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Economia política como ferramenta de análise e atração de novos pesquisadores

Concepção teórica entre os conhecimentos fundantes do pensamento social e que deu base para uma gama de outras correntes, algumas até que passaram a condição de concorrente, a Economia Política afirma seu espaço e papel como lente de leitura para a saúde e para o mundo contemporâneo como um todo em diversas instituições e também nos eventos da Abrasco. É essa perspectiva do mini curso “Economia Política do Setor Saúde no Brasil do Século XXI”, que acontece hoje e amanhã (24 e 25), no Pré-Abrascão, na Uerj.

Ao longo desses dois dias, 10 pesquisadores irão abordar diferentes aspectos atravessados pelo olhar dos efeitos do capital no setor saúde: o conflito distributivo no seio do Estado, as disputas de poder pelos diversos grupos econômicos, as ideologias que movem os atores sociais. A primeira apresentação, feita pelo professor Paulo Henrique Rodrigues, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), debateu a origem da austeridade e a desintegração das políticas sociais, sendo seguida da discussão dos grandes grupos financeiros do setor saúde. À tarde, foi a vez dos jovens doutores José Sestelo, Leonardo Mattos e Artur Monte Cardoso. Na quarta-feira, o destaque será para a agenda de ensino, pesquisa e ação política.

A atividade é organizada pelo Grupo de Pesquisa e Documentação sobre empresariamento da saúde (GPDES), liderado pela professora Lígia Bahia, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ), e que inclui docentes também do IMS, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O GPDES, juntamente com o Observatório de Análise Política em Saúde (OAPS) e o projeto Regiões e Redes, teve apoio institucional da Comissão de Política, Planejamento e Gestão em Saúde da Abrasco em sua fundação e lançamento.

“Como integrantes da Comissão Científica, percebemos uma certa ausência de temas macroeconômicos e macropolíticos nas comunicações coordenadas, que privilegiam em sua maioria experiências locais e temas mais específicos da saúde. Vimos que isso também se traduziu na programação científica, com cerca de 15% do total de mesas e conferências  com temas macro. Só que essa é a origem do campo” explica Eduardo Levcovitz, um dos organizadores da atividade e professor do IMS/Uerj e coordenador da CPPG/Abrasco.

Para o docente, a Saúde Coletiva esteve muito ligada à tarefa de construir uma grande narrativa do setor saúde desde a sua fundação, na década de 1970, com os trabalhos seminais de Hésio Cordeiro, Cecília Donnagelo, Madel Luz e José Fiori. “Quarenta anos depois, essa literatura mantém-se viva e rica em seu caráter histórico e antropológico, mas não explica mais o setor saúde brasileiro” completa Levcovitz.

Esta é a segunda edição do curso. A primeira foi realizada em 2016, em Natal (RN), no 3º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde. Para Lígia Bahia, ambas as atividades demonstraram capacidade de atrair pessoas interessadas em compreender os processos do setor saúde pelo foco da Economia Política. “Esse é um método de análise entre tantos e em diálogo no conjunto dos pensadores. No entanto, suas diferenças não estão explicitadas para muitos de nós da Saúde Coletiva em nossos programas, e essa é uma das intenções dessa atividade.”

A professora destaca que o apoio do professor José Carlos Braga, do Instituto de Economia da Unicamp e de jovens doutores do mesmo instituto. “Isso para nós é um motivo de celebração. Não pretendemos sermos economistas, mas sim reestabelecer essa interdisciplinaridade. Talvez, o resultado mais importante da pesquisa, para além dos dados e suas análises, seja a formação desses jovens pesquisadores, que já estão atuando como professores nesse mini curso” destaca Lígia.

 

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