Editores de revistas científicas criticaram o modo de avaliação das revistas durante a mesa-redonda A quem serve a publicação científica em saúde coletiva/saúde pública?, realizada no dia 26 de julho, no 12° Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão 2018. Para o editores, a avaliação das publicações com base no fator de impacto (que é calculado a partir do número de citações recebidas) não atesta a qualidade das revistas e de seus artigos, uma vez que os critérios dessa métrica são exclusivamente quantitativos.
Coordenada por Kenneth Camargo, editor da revista Physis, do Instituto de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a mesa reuniu a editora da revista Salud Colectiva, da Universidad Nacional de Lanús (Argentina), Viviana Martinovich, a co-editora da revista Cadernos de Saúde Pública (Fiocruz), Marília de Sá Carvalho e o editor-chefe da revista American Journal of Public Health, Alfredo Morabia.
Viviana Martinovitch comenta que esse modelo de avaliação considera as revistas isoladas de seus contextos de produção científica e com isso dificulta o posicionamento das publicações latino-americanas, que acabam envolvidas no modelo hegemônico de produção, sendo impelidas a traduzir os textos para o inglês e a adotar tópicos de pesquisa que venham a dialogar com os interesses internacionais para poder publicar em inglês, desconsiderando os modos próprios de produção cietífica.
Em sua análise, uma das diferenças no modo de produção de ciência dos países hegemônicos e dos periféricos é que o primeiros adotam o modelo industrial, tendo a indústria financiando a ciência, equanto nos países periféricos o fomento à ciência é mais fortemente estatal, o que já implica em diferentes temáticas e interesses. Ela advoga um projeto alternativo de avaliação das publicações científicas, ampliando o diálogo sul-sul e adotando indicadores com mais variáveis baseadas no modo de produção científica dos países. “É preciso repensar as formas de avaliar a produção científica, respeitando nosso modo de produzir ciência”, conclui.
Marília de Sá Carvalho afirma: “nós da CSP estamos zero preocupados com o fator de impacto!” Segundo a editora, a revista tem dado cada vez mais oportunidade para artigos considerados ‘os que não dão citação’ quando acredita que tratam de temas importantes para a sociedade. Ela, que também critica o regime produtivista das publicações científicas, muitas vezes com suas temáticas repetitivas apenas para cumprir metas e métricas, almeja ampliar o contato da revista com a sociedade e atesta: “Precisamos sair da redoma”.
Em relação à prática das publicações internacionais, Marília ressalta: “é necessário desnaturalizar essa prática de exportação das nossa publicações, sair do jogo de publicar para ganhar pontos e ir para o mundo”.
Alfredo Morabia também acredita que mais importante que os fator de impacto é analisar se a revista pode contribuir efetivamente para melhorar a saúde pública das populações, principalmente das que mais necessitam. No entanto, entre os critérios atualmente disponíveis para avaliação dos publicações, ele acredita que melhores do que fator de impacto são o número total de citações durante o ano e o número de subscrições à revista. Segundo o editor cada publicação tem sua personalidade, sua missão e deve ser fiel a ela. No caso da American Journal of Public Health, informa, a missão é “produzir dados científicos recentes que sejam úteis para as políticas de saúde pública, com foco nas minorias, nos mais pobres” e defende: “se houver uma métrica que avalie o quanto as revistas melhoram a saúde das populações, eu voto por ela”