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Especialistas Carlos Monteiro e Elisabetta Recine fazem alertas e ressalvas sobre anúncio da Coca-Cola

Comunicação Abrasco

Na semana retrasada, a Coca-Cola divulgou uma série de ações que seriam implantadas, em âmbito mundial, em relação ao controle da obesidade. De acordo com a versão oficial, a empresa deixará de veicular propaganda para crianças e diminuirá o nível de caloria de seus produtos, entre outras ações anunciadas.

O anúncio, porém, foi recebido com cautela por profissionais, pesquisadores e especialistas em segurança alimentar e nutricional, que veem o risco deste anúncio ser “mais um exemplo de uma prática velada de marketing, cujos verdadeiros objetivos seriam a promoção da imagem comercial e ampliação das vendas dos seus produtos”.

“Apesar de o anúncio aparentemente ser positivo, é preciso ter em mente que iniciativas como essas funcionam na maioria das vezes como práticas de marketing veladas”, avalia Mariana Ferraz, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

“Ao veicular um compromisso desses, a empresa vende uma boa imagem à população, reforça a confiança do consumidor e, por fim, acaba estimulando o consumo de seus produtos”, argumenta ela.  A conselheira acredita também que o anúncio visa adiar a regulamentação da publicidade, proposta que é defendida por inúmeros setores da sociedade envolvidos na proteção dos direitos das crianças e promoção da saúde. “Trata-se, na verdade, de tentativa de protelar medidas regulatórias realmente eficazes”, completou ela.

Já o professor do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Augusto Monteiro, destacou que a medida é uma espécie de “mea-culpa” das empresas. “Embora o resultado prático do anúncio seja muito pequeno, quando não inexistente, destaca-se que as empresas finalmente admitem que seus produtos, ou pelo menos parte deles, não são saudáveis”, diz ele.

Monteiro também chamou a atenção para uma declaração do vice-presidente da Coca-Cola no Brasil, que alegou ser o consumo médio diário de refrigerantes no Brasil de 7% do consumo total de calorias, o que “não seria uma quantidade irrelevante, mas pouca em relação ao total”, segundo o executivo da multinacional.

“Sete por cento das calorias totais no dia correspondem, no Brasil, a cerca de 140 quilocalorias, ou ao consumo de uma lata de Coca-Cola todos os dias”, calcula. Segundo ele, “evidências científicas hoje incontestáveis demonstram que as calorias que se originam de bebidas açucaradas (e vazias de outros nutrientes) não são ‘registradas’ adequadamente pelo organismo, o que leva  a considerar estas 140 quilocalorias, por exemplo, como consumo extra”.

Por isso, segundo o professor, os indivíduos “não compensarão adequadamente a ingestão dessas calorias, reduzindo o consumo de outros alimentos. Caso a compensação não ocorra, o consumo ‘extra’ de 140 quilocalorias produzirá ao final de um ano um ganho de peso ‘extra’ de quatro quilogramas (kg) e meio. Em cinco anos de consumo, o acúmulo de peso seria de mais de 10 kg, o que é muito para a maior parte dos indivíduos”, alerta.

Outra especialista ouvida sobre o anúncio da multinacional foi Elisabetta Recine, professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), integrante do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (Opsan/UnB) e do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

“Não há nenhuma evidência de que o anúncio seja efetivo e que será ampliado para todos os pontos de contato do marketing da empresa com o público infantil, uma vez que atualmente a televisão é apenas um dos canais de comunicação da empresa com os consumidores”, argumenta.

Segundo ela, “as crianças, por exemplo, são atraídas cada vez mais para a internet, para participarem de jogos e promoções; outro aspecto é que, até o momento, grande parte dos compromissos voluntários que a indústria de alimentos assumiu no plano internacional não é respeitada, da mesma maneira, por suas sedes nacionais”.

“Antes das comemorações [do anúncio], que seja reforçado o monitoramento para verificar o que realmente está mudando na prática desta e das demais empresas, e a repercussão destas possíveis mudanças no comportamento alimentar e na saúde das crianças e da população em geral”, finalizou ela.

(Com informações do Consea)

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