Faz parte da atuação da Abrasco fomentar a circulação de saberes e a difusão do conhecimento, assim como a incidência política. No dia 3 de novembro, durante o 9º CSHS, aconteceu uma sessão especial sobre posicionamentos técnico-políticos da entidade, e a produção de dossiês. A atividade abordou o processo de formulação do Dossiê Pandemia de Covid-19, e apresentou uma versão preliminar do Dossiê Território, Ambiente e Saúde dos Povos Indígenas, assim como o planejamento do Dossiê Desigualdades em Gênero e Raça.
Rômulo Paes Sousa, vice-presidente da Abrasco e pesquisador da Fiocruz, contou como foi organizar o Dossiê Pandemia de Covid-19, publicado em 2022. O documento reuniu 131 autores – são 312 páginas, divididas em 3 partes: “A emergência da Covid-19 em um país desigual e injusto”; “A gestão da pandemia no Brasil em toda sua complexidade”; e Lições aprendidas e desafios pós-pandemia.
“Foi um esforço para que não perdêssemos a memória da crise sanitária, Há uma tendência ao esquecimento, as pessoas tendem a esquecer os traumas. Por isso era importante um registro organizado. A pandemia é um fenômeno catastrófico, e, com a gestão inepta do governo anterior, impactou de forma dramática a vida de todos nós”, disse Rômulo.
Ele afirmou que esse tipo de elaboração envolve as pessoas de forma pessoal e institucional, e mesmo que os autores não sejam citados individualmente – já que o texto é da Abrasco – há diversidade das vozes: “Nosso esforço foi produzir uma narrativa consistente. Ao final, temos um bom texto, e que chegou numa hora fundamental”, disse. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que usa o dossiê como referência. O documento está disponível, gratuitamente.
O “Dossiê Território, Ambiente e Saúde dos Povos Indígenas: vidas e políticas públicas em contínuo estado de emergência”, está em construção, e é um projeto da diretoria da Abrasco e dos Grupos Temáticos Saúde Indígena e Saúde e Ambiente. Diogo Rocha , do GT Saúde e Ambiente, afirmou que o documento surge da necessidade de dar resposta a problemas que assolam os territórios indígenas no Brasil, há séculos, e ainda mais intensificados nos últimos anos.
“As questões da saúde indígena durante a pandemia mobilizaram o país, mas não podemos nos limitar só a esse momento. A existência dos povos indígenas é diretamente afetada pelo neoextrativismo e pela ordem econômica mundial. É preciso entender que os povos indígenas são guardiões dos seus próprios territórios, e de uma sabedoria que pode impulsionar a salvaguarda do planeta” , disse Rocha. O pesquisador explicou que a discussão inter GT’s , sobre o dossiê, se dá também publicamente, por meio da organização de Ágoras transmitidas e registradas na TV Abrasco.
Já Ana Lucia Pontes, representando o GT Saúde Indígena, enfatizou que o campo da saúde indígena se desenvolve conectado à formulação das políticas na área. Ela destacou que o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do SUS já era frágil e assimétrico – com a pandemia, e com a gestão Bolsonaro, houve uma completa desestruturação: “Os números da mortalidade infantil indígena, ocasionada por causas evitáveis e desnutrição, são estratosféricos. Mas a sociedade se mobiliza por um curto período de tempo”.
Ela coordenou o COE Yanomami, de janeiro a julho deste ano, e comentou que o desmantelamento do aparato da SESAI e dos Distritos de Saúde Indígena evidencia um crime de Estado. Para ela, uma virada importante para a reconstrução é a conquista da presença de pessoas indígenas nos espaços de decisão, sendo parte do movimento de tomada da política e da gestão: “A solução passa por esses atores, quem tem conhecem, manejam e preservam a biodiversidade, o ecossistema, são eles que vão conduzir as respostas” .
Essa representação necessária também está colocada para o GT Saúde Indígena da Abrasco, que busca aumentar e fortalecer a presença e o protagonismo de pesquisadores indígenas. Pontes destacou, ainda, o papel da Abrasco durante a pandemia, que sistematizou dados e subsidiou o movimento indígena nas lutas que ocorreram no Congresso Nacional e no judiciário, na tentativa de impedir o genocídio indígena.
Rosana Onocko Campos,presidente da Abrasco, coordenou a mesa, e apresentou, a pedido do GT Gênero e Saúde, o escopo do projeto “Dossiê Desigualdades em Gênero e Raça”. A ideia é que o documento subsidie a direção da Abrasco junto ao Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável (CDESS) do governo federal. A inspiração para esse trabalho vem da nota técnica “Pela saúde de todas as mulheres: propostas da Abrasco para a equidade de gênero”, publicada em 8 de março. O documento deve ficar pronto ainda no mês de novembro.