53% (698) de 1.317 mulheres trans e travestis entrevistadas relatam ter sofrido algum tipo de violência sexual e, entre as vítimas, 64,4% (419) sofreram esse tipo de violência mais de uma vez. Além dos abusos, esse grupo é vítima de preconceito e tem dificuldade de acessar os serviços de saúde, problema que leva 72% das mulheres trans e travestis que utilizam hormônio a fazer isso sem prescrição médica. Esses são alguns resultados das pesquisas publicadas no suplemento especial da Revista Brasileira de Epidemiologia (Epidemio) sobre a saúde de mulheres trans e travestis.
A edição conta, no total, com 13 artigos científicos inéditos, que estão disponíveis para leitura em Acesso Aberto (Open Access) na plataforma SciELO. A edição especial da Epidemio foi pensada justamente para dar visibilidade, com estudos científicos, aos problemas que afetam essa população e, assim, orientar políticas e chamar a atenção das autoridades de saúde. Afinal, por ser marginalizado e carecer de políticas públicas, esse grupo, em situação de vulnerabilidade social, sofre com as mais diversas formas de violência, preconceito e risco ampliado para hepatites e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Os pesquisadores Maria Amélia de Sousa Mascena Veras, Inês Dourado, Francisco Inácio Bastos e Thiago Félix Pinheiro, que organizaram a edição especial, destacam, no editorial, a importância da ciência ser utilizada para promover a justiça social: “Fazer pesquisa com a população trans, na perspectiva da justiça social e do direito universal à saúde , convoca à interlocução, com suas questões e reivindicações, bem como à efetivação dos resultados em intervenções concretas capazes de proporcionar avanços e respostas”, afirmam.
Confira alguns artigos desta edição
Um total de 1.317 Mulheres Trans e Travestis (MTT) foram entrevistadas. Entre elas, 53% (n=698) relataram violência sexual. Para 64,4% (n=419) destas, a violência sexual ocorreu em mais de uma ocasião. A maioria das MTT não procurou serviços de saúde (93,2%, n=648), não denunciou (93,9%, n=653) nem buscou apoio de familiares ou amigos (86,5%, n=601).
Das 1.317 participantes recrutadas, 85,9% já haviam usado hormônios. O uso atual de hormônios foi referido por 40,7% (536) delas. Das que souberam informar o local onde os conseguiram, 72,6% (381/525) faziam uso sem prescrição médica.
Relatos de discriminação, estigmatização e patologização reafirmam as dificuldades enfrentadas na busca por cuidado com a saúde.
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Sobre a Epidemio
A Revista Brasileira de Epidemiologia (Epidemio) é um periódico editado Abrasco desde 1998, em publicação contínua. O objetivo é estimular a produção e a divulgação de artigos originais, revisões e comentários que contribuam para o conhecimento e desenvolvimento da Epidemiologia e ciências afins. Os artigos são publicados em português e inglês, online, e podem ser acessados gratuitamente.