“Nossos programas têm responsabilidade de mostrar que estamos fazendo o possível para combater as ações negligentes do Governo Federal no combate a Covid-19”, afirma Gulnar Azevedo, presidente da Abrasco, na abertura da reunião do Fórum de Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Abrasco. O evento aconteceu na quinta-feira (06/05) e contou com a presença de diversos representantes para debater os caminhos e eixos de atuação para garantir um ensino humanizado, atencioso e que se oponha às medidas de sucateamento da saúde e da pesquisa adotadas pelo Governo Federal.
A solidariedade foi o tema central da reunião, onde foram apresentadas diferentes estratégias e ações adotadas pelas instituições de ensino para contornar os efeitos da pandemia nos docentes e também no corpo discente. Como apresentado pelo coordenador do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada da UFRJ, Alexandre Costa, o cenário, que já era dificultoso para alunos da pós – com problemas de acesso, transporte e permanência – apenas se aprofundou com a pandemia. Para o professor, o debate agora também precisa englobar um agravamento de questões relacionadas à saúde mental, luto, perdas familiares e assédio moral, especialmente assédio moral enquanto estrutura de pensamento e processo dentro do sistema de trabalho e ensino.
Algumas alternativas encontradas pelo Programa de Pós Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva da UFRJ/FIOCRUZ/UERJ/UFF (PPGBIOS) foi adotar medidas que sinalizem para um fortalecimento da solidariedade e do afeto, como divisão da carga de aulas entre assíncronas e síncronas, possibilitando uma maior flexibilidade para alunos, principalmente mães e pais, criação da opção de trancamento a qualquer momento. As medidas vão além das salas de aula e comportam o oferecimento de suporte tecnológico, a consolidação de uma Central de apoio à saúde mental de trabalhadores e estudantes desenvolvida para o contexto da pandemia, o CEATE, a criação de uma comissão para orientação e apoio acadêmico e também eventos para reforçar a sensação de pertencimento e união.
O caminho enxergado pela coordenadora da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RESNAF), Anya P. G. Vieira Meyer, foi apostar na solidariedade entre instituições e no fortalecimento da rede de instituições de ensino do Nordeste. O programa dos cursos de mestrado é voltado para a formação de lideranças para atenção comunitária. Devido ao apelo sensível do trabalho, a solidariedade é o sentimento norteador da capacitação desses profissionais, que como apontado pela discussão, não são telas em branco, mas pessoas com formação e com experiência de atuação na área. A representante apresentou relatos em vídeo de alunos egressos dos cursos de mestrado que reforçaram a importância da formação técnica para atuação em suas áreas. A RENASF é atualmente, além de um programa de pós-graduação, uma rede de pesquisa, ensino e formação e teve o curso de doutorado aprovado recentemente pelo CAPES, o curso está em processo de formação da primeira turma. Para Anya, o exercício da solidariedade no ensino passa também por um exercício de autoconhecimento, pela capacidade de aprender com acertos e desafios dos pares, e principalmente por não ter receio de expor os programas em suas dificuldades. O caminho para crescimento precisa ser percorrido com união.
Coletivo é também o esforço do Mestrado Profissional em Saúde da Família (PROFSAÚDE), organizado pela Abrasco e pela Fiocruz, representado na reunião por Maria Cristina Rodrigues Guilam, que pontuou que os rumos para fortalecimento da Fiocruz no país está na articulação com entidades locais e regionais para identificar problemas específicos das regiões e pensar soluções coletivas para as questões. Nesse exercício de reflexão ações como fortalecimento da experiência do Ensino à Distância (EAD) e a participação em redes, associações e consórcios são atitudes que possibilitam uma maior adesão à oferta de cursos profissionalizantes de mestrado e doutorado.
A conversa também pontuou formas de fortalecer a participação das sociedades científicas na criação de políticas públicas de combate à Covid-19, o desmonte do CNPQ e vislumbrar saídas para enfrentar a crise sanitária e fortalecer o SUS, a pesquisa e o ensino em Saúde Coletiva. A próxima reunião do Fórum acontece no dia 10 de junho.