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“Eu consegui estar lá mas Marielle Franco não. Marielle, número 68” diz Luís Eduardo Batista

Vilma Reis com informações de Liz Mineo

O assassinato de Marielle Franco sacudiu e impregnou a Universidade de Harvard, sediada em Massachusetts, EUA que reuniu cerca de 30 ativistas, pesquisadores e intelectuais brasileiros, nos dias 27 e 28 de abril, durante a Conferência Afrodescendants in Brazil: Achievements, Present Challenges, and Perspectives for the Future, uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Afro-Latino-Americanas da Universidade. “É uma tragédia de muitas maneiras”, disse o co-organizador do simpósio Sidney Chalhoub, professor de história latino-americana e de estudos africanos e afro-americanos. “A morte de Franco é um sério revés para a luta dos brasileiros de ascendência africana por uma sociedade mais igualitária no Brasil”.

O encontro aconteceu para promover o trabalho de ativistas e acadêmicos comprometidos com a justiça social e racial na América Latina, no contexto da Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024). No ano passado, o instituto organizou um simpósio sobre cubanos de ascendência africana. Em quase 110 milhões de pessoas, a população negra do Brasil é a maior do mundo depois da Nigéria. Mais escravos africanos foram trazidos para o Brasil do que para os EUA no início do século XIX. Hoje, apesar da reputação de “democracia racial”, o país está profundamente segregado segundo linhas raciais, disse Chalhoub. “O assassinato de Franco não é um caso isolado”, disse ele. “Dezenas e dezenas de ativistas foram mortos em muitas partes do país. Mas há algo rotineiro sobre os assassinatos de pessoas pobres, a maioria das quais por acaso é negra, e nunca se descobre quem foram os assassinos”.

O pesquisador Luís Eduardo Batista, coordenador do GT Racismo e Saúde da Abrasco, participou do simpósio: – “Ter conseguido estar lá foi uma vitória. Foi uma vitória porque estamos vivenciando um período em que de janeiro a março deste 2018: 67 lideranças negras, indígenas, ribeirinhas e quilombolas foram assinadas, Marielle Franco foi a número 68. Nós conseguimos estar lá mas Marielle Franco não. Marielle também foi convidada e estaria em Harvard conversando conosco, fazendo sua análise e projetando o futuro. Entretanto lhe retiraram a vida. Marielle Franco, número 68. Elza Soares canta que a carne mais barata do mercado é a carne negra, e matar uma parlamentar também é barato. Isso marcou o encontro que aconteceu para pensar o racismo na sociedade brasileira, passado e projetando o futuro. Demos e recebemos informações preciosas, discutimos as questões macroeconômicas e a temática racial, Racismo do Estado, Racismo e Segurança Pública, Territorialidades, direito ao território em tempos de agro é tudo, a comunicação, a cultura, a educação e a saúde”, explicou Batista.

Assista aqui a íntegra da mesa “Racismo e Saúde Pública”.

Luís Eduardo apresentou dados e avaliações sobre o enfrentamento ao racismo no campo da Saúde Coletiva, mais especificamente sobre os desafios da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra – PNSIPN. “Como realizar o JULGAMENTO – sucesso ou fracasso de políticas que propõem a desconstrução de problemas estruturais da sociedade brasileira? É possível identificar indicadores da PNSIPN? É possível identificar metas quantitativas endereçadas a conduzir o julgamento de fracasso ou sucesso da PNSIPN? Como pautar o tema Racismo nas Eleições de 2018? Como pautar o tema impacto do racismo para candidatos a Presidência da República, governadores, senadores e debutados estaduais e federais que vão disputar as Eleições em 2018?” questionou Batista em sua apresentação.

O pesquisador voltou de Harvard com encaminhamentos importantes na bagagem: investir em mais pesquisas no campo da saúde da população negra; convidar os pesquisadores estadunidenses a conhecer a produção científica brasileira no campo da saúde da população negra: – “Os temas/pautas são comuns, entretanto os pesquisadores estadunidenses conhecem muito pouco da produção brasileira nesse tema. A reunião foi muito, muito oportuna ao colocar o “racismo à brasileira” no centro do debate e com todas essas pessoas, pesquisadores e instituições apresentando suas reflexões. Ela nos possibilitou ver e ler o Brasil na perspectiva racial, nesse momento tão difícil do nosso país”, reflete Batista.

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