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Diverso e unificado, movimento sanitário realiza ato pelo SUS e pela democracia em Cuiabá

As lutas da sociedade adentraram o Teatro Universitário da UFMT na noite de 11 de outubro, imprimindo ao debate científico e reflexivo do 7º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde (7ºCBCSHS) toda a força dos movimentos populares da saúde. No palco, sindicalistas, docentes, trabalhadores do campo, estudantes, pesquisadores, conselheiros de saúde e artistas ecoaram em uníssono “Fora Temer” e “Viva o SUS”, numa demonstração de vigor do movimento sanitário, materializando em vozes, corpos e imagens o pensamento crítico e emancipatório do agir em saúde proposto pela Abrasco.

Uma das primeiras atividades definidas na programação deste 7ºCBCSHS, o ato aconteceu um dia após a aprovação da PEC 241 em primeiro turno na Câmara dos Deputados. A política austera limita os investimentos sociais somente à correção da inflação pelos próximos por 20 anos, infringindo o texto constitucional.

Para Pedro Cruz, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e integrante da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde (CCSHS/Abrasco), essa forma de manifestação está no DNA da Abrasco. “Acreditamos firmemente que o fazer científico precisa estar cotidianamente implicado,  tem de estar mergulhado e encharcado da realidade social e dos problemas do mundo concreto, como disse Paulo Freire. Fazer Ciências Sociais e Humanas em Saúde é construir um compromisso com processos de mudança da realidade no sentido de sua permanente humanização e direcionamento para sociabilidades solidárias, emancipadoras, justas, na geração de saberes, conhecimentos e práticas para o direito à vida com plenitude e dignidade, para todas as pessoas, sem qualquer exceção ou concessão a esse direito”, argumentou Cruz, um dos organizadores do ato.

A atividade foi construída em conjunto com o movimento social cuiabano e mato-grossense, que veiculou o chamado da Abrasco e convocou parceiros. “A saúde está na mira do capital. Isso ficou muito claro para nós, desde os primeiros sinais deste governo golpista, quando o ministro apontou a ideia dos planos de saúde de baixo custo, que é uma grande armadilha para os trabalhadores”, disse Reginaldo Silva de Araujo, professor do ISC/UFMT e presidente do sindicado docente da Universidade (Adufmat), seção sindical do Sindicato Nacional dos docentes do ensino superior (ANDES-SN).

Enquanto o auditório acompanhava o Grande Debate Sociedade, Subjetividade e Saúde: desafios do SUS em tempos de crise democrática, sindicalistas e estudantes do Centro Acadêmico Sergio Arouca (Casaco-ISC/UFMT)  produziam cartazes e faixas nas quais foram expressas ideias, reivindicações e sonhos. O barulho das palmas foi a senha para a entrada da manifestação. O encontro dessas diversas alteridades foi uma verdadeira pororoca, a expressão de um SUS vivo na confluência do conhecimento científico com o saber da lida e da luta, experiência única que tão bem caracteriza o movimento sanitário.

Da vida, as estratégias para o bom combate: Agricultora familiar de Jacaraú, município do litoral norte paraibano, e ativista do Movimento Popular da Saúde do estado (MOPS-PB), Palmira Sérgio Lopes abriu o microfone livre com a graça, a simplicidade e a força de seus 77 anos. “O Brasil está doente, só nós podemos salvar/Precisamos dos nossos olhos para ver onde o câncer está/E tá onde, minha gente? Será que em Brasília está? Por isso digo, vamos se unir meu amigo, vamos se unir meu irmão/Vamos defender o SUS e salvar nossa nação/Fora Temer todos juntos indo para às ruas gritando a libertação”.

Já Lucineia Freitas, militante estadual do Movimento dos Sem Terra (MST-MT), falou que a luta pelo SUS deve andar junto com a luta contra o agronegócio, setor extremamente forte no Mato Grosso e que tem no ex-governador e atual ministro Blairo Maggi seu principal articulador. “A Abrasco não poderia deixar de fazer essa manifestação nesse momento de desmonte da saúde e da educação e deve ir além, chamando as entidades de base. Toda a política  integral de saúde dos povos do campo, das águas e das florestas é impossível de ser implementada com a aprovação desta PEC 241. Temos de dialogar com toda a sociedade que ainda não entendeu o impacto dessa votação em suas vidas”.

Outro que deixou seu recado em forma de versos foi Vanilson Torres, conselheiro nacional de saúde pelo Movimento Nacional da População de Rua. “Vampiros safados no Congresso e no Judiciário/Aprovaram a PEC 241, ali aprovaram/Acorda Brasil senão pode ser muito tarde/Vamos combater o bom combate/Eu estou pronto aqui. E você tá aí?Você tá aqui!”

Outros dois conselheiros nacionais também fizeram uso da palavra. Representante da CUT Nacional no Conselho Nacional de Saúde (CNS), Geordeci de Souza saudou a Abrasco e convocou a todos os brasileiros a reacender as esperanças na luta social. “Este foi um congresso excepcional e acontece num momento tão difícil, no qual perdemos direitos a cada dia. Este ato se soma a inúmeros outros atos que estão acontecendo. Temos de sair daqui com espírito renovado e com a convicção de que temos condição de virar o jogo”.

Juliana Acosta, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), destacou a potência que o CNS e a comunidade científica podem vir a desempenhar se trabalharem em sinergia. “Nesse momento de ruptura da democracia, os conselhos se fortalecem como espaços de resistência. Temos um monte de críticas a fazer, mas no sentido de superá-las. Conselho e comunidade científica têm de identificar essas contradições e ver o que unifica para a construção de um projeto popular, no qual os interesses das pessoas esteja acima dos interesses de mercado”.

Os estudantes também expressaram suas demandas e visões. “Manifestamos nosso posicionamento contra os atos políticos das três esferas – nacional, estadual e municipal – e exigimos o reconhecimento do bacharéis em Saúde Coletiva tanto na cidade de Cuiabá como no estado do Mato Grosso. Nossa luta como representantes dos estudantes é fazer valer o exercício de nossa profissão, que só tem a engrandecer o SUS”, falou Luciano Campos Silva, coordenador geral do Casaco-ISC/UFMT, que passou o microfone para Renata Melo declamar Fernando Pessoa.

Em nome da CCSHS/Abrasco, Roseni Pinheiro saudou todas as organizações presentes e falou sobre a necessidade de um olhar para o outro, de se reconhecer na luta das demais alteridades para fortalecer laços. “É responsabilidade nossa, de todos nós que produzimos conhecimento das Ciências Sociais e Humanas em Saúde se olhar, se enxergar para unificar esforços e fazer um balanço desses trinta anos de SUS e do momento atual. Esse é um ato simbólico que deve servir para nós refletirmos sobre o nosso lugar e o do outro no mundo, pensando o local, as pessoas e a vida”.

E, antes de tudo brasileiramente acabar em festa e dança ao som do Maracatu Buriti Nagô, Palmira deu ainda um recado final, dizendo para Brasília que o movimento sanitário não esmorecerá na luta pela democracia. “Temer, levanta desta cadeira que tu estás sentado. Este lugar não é teu, tu estás aí emprestado. Só pode se sentar nela quem pelo povo foi votado”. Confira a galeria de fotos do evento nas mídias sociais.

(*Com informações de Flaviano Quaresma – Ato Público em defesa do SUS e da Democracia revelou histórias, pessoas e rostos)

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