Divulgada nesta semana no periódico Cell Metabolism, o artigo Ultra-Processed Diets Cause Excess Calorie Intake and Weight Gain: An Inpatient Randomized Controlled Trial of Ad Libitum Food Intake comprova a relação causal entre o consumo de produtos ultraprocessados e o aumento da ingestão calórica e o ganho de peso. O estudo baseou-se na classificação NOVA, que organiza os alimentos e produtos alimentares pelo nível de processamento, demonstrando a força e a validade do sistema classificatório.
Liderada por Kevin Hall, médico e pesquisador do setor de fisiologia integrativa do NIDKK, instituto vinculado ao National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos, a pesquisa selecionou 20 pacientes, dez homens e dez mulheres, com idade média de 31,2 anos, peso estável e sem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Durante um mês eles receberam, na primeira quinzena, uma dos tipos de dieta do estudo —ultraprocessada ou não processada. Na quinzena seguinte, era a vez de consumir a outra dieta. As duas dietas tinham quantidades iguais de nutrientes como proteína, gordura, carboidrato, fibra e açúcar, com menus variados e sem restrições de quantidades dentro de cada dieta estipulada, para proporcionar as mesmas condições de saciedade para todos os participantes. Para a compensação e redução de viés, fibra solúvel foi acrescida às bebidas ultraprocessadas. Exercícios físicos controlados durante uma hora por dia também foram realizados pelos participantes, para não haver viés por conta do sedentarismo.
Os resultados chamaram atenção. Os participantes que estavam sob a dieta ultraprocessada tiveram uma ingesta de 500 calorias por dia e aumento de quase 1 quilo de massa corporal ao final do período de 15 dias. Nas taxas, vitória da dieta in natura, com melhora de alguns parâmetros sanguíneos como a redução da produção de grelina, hormônio responsável pela fome, e aumento do hormônio PYY que dá sensação de saciedade, redução nos níveis de triglicérides e de colesterol LDL.
Classificação NOVA e novas apostas: Em matéria do jornal Folha de S. Paulo, o abrasquiano Carlos Augusto Monteiro, que coordenou o “Guia Alimentar para a População Brasileira”, relata que vários estudos já haviam demonstrado uma associação entre a alimentação baseada em ultraprocessados e o ganho de peso, mas que o novo estudo dos NIH é o primeiro a estabelecer a relação de causalidade. “Diante deste achado, a necessidade de que existam políticas para restringir o consumo de alimentos ultraprocessados fica ainda mais evidente, como, por exemplo, a proibição da propaganda desses produtos, em particular aquela dirigida a crianças e adolescentes, o aumento de impostos, de modo a desestimular o seu consumo, e a rotulagem frontal com advertências que informem os consumidores sobre o perfil inadequado de nutrientes tão comum nesses produtos”, diz Monteiro.
A presença de aditivos e seus supostos malefícios para a saúde,tema de interesse de muitos pesquisadores, como o próprio Monteiro, não foi investigada nesse estudo. Mesmo assim para o professor da USP não faltam evidências para mudar a políticas de redução de consumo de ultraprocessados. “Sem essas políticas, continuaremos a observar no Brasil o surgimento, a cada ano, de 1 milhão de novos casos de obesidade e de 300 mil novos casos de diabetes, números que vêm sendo mostrados pelo sistema Vigitel do Ministério da Saúde desde sua criação em 2006.” Leia aqui a matéria completa.