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“Eu preciso encontrar um país /Onde a saúde não esteja doente”

“Eu pensei em começar com dados, mas resolvi começar com uma canção. E eu espero que ouçam a voz rascante e profunda de Elza Soares”: Jurema Werneck,  diretora da Anistia Internacional Brasil, invocou os trechos da música “País do Sonho”, na conferência de abertura do 4º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde, nesta terça-feira (23/3). “Eu preciso encontrar um país /Onde a saúde não esteja doente / E eficiente, uma educação / Que possa formar cidadãos realmente / Eu preciso encontrar um país […] Que não tenha injustiça, porém a justiça / Não ouse condenar só negros e pobres”. 

Assim como os versos da música, a fala de Jurema Werneck foi potente. Não há como permanecer inerte, diante da convocação que  a médica – ativista “desde criancinha”, como ela mesma conta – fez à comunidade da Saúde Coletiva. O chamado de é à radicalidade, pois, segundo ela, diante das mortes – mais de3 mil por dia  no Brasil, em consequência da Covid-19 – e da fome, aprofundada pela crise social e econômica, “é o que se espera de nós, que respondemos ao chamado da saúde como direito”.

Sob o tema Desigualdades e pandemia: que democracia é necessária para um projeto efetivamente includente?, a palestrante partiu do pressuposto de que os dados sobre morbidade e mortalidade, segregados por classe, raça/cor, gênero, já são conhecidos por aquelas e aqueles que assistiam à conferência. “Aqui neste congresso, que trata de temas cruciais para esse momento, eu exigiria muito mais. Ninguém melhor do que quem está aqui, para analisar os erros de política, planejamento e gestão da saúde e ver o tempo perdido, falhas profundas que resultam nas mortes e no sofrimento”, afirmou.

Ao refletir sobre a desigualdade, nas condições de vida, saúde e morte, Jurema demonstrou indignação: “Minha fala também é movida pela raiva. Eu sei que você já sabe – apesar de ser muito doído para todos, nós não estamos enfrentando essa crise do mesmo jeito. O que está acontecendo nos roubou a vida, projetos, relacionamentos, roubou o sossego e abalou a crença num futuro melhor”. A raiva, no entanto, transforma-se em um combustível, convite propositivo para a ação:  “Num momento tão dramático como esse, é preciso se apresentar na arena pública, gritar em alto e bom som junto com os movimentos sociais e as comunidades. Temos urgência de encontrar caminhos.

A mesa foi coordenada por Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco, e transmitida pela TV Abrasco, além da plataforma que abriga os congressistas no primeiro evento virtual da Associação. Assista:

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