Com mais de 300 mil mortos em decorrência da gestão omissa do governo federal à pandemia de coronavírus, há um movimento da sociedade civil de denunciar a maior calamidade da história brasileira como um “genocídio”. E, para além da Covid-19, como compreender a conjuntura política no Brasil, com o recrudescimento das medidas de austeridade, aumento do desemprego e da fome e agravamento da desigualdade? Foi o que norteou Leonardo Carnut (UNIFESP), Elaine Rossetti Behring (FSS/Uerj) e Carlos Ocké Reis (IPEA) na mesa-redonda Economia Política do Financiamento da Saúde no Brasil: alternativas ao neofascismo e ultraneoliberalismo , que aconteceu ontem (24/3) durante o 4º CBPPGS.
Segundo Leonardo Carnut, o Brasil vive um governo neofascista, com características do conceito clássico de fascismo – autoritarismo, preferência por formas ditatoriais de governo, o culto do salvador da pátria (“mito”), o ódio à esquerda e ao movimento dos trabalhadores. Ele explicou que o neofascimo se organiza em redes complexas, envolvendo lideranças e organizações, partidos políticos, figuras públicas e financiadores. No entanto, não chegam ao poder sem parcelas da burguesia e da classe trabalhadora “fascistizadas”: “Temos o exemplo no setor saúde, empresas e associações , como as ligadas à Coalizão Saúde, apoiam medidas de tensionamento contra a proteção social dos trabalhadores”, explicou Carnut.
Essas parcelas “fascistizadas” da sociedade, movidas pelos interesses do mercado, contribuem para o recrudescimento do ajuste fiscal. Elaine Behring chamou de “terrorismo econômico” o discurso de que é preciso cortar gastos do Estado – com proteção social – para “salvar a economia”. Para ela, a disputa do fundo público está no centro dos cortes de gastos, e se acirra em momentos de crise: “A hegemonia burguesa e neoliberal na condução do fundo brasileiro aponta para que as maiores fatias sejam destinadas ao capital, não aos direitos sociais. O que a gente tem vivido ao longo do tempo é a instituição de mecanismos que viabilizem o uso do fundo público pelo capital,orientando medidas contra os direitos constitucionais”.
Foi um consenso, entre os palestrantes, que é preciso derrotar o governo neofascista para superar a crise, econômica e sanitária. Carlos Ocké-Reis finalizou a mesa-redonda com propostas concretas, sinalizando que é necessário construir uma alternativa ao bolsonarismo, através de uma forte mobilização social articulada pela esquerda. “Precisamos lutar contra um presidente que coloca a vida de um país inteiro em risco A construção dessa hegemonia percorrerá um caminho cheio de idas e vindas, mas permitirá ao país a retomada da democracia, da justiça e do bem estar social, na esperança de que possamos sonhar, novamente, com as flores da primavera”, pontuou.