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Entrevista com Lia Giraldo: a articulação entre movimentos sociais e academia no 2º SIBSA

A pesquisadora Lia Giraldo – professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, professora do corpo permanente da pós graduação do CPqAM/FIOCRUZ e membro do GT Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) – está na organização do 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente (SIBSA). Confira a entrevista no site e baixo:

 

OBTEIA – O 2º SIBSA está sendo organizado pela academia e os movimentos sociais. Como surgiu esta iniciativa?

 

Lia Giraldo – Primeiramente é importante entender que a composição do GT Saúde e Ambiente da Abrasco é de  pesquisadores que estão implicados nas lutas sociais. Muitos vieram da militância do processo de Reforma Sanitária, pela luta em defesa da sáude dos trabalhadores e por uma política nacional de sanamento ambiental. Também são pesquisadores que trabalham a partir de um pensamento crítico sobre a ciência e a relação de poder frente as demandas hegemônicas do  Capital para a academia.

 

O Gt S&A foi amadurecendo diálogos interdisciplinares e depois diálogos de saberes com  o movimento social,  a partir de seu engajamento na luta contra os agrotóxicos, tanto na produção agrícola, como no controle vetorial. Nesse campo de luta, diversos de seus membros passaram a integrar outras redes, como a Rede Brasileira de Justiça Ambiental; os Encontros da Associação Brasileira de Agroecologia e a Campanha Permanente de Combate aos Agrotóxicos e pela Vida. Assim,  a perspectiva do diálogo de saberes, de abordagens sistêmicas e participativas para os temas complexos da saúde e do ambiente passaram a ter um espaço mais articulado no interior ddo Gt Saúde e Ambiente da  Abrasco.

 

A elaboração, no ano de 2012, do Dossiê Abrasco sobre um alerta das nocividades dos agrotóxicos sobre a saúde humana selou a articulação com os movimentos sociais, possibilitando a tomada de decisão para construir o 2o. SIBSA nesse novo formato.

 

OBTEIA – Qual é a novidade que a área da Saúde e Ambiente traz no campo da saúde coletiva?

 

Lia Giraldo – Na verdade é uma reafirmação do pensamento crítico, que na saúde coletiva chamamos de determinação social da saúde, e que orienta nosso trabalho de superação  do  pensamento empirista da velha saúde pública,  fundamentado no determinismo biomédico da saúde, no qual o ambiente é tratado como uma externalidade. A área de Saúde e Ambiente, na perspectiva da Abrasco,  pensa o ambiente como uma produção social, onde as lógicas da natureza e da sociedade são interdependentes. Também que os territórios de vida são produzidos pelo metabolismo social e pela iterculturalidade. Assim, trazemos uma perspectiva crítica para pensar a produção de conhecimento e das políticas de Estado.

 

O  2º SIBSA mescla os trabalhos científicos com os relatos de experiência daqueles que tem um saber do modo de vida, no contexto socioambiental. A relação entre a academia e os movimentos sociais nessa perspectiva são de sujeito-sujeito, superando a velha prática de subordinar objeto ao sujeito pesquisador.

 

Horizontalizamos o debate, trouxemos desde o processo de construção do 2º SIBSA,  a participação de alguns movimentos sociais, que vem crescendo no seu desenvolvimento. Conseguimos o apoio da Abrasco para inovar, tanto na organização temática, como na forma, no acolhimento e na parceria. Por exemplo, transformamos o primeiro dia de simpósio em oito fóruns temáticos para debater com o movimento social as principais questões de saúde e ambiente frente ao modelo de desenvolvimento, não só denunciando, mas anunciando formas de resistência, de luta e de alternativas. Criamos uma comissão científica local para articular também com movimentos sociais  e culturais de Belo Horizonte, sede do evento.

 

Queremos abrir as portas do Simpósio para a estudantes, profissionais de saúde, e movimentos sociais interessados nos momentos das grandes conferências, para ficar restrito apenas aos inscritos.

 

Uma  exposição de economia solidária estará presente em todo o período do simpósio, bem como intervenções culturais locais.
Para apoiar a participação do movimento social garantimos a hospedagem para 150 participantes e isentamos de taxas de inscrição a todos interessados dos movimentos sociais. Com isto acreditamos que vamos ter as condições para realizar o evento e alcançar o diálogo de saberes no temário proposto que se estrutura em torno de três eixos principais.

 

Vamos ter relatoria gráfica para sintetizar o debate dos fóruns temáticos, além de relatorias textuais para todo o evento. Como produção pré simpósio, uma revista de artigos científicos foi programada e outra pós evento será publicada. também pretendemos lançar um livro com o material de debate do 2º SIBSA.

 

Certamente ainda temos muito que aprender para fazer um verdadeiro diálogo de saberes, mas o 2º SIBSA está dando passos seguros nessa direção.

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