Acaba de chegar no Brasil o livro Soda Politics de Marion Nestle. A professora de nutrição relata como a batalha contra as grandes empresas da indústria está sendo ganha e como está modificando a própria natureza do negócio. Entretanto, ninguém dá ainda o refrigerante como morto.
“(…) refrigerantes são, principalmente, “milagres de publicidade”, fruto dos bilhões de dólares investidos todos os anos pelas principais fabricantes de refrigerantes na promoção dos seus produtos para o público infantil e para populações de baixa renda, tanto em países em desenvolvimento quanto nos países desenvolvidos.”
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Em Soda Politics, Marion Nestle detalha as estratégias da indústria de refrigerantes para tornar o hábito de beber refrigerante em algo tão comum e aceito quanto o de beber água potável. Nestle, pesquisadora de políticas de alimentação e nutrição em saúde pública da New York University, mostra como refrigerantes são, principalmente, “milagres de publicidade”, fruto dos bilhões de dólares investidos todos os anos pelas principais fabricantes de refrigerantes na promoção dos seus produtos para o público infantil e para populações de baixa renda, tanto em países em desenvolvimento quanto nos países desenvolvidos.
Além de estimular a demanda, essas companhias não medem esforços para proteger os lucros. Isso inclui fazer lobby para evitar quaisquer medidas que desestimulem a vendas de refrigerantes, realizar doações financeiras para instituições de saúde e cientistas capazes de confundir os resultados das pesquisas sobre as consequências do consumo dessas bebidas e, também, o engajamento em atividades de responsabilidade social empresarial para gerar simpatia do público e silenciar os críticos. Soda Politics revela como a chamada Big Soda joga duro para maximizar as vendas de seus produtos em um mundo cada vez mais de obesos.
No entanto, além de diagnosticar o problema, Soda Politics estimula o engajamento dos leitores na busca de soluções. Campanhas de defesa de saúde são neste momento a maior ameaça aos lucros dessas companhias. Soda Politics fornece aos leitores os argumentos necessários para manter a pressão em favor de sistemas alimentares mais saudáveis e sustentáveis.
3 banheiras cheias
A quantidade de líquido consumida por um norte-americano é bem conhecida. São 680 litros por ano, o equivalente a três banheiras cheias até a borda. Isso significa que qualquer mudança de tendência no consumo é notada rapidamente, mesmo que seja mínima. Em outras palavras, quem compra um fardo de Dasani, Red Bull ou de Monster muito dificilmente comprará também um de Coca Zero, Diet Pepsi ou de Diet Mountain Dew, simplesmente porque substitui um pelo outro.
Esse é o ponto de partida em um mercado saturado de refrigerantes. Um quarto de todo esse líquido consumido é de refrigerante e 27% das vendas pertencem à Coca-Cola. Apesar do vício do açúcar, a distância com outras categorias de bebidas cai rapidamente, porque cada vez mais pessoas evitam as prateleiras das colas. É um negócio em crise, segundo a JPMorgan. Isso se deve em boa parte, como diz a Morningstar, às políticas feitas no âmbito da saúde.
O nível de consumo atual de refrigerante por habitante não era visto desde 1986, segundo a Beverage Digest, e antecipa que em dois anos será superado pelo da água mineral. Não é somente o fato dos consumidores estarem acostumados a contar as calorias que entram em seu corpo. Eles se preocupam também pelo efeito de adoçantes artificiais como o aspartame. As redes sociais, ao mesmo tempo, alimentam o debate sobre as mudanças no metabolismo.
Esse estigma está no livro da professora de nutrição Marion Nestle, Soda Politics, no qual relata como a batalha contra as grandes empresas da indústria está sendo ganha e como está modificando a própria natureza do negócio. Mas como no caso do tabaco, ninguém dá o refrigerante como morto. De fato, os refrescos são a maior categoria de bebidas não alcoólicas por faturamento, com 77,40 bilhões de dólares (286,15 bilhões de reais) por ano. Em comparação, o da água mineral está em 13 bilhões (48,06 bilhões de reais).
Como dizem os analistas de Wall Street que acompanham as empresas dessa indústria, a mudança não se deve somente ao fato de existirem mais alternativas ao refrigerante do que duas décadas atrás. A demografia também mudou. As famílias não querem que seus filhos bebam refrigerante, o que torna mais difícil consumi-los em idade adulta. Os mais velhos também consomem menos. O cálculo demonstra que os distribuidores estão perdendo mercado a um ritmo de quase 2% ao ano.
Ao invés de lutar para aumentar o consumo de refrigerantes, os três grandes do setor decidiram se distanciar oferecendo novos produtos para responder aos novos gostos e aceitaram assim a mudança de tendência, criando alianças com empresas que comercializam bebidas alternativas como Monster Beverage e Green Mountain. A Coca-Cola dobrou sua carteira de produtos na última década enquanto o refrigerante representa um quarto do faturamento da PepsiCo.
(O livro está em inglês)