia, pela equidade, pelo respeito a diversidade e pela justiça social.  

Agradecemos e saudamos a cada um de vocês: trabalhadores, gestores; professores, pesquisadores, estudantes, representantes dos movimentos sociais, comunidades que integram esse ABRASCÃO.

Sejam muito bem-vindos ao nosso 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Sejam bem-vindos à Bahia e à Salvador, cidade que acolhe e abraça vocês!

A realização desse congresso foi um ato de coragem e ousadia, considerando o contexto atual, e a ocorrência de uma pandemia que provocou uma reviravolta no mundo, e, particularmente, no sistema de saúde, no cotidiano dos serviços e na vida de todos nós. Mas conseguimos chegar aqui! Movidos pela força agregadora do trabalho coletivo. Força que caracteriza a saúde coletiva. A mesma força que, junto com outras forças, resistiu à escalada da extrema direita, lutou contra o negacionismo e a necropolitica que ceifou a vida de mais de 680 mil brasileiros e brasileiras, organizou a resistência ao fascismo e permitiu que nós abríssemos esse Congresso com a alma em festa, inspirada na justiça e na concórdia, como ouvimos na linda composição que abriu essa solenidade.

Construído por muitas mãos e contando com muitos apoios, a conjunção de muitos esforços deu o tom desse ABRASCÃO, tornando-o, sem dúvida, um  ABRAÇÃO. 

Agradeço a Rosana, presidente da Abrasco pela confiança e a cada membro da Comissão organizadora pelo trabalho e dedicação. Agradeço à Secretaria Executiva da Abrasco e à equipe de comunicação da entidade. Agradeço a nossa Universidade Federal da Bahia que apoiou a decisão do ISC de sediar o trabalho da comissão organizadora. Estendo meus agradecimentos às unidades de saúde que estiveram representadas na comissão. Agradeço à Universidade Federal do Recôncavo, à Universidade Federal do Sul da Bahia, e às Universidades Estaduais, parceiras em todos os momentos. Contamos com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde, da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, da Secretaria de Política para Mulheres, da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, e, é claro, da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, do COSEMS, CES, da Fiocruz e da OPAS. Todos contribuíram para que pudéssemos oferecer as melhores condições de realização desse Congresso, com espirito de articulação, integração, defesa de direitos e da democracia, traduzidos no tema central do Congresso – “Saúde é democracia: diversidade, equidade e justiça social

Importante destacar que essa abertura acontece no dia 20 de novembro, data que marca o Dia Nacional da Consciência Negra. Esse também é um ato que reflete o compromisso da Abrasco no combate ao racismo estrutural e a superação da violência institucionalizada contra a população negra em nosso país.

O termo de referência que orientou a construção desse Congresso destaca a escolha proposital do tema em consonância com o discurso histórico de Antônio Sérgio Arouca, em 1986, na abertura da 8ª CNS. Naquele mesmo ano ocorreu o 1º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva presidido pelo Prof. Sebastião Loureiro, nosso saudoso colega e amigo, que destacou, em seu discurso, o papel da Abrasco, que além de contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científico e técnico no campo da saúde coletiva destaca-se pela competência de analisar criticamente certas conjunturas, mobilizar vontades, articular iniciativas e ações políticas que levem adiante um projeto de transformações profundas na saúde e na sociedade brasileira.

Da mesma forma que em 1986, esse Congresso também acontece num momento extremamente importante para o futuro do país. Vencemos uma grande batalha no dia 30 de outubro, garantimos a volta da democracia e agora  precisamos manter viva e atuante a grande frente que se formou em torno do projeto de reconstrução do Brasil.  

Temos um cenário bastante desafiador, sem dúvida, mas estará ausente a dor e a insegurança causadas pelas atitudes antidemocráticas e perversas do governo que se finda, deixando atrás um rastro de destruição: a fome e o desemprego, o desrespeito a ciência, o desmonte da educação pública, o ataque às  universidades, as perdas trabalhistas, o incentivo as atitudes homofóbicas, racistas,  sexistas e excludentes, o desprezo com a vida e a saúde da população brasileira.

Fomos apontados como aqueles que fazem “Balbúrdia”. FIZEMOS! Juntamos muitas vozes, fizemos um barulho danado em defesa dos direitos e da democracia. E vencemos essa batalha! Mas temos outras pela frente!

A justiça social está entre as nossas maiores expectativas em relação ao governo que se inicia em 2023. O resgate da dívida social nunca saiu da nossa pauta. Trata-se de uma luta histórica do movimento sanitário. Não por acaso homenageamos nesse Congresso pessoas que tiveram papel relevante na luta pela democracia, pelo direito à saúde, pela equidade e justiça social. Nomeamos cada sala desse Centro de Convenções com nomes de pessoas que marcaram a história da Saúde Coletiva, pela sua atuação na pesquisa, no ensino e na militância política pelos direitos humanos, pela saúde e pela democracia, incluindo personalidades como Lélia Gonzalez que dá nome a esse auditório.  Todas as pessoas homenageadas continuam muito vivas entre nós.

Quero também destacar e render as nossas homenagens aos membros da geração fundadora desse campo, atuantes e presentes nesse Congresso, incansáveis na luta em defesa da vida, responsáveis por formar novas gerações, representadas nessa conjunção geracional pela ABRASCO Jovem, que vem se constituindo como movimento político e cientifico da juventude da Saúde Coletiva.

Com essa inspiração, entre passado, presente e futuro, fomos definindo o conteúdo desse Congresso buscando contemplar múltiplos olhares nas atividades propostas, tecendo, na diversidade das áreas, de gênero, racial e geracional, uma composição que refletisse o mosaico cientifico, político e militante da Saúde Coletiva brasileira.

Importante espaço foi criado como Mostra Covid com o objetivo de documentar tudo que vivemos na pandemia, diante da qual   intensificamos a produção de conhecimentos, e desenvolvemos experiências exitosas de combate ao vírus e cuidado às pessoas, organizamos a Frente pela Vida, e nos contrapusemos à atuação desastrosa do governo federal face à emergência sanitária. Essa Mostra constitui uma homenagem às quase 700 mil vidas perdidas nessa pandemia, e expressa nosso reconhecimento ao conjunto de trabalhadores de saúde que, apesar de trabalharem em condições precárias, sem perspectivas de obtenção de direitos trabalhistas, continuaram na linha de frente. Perdemos para a Covid cerca de 4500 profissionais de saúde, a maioria mulheres, técnicos e auxiliares de enfermagem, dos quais 2/3 não tinham contrato formal de trabalho. As desigualdades se reproduzem no mundo do trabalho.

Para reerguer esse país e reconstruir o SUS vamos precisar dos trabalhadores de saúde, que precisam ter suas necessidades reconhecidas, e serem valorizados e priorizados na agenda governamental no âmbito federal, estadual e municipal.

Temos muitos desafios pela frente. A saúde coletiva terá um papel importantíssimo na construção desse Brasil que desejamos. Esperamos que os debates travados nesse Congresso iluminem os caminhos com ideias e proposições a serem apresentadas ao novo governo, em espaços onde predomine o diálogo, a defesa dos argumentos e embates políticos civilizados.  A frente que formamos deve manter o vigor, a vigilância e está muito atenta aos desafios que essa caminhada impõe.

Nesse esforço de juntar gente diferente que tem em comum a defesa do processo civilizatório e dos direitos, inauguramos nesse Congresso o ABRASCO em movimento,  estratégia de ampliação das conexões entre a produção científica e a busca de respostas a problemas específicos, com o compromisso de promover a transformação social, através do trabalho conjunto de pesquisadores, docentes e profissionais de saúde, com representantes de populações vulnerabilizadas e com lideranças de movimentos sociais (antes, durante e após o Congresso).

Nossa mobilização não pode parar. As necessidades são muitas. O investimento nas políticas sociais é urgente. É imprescindível revogar a Emenda Constitucional que congela os gastos públicos. O controle social precisa ser fortalecido. Precisamos enfrentar a agenda neoconservadora. Garantir a regulação do mercado e serviços privados no contexto da financeirização.

Que os debates dos próximos 4 dias nesse Congresso iluminem os passos futuros, permitam reinvenções, apontem caminhos e fortaleçam nossa capacidade de encontrar as melhores estratégias para, diante da nossa própria diversidade (de área, de saberes, de posições,etc), avançar naquilo que nos une. Pela negociação, solidariedade e diálogo sempre. Esse é um momento histórico para a Saúde Coletiva, um momento de reafirmação dos nossos pactos em defesa da vida, do SUS, da Reforma Sanitária e da Democracia brasileira! 

Viva a Democracia!

Viva a diversidade!

Viva o SUS!

Viva a Abrasco!

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