Com atividades realizadas em mais de 20 cidades e no Distrito Federal, militantes, pesquisadores e ativistas da Saúde Coletiva, da Agroecologia e dos movimentos ligados à terra e ao consumo foram às ruas e aos debates se manifestarem contra o uso desenfreado dos agrotóxicos e a favor de incentivos a outros modelos de desenvolvimento e formas de produção e por um posicionamento firme do governo federa, pela aprovação do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara). Mais uma vez, o Dossiê Abrasco serviu de catalisador e de agente mobilizador de boa parte dessas atividades, mostrando o papel da ciência quando comprometida com a sociedade e com outras formas de viver e de produzir distintas das apregoadas pelas grandes empresas.
O debate foi solicitado pelo deputado Augusto Carvalho (SD-DF), da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Casa Legislativa, que além de ouvir e ter acesso às informações do Dossiê, ficou alarmado com os efeitos que os venenos causam à saúde, de irritações na pele, vômitos e alergias, passando ao Mal de Parkinson e a diversas formas de Câncer. Questões econômicas e sobre o modelo agroexportador também foram abordadas.
Manifestações de rua ocorreram em Brasília, na entrada do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, que recebia a 15ª Conferência Nacional de Saúde (15ª CNS) e em diversas capitais, como no Recife, onde militantes se manifestaram e artistas da Trupe Circo Luz encenaram esquetes sobre os perigos dos agrotóxicos na saúde da população e dos agricultores e agricultoras.
Produção científica engajada: Lançado sua primeira parte em versão eletrônica em 2012, durante o congresso World Nutrition, no Rio de Janeiro, e novamente nesta cidade, sua versão impressa, compilada e atualizada, em abril deste ano, o Dossiê Abrasco – um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde promoveu uma verdadeira caravana em todo o país em nome do debate e da tomada de consciência sobre o tema. Mais de 30 lançamentos, entre atividades acadêmicas em universidades e tribunais, e culturais, em bares e praças reuniram milhares de pessoas. Todo esse manancial de informação foi replicado em diversas matérias pela imprensa escrita, radiofônica e televisiva, abordando dos riscos à corpo humano, à soberania alimentar, à terra, `a vida como um todo.
Para Marcelo Firpo, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), coordenador do Grupo Temático Saúde e Ambiente (GTSA/Abrasco) e um dos autores do Dossiê, a pauta dos agrotóxicos tem sido estratégica para uma nova forma de pensar, produzir conhecimento e atuar no campo da Saúde Coletiva. “O conhecimento científico aliado com a vida e a defesa da saúde do povo – que é ou deveria ser um valor central da Saúde Coletiva – é fundamental para uma análise mais independente do problema”, disse ele, ressaltando que o Dossiê materializou o trabalho de diálogo e de convergência produzido e proporcionado no interior da Associação entre diversos GTs, como Saúde e Ambiente, Saúde do Trabalhador, Alimentação e Nutrição, Promoção da Saúde e Educação Popular. “Desde então, a forma como vem se dando a participação da Abrasco em processos os mais diversos segue essa proposta de diálogo democrático em torno de agendas e de processos emancipatórios”, explicou Firpo, abordando também a participação da Associação nos debate da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO) e na luta pela aprovação do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA).
Já Leonardo Melgarejo, presidente da Associação gaucha de proteção ao ambiente natural (AGAPAN) e coordenador do GT agrotóxicos e transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e também autor da obra, destaca que o Dossiê possibilitou que o problema dos agrotóxicos deixasse de ser percebido como uma coisa distante, ligado apenas à agricultura e restritos as áreas e populações rurais. “Com o Dossiê a sociedade passou a se confrontar com um novo problema de saúde, que é de todos: o veneno está na mesa e chega a todas as mesas porque os alimentos se tornaram mercadorias que não merecem confiança”, afirma ele, ressaltando que a forma capilar promovida pelas associações, redes, campanhas e militâncias em geral desafiou os profissionais da saúde e de demais áreas a se responsabilizarem socialmente na busca de superação do uso dos venenos em nossas lavouras. “A sociedade deve ser informada disso, para bem orientar suas decisões de compra e consumo, porque é vítima e que pode demonstrar sua insatisfação com o modelo de produção dominante e com as mercadorias que dali resultam.”
Leia abaixo as entrevistas na íntegra: