Na contramão da tendência do evento, que contou em sua maioria com mesas e painéis formados predominantemente por homens, quatro pesquisadoras do Observatório de Análise Política em Saúde integraram a mesa redonda “A Análise de Políticas de Saúde na experiência dos observatórios”, realizada na quinta-feira, 4 de maio, último dia do 3º Congresso de Política, Planejamento e Gestão em Saúde da Abrasco, em Natal (RN). A coordenadora executiva do OAPS, Maria Guadalupe Medina; a integrante do Conselho Gestor do Projeto Análise Política em Saúde e vice-diretora do ISC/UFBA, Ana Luiza Vilasbôas; a coordenadora executiva do Centro de Documentação Virtual (CDV), Carmen Teixeira; além de Isabela Cardoso, diretora do ISC/UFBA e coordenadora dos eixos “Trabalho e Educação na Saúde” e “Modelos de Gestão Hospitalar no SUS”, discutiram o monitoramento e análise de políticas de saúde, o trabalho em rede e as potencialidades dos observatórios.
Coube a Ana Luiza Vilasbôas (ISC/UFBA) apresentar o Projeto Análise Política em Saúde, coordenado por Jairnilson Paim (ISC/UFBA) e constituído por mais de 80 pesquisadores/as de diferentes instituições brasileiras, suas principais perguntas de investigação, metas, alguns dos produtos mais relevantes e os processos de trabalho. “Temos um processo de produção de conhecimento coletivo, colaborativo, onde as pluralidades das abordagens teórico-metodologias são intrínsecas a esse processo de trabalho”, contou. Até então, o projeto soma 40 dissertações de mestrado, 20 teses de doutorado, 4 livros e 30 artigos publicados em periódicos indexados. Ana Luiza destacou a inovação tecnológica e a aprendizagem institucional motivadas pelo trabalho em rede. “Há uma retroalimentação entre os sujeitos pesquisadores e sujeitos militantes, entre a prática política, o fazer acadêmico e os processos decisórios. O projeto não se restringe e nem pretende se limitar à comunidade acadêmica”, afirmou.
Em seguida, Guadalupe Medina (ISC/UFBA) apresentou o Observatório de Análise Política em Saúde, seus objetivos, metas, estrutura de governança, desafios e 11 eixos temáticos, apoiados em 11 grupos de pesquisas. “É uma rede transversal, não uma rede por imposição ou portaria, é uma rede que se constitui a partir de temáticas e problemas de pesquisa concretos”, explicou. Ao navegar pelo site do OAPS, Guadalupe mostrou algumas das ferramentas disponíveis ao público: relatórios de acompanhamento das políticas, produções técnicas e científicas, notícias, vídeos e artigos para debate. A pesquisadora destacou alguns aspectos que considera centrais no Observatório – entre eles, a conformação em rede e “a perspectiva não-neutra, plural, inclusiva e democrática” – e seus principais desafios, como a sustentabilidade do projeto e a articulação com outros observatórios. “A ancoragem numa instituição universitária dá uma outra liberdade e autonomia de expressão, além de amplas possibilidades de produção”, finalizou.
Última a se apresentar na mesa redonda, a pesquisadora Carmen Teixeira (ISC/UFBA) discorreu sobre métodos, estrutura, organização do trabalho e aportes teóricos para o monitoramento das 11 políticas de saúde, que é disponibilizado ao público como relatórios anuais na Matriz. O acompanhamento das políticas realizado pelos eixos, explica Carmen, permite uma ampla compreensão e análise da conjuntura brasileira. Sobre os temas que atravessaram essa conjuntura, a professora destacou o agravamento da crise econômica, a instabilidade institucional, a violência social, o desmonte das políticas sociais e a desconstrução do SUS. “Temos vivido um aprendizado institucional incrível nesses últimos quatro anos. […] Temos feito um esforço enorme para dialogar com os movimentos e com os gestores, sabemos que esse é um grande desafio, que é preciso abrir o diálogo para além dos muros da academia para que a gente não fique falando só para a gente mesmo”, comentou.
Isabela Cardoso (ISC/UFBA), coordenadora da mesa redonda, chamou a atenção para o lançamento do primeiro documentário produzido pelo projeto, que foi exibido ao público durante o 3º CPPGS e, em breve, estará disponível nas mídias do Observatório de Análise Política em Saúde.