Hoje [24 de dezembro] é um dia de luto para a militância da Reforma Sanitária. Foi-se um dos seus ícones históricos. Descansou em paz Eleutério Rodriguez Neto.
Fomos convidados pelo Cebes para falar desta triste noticia, dentre tantos outros companheiros e amigos do Eleutério, que, talvez, com maior propriedade, poderiam substituir-nos.
O protocolo recomenda que se registre um perfil do homenageado.
Consideramos, entretanto, que seria descabido, no momento, traçar biografia do Eleutério e nem creio que seja o esperado. Em 2003, em iniciativa meritória, o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) resolveu dedicar um número da sua Revista à vida e obra do Eleutério. A publicação, intitulada “Eleutério Rodriguez Neto – militante da Reforma Sanitária Brasileira”, é uma magnífica coletânea de depoimentos de atores relevantes de seu convívio. Além de Lucia e Sylvia, esposa e filha, fazemos questão de citar, com profunda deferência, cada um dos que tiveram a oportunidade de manifestar seus sentimentos e vivencias sobre Eleutério. São eles: Sylvain Levy, Jose Paranaguá Santana, Francisco Campos, Henri E Jouval Jr, Marlow Kwitko, Jose Gomes Temporão, Jose Roberto Ferreira, Sergio Arouca, Sonia Fleury, Sâmara Nitão, Hugo Fernandes Junior. Ali estão retratadas múltiplas facetas do Eleutério, tais como o estudante, o aluno, o pai, o intelectual, o líder, e, assim por diante. Atrevemo-nos a dizer que a publicação é de leitura obrigatória não só para compreender o Eleutério, como para entender os primórdios do movimento da Reforma Sanitária.
De todos estes antecedentes, há um consenso de que Eleutério pertenceu a uma estirpe de seres incomuns, daqueles que nunca passam despercebidos, seja pela força de sua personalidade, seja pelo vigor de sua atuação, sempre combativa, às vezes contundente e incômoda.
Inteligência privilegiada, grande imaginação, palavra fácil foram dotes que ele soube aproveitar na defesa de seus sonhos por um mundo melhor.
Parece-nos que, ao mergulhar no passado do Eleutério, muitas vezes esquecemos a principal mensagem prospectiva que ele nos deixou na sua tese de doutorado, que, até no titulo, é sugestiva: “Saúde: Promessas e Limites da Constituição”, depois publicada em livro pelo Cebes.
Nela ele alerta sobre os esgotamentos e estrangulamentos da Reforma, esboça uma agenda de debates e delineia alternativas de solução, com a clareza de sempre.
Este é o nosso Eleutério!
Á família, nosso pesar e solidariedade.