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Fórum de Pós-graduação como um ato contínuo e cotidiano de resistência

São Paulo acolheu nos dias 23 e 24 de maio a primeira reunião de 2018 com o Fórum de coordenadores de programas de pós-graduação em Saúde Coletiva da Abrasco que mobilizou representantes dos quase 80 programas brasileiros para ouvir a opinião de Oswaldo Y. Tanaka (Diretor da FSP/USP); Moisés Goldbaum (FM/USP); e Gastão Wagner, presidente da Abrasco que analisaram a conjuntura e os impactos sobre a saúde coletiva. Também participaram Bernardo Horta, Guilherme Werneck e Rita Barradas Barata, que debateram a Capes e as mudanças do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia & Inovação. A última mesa redonda trouxe o professor Ricardo Kuchenbecker (UFRS) e Tatiana Wargas (Fiocruz – RJ) que falaram sobre o Ensino na Pós-Graduação em Saúde Coletiva: o lugar das tecnologias ativas na formação pós-graduada.

Acesse aqui as apresentações, fotografias e vídeos desta reunião.

Logo pela manhã do primeiro dia, o professor Tanaka pontuou que este é “Um momento é muito importante para rever e reinventar a saúde pública para o país nos próximos anos, porque este momento difícil vai exigir não só adaptações, mas revisões profundas em nossos programas de pós-graduação, incorporando novas técnicas e metodologias pedagógicas, discutindo novas formas de captação e incentivo de novos alunos de pós-graduação, o papel dos egressos dos cursos, a reinserção destes no mercado de trabalho com a intencionalidade de transformar a saúde pública brasileira num real direito do cidadão”.

A seguir, nas reflexões sobre a Epidemiologia no Brasil, o professor Moisés Goldbaum chamou atenção para a escassez de bolsas e recursos para a pós-graduação, com repercussões para a Ciência e Tecnologia no Brasil: – “Vivemos hoje sob o olhar de gestores de curto prazo, voltado para os interesses mais imediatos da gestão e no seu tempo à frente da área, ou seja, há uma falta a perspectiva de longo prazo”. Goldbaum falou ainda sobre a Epidemiologia como uma disciplina do campo da Saúde Coletiva: – “O pertencimento ao campo valoriza sua atuação na discussão coletiva. A imersão na Saúde Coletiva é algo que a diferencia em relação a outros países. No Brasil, a Epidemiologia sempre foi parte do movimento da Saúde Pública e depois da Saúde Coletiva. Nunca se desenvolveu separadamente do campo da Saúde Coletiva. Moisés deu ainda destaque para a gestão de Gastão Wagner como Secretário Executivo do Ministério da Saúde que protagonizou a criação de uma Secretaria de Ciência & Tecnologia e Insumos Estratégicos. “Que os jovens pesquisadores tracem novos caminhos e aos de melhor idade: resgatem a história, visando evitar erros e equívocos. Minha mensagem final é a palavra amargura que se transforma em amar cura!”, pediu Goldbaum.

Como debatedor da Mesa com Tanaka e Goldbaum, o professor Gastão Wagner, presidente da Abrasco, reforçou que estamos num contexto liberal que não nos permite brincar: – “Fazer a defesa do sistema público é extremamente importante, temos que levantar a bandeira do desenvolvimento humano frente a bandeira do crescimento econômico. Precisamos tencionar e criticar e ter projeto pragmático de construção de alternativas. A humanidade nunca produziu tanta riqueza, mas não há dinheiro para pagar direitos trabalhistas. A postura tem que mudar. Saúde coletiva é postura ética com as pessoas, com o desenvolvimento humano. Temos dificuldade de mobilizar, mas temos um coletivo que resiste, com participação em diferentes âmbitos do sistema. Este Fórum preserva a integração e fortalece nossa discussão”, refletiu Gastão.

O debate da parte da tarde se baseou no fomento e financiamento da pós-graduação no Brasil com explanações de Rita Barata, Guilherme Werneck e Bernardo Horta. Para Rita: – “Nos encontramos num momento de enorme desvalorização do saber acadêmico, são muitas e recorrentes as pressões para tornar o ensino superior pago no país. Interesses fortemente constituídos no MEC e no CNE. Não há exigência nenhuma hoje sobre como se abrir uma escola. A Capes é o único reduto ainda de preservar a qualidade. A pressão também vem das instituições públicas recém-criadas pois para ser universidade é preciso ter pelo menos 4 cursos de pós-graduação, o que faz com que algumas faculdades pressionem bastante para conseguir ter seus cursos”, criticou Rita que este à frente da Divisão de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior até abril deste ano.

Guilherme Werneck, que esteve 4 anos como coordenador da área da Saúde Coletiva na Capes, começou sua fala com uma homenagem à Rita Barradas: – “É importante que a área reconheça o papel que Rita teve à frente da DAV, e cito dois aspectos: não haveria avaliação quadrienal; a saída da Rita da DAV expressa todo o esforço que ela teve de buscar resistir para que esse sistema público mantivesse público. Há uma sinalização dura para a comunidade da vitória de setores que não têm interesse em manter público. Voltamos a um cenário de restrição de manifestações de posições e interesses das áreas. Quando entrei na Capes fiquei surpreso com o Conselho Técnico-Científico – CTC de 49 coordenadores que pensam muito diferente e têm expectativas também diferentes. Eu classifico o Conselho Técnico-Científico da Capes em 3 grupos: aqueles coordenadores que “não estavam nem aí”, os que concordavam sempre com o chefe e os que traziam discussões e propostas. Na maior parte das áreas não existe uma discussão para dentro, como fazemos na Saúde Coletiva. Nossa área está bem representada, mas não é o que ocorre em outras. Apesar de todos os problemas o CTC foi um espaço de resistência. Aqui somos muito resistentes”, disse Werneck.

Bernardo Horta, que assumiu agora a coordenação da Saúde Coletiva na Capes, se apresentou ao Fórum pedindo: – “Vamos exercitar nossos afetos e não os desafetos e constituir um ato contínuo e cotidiano de resistência. Nossa primeira reunião na semana passada mostra ambiguidade e incerteza, devemos caminhar no sentido propositivo. Na reunião vi sinalizações de que ocorrerão mudanças com novas sugestões e propostas para a avaliação até final de junho. Se não mandarmos não poderemos cobrar depois. Qual a situação atual da Saúde Coletiva? Estamos com 51 acadêmicos e 40 profissionais – o quadro regional ainda é muito desigual. Continuamos com um grande vazio na região norte e centro-oeste. Dentro do possível devemos começar a trazer o novo”, pediu Horta.

Sobre o lugar das tecnologias ativas na formação pós-graduada Tatiana Wargas falou sobre a construção histórica desse campo e depois indagou: – “Internacionalização da produção? Para quê? Para quem? É a forma melhor? Precisamos retomar a Saúde Coletiva como um campo de conhecimento e reconhecer esse campo com o movimento da Reforma Sanitária”. Tatiana abordou ainda os efeitos e contradições do modelo atual da pós-graduação, o chamado Efeito Mateus.

A tarde do dia 23 deu espaço para uma plenária final mais ampliada. Após a apresentação do professor Ricardo Kuchenbecker do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, falou sobre os processos abissais entre o ensino e a aprendizagem. Ricardo abordou ainda a epidemiologia apropriada pela população – é possível? Perguntou. “As pessoas podem buscar compreender a lógica epidemiológica? O modo de ensinar a epidemiologia, a forma como traduzo meu pensamento na linguagem e como fazer com que as pessoas se apropriam das informações para que possam fazer suas escolhas, o compromisso com o ensino precisa seguir aberto”, pediu.

Na plenária final, os coordenadores do Fórum Adauto Emmerich e Sérgio Peixoto agradeceram o apoio da professora Cleide Lavieri Martins, docente do Departamento de Política, Gestão e Saúde da FSP/USP, que mobilizou a equipe para a reunião, além de registrar o trabalho envolvido da professora Mônica Angelim, a terceira coordenadora do Fórum que por motivos de saúde não pode participar da reunião. “Saímos daqui com o rascunho da Carta de São Paulo que será finalizada com o intuito de corresponder exatamente às falas, fatos e sentidos discutidos em nosso Fórum. Agradeço mais uma vez, a participação de todos, em especial à Cleide e sua equipe de São Paulo que acolheu nosso debate. Fortaleza provavelmente irá organizar o nosso próximo encontro que será no fim de novembro”, revelou Adauto. O coordenador pontuou ainda o apoio da Secretaria Executiva da Abrasco na transição de representantes da área e fez um agradecimento especial para Gastão Wagner: – “O presidente da Abrasco esteve em todas as reuniões do Fórum e isso é extremamente importante, por isso já deixo aqui o convite para que a próxima diretoria da Associação nos prestigie em novembro” disse Adauto. Houve ainda na plenária proposta de que o próximo fórum poderia incluir os GTs em formato de oficinas para produzir material que balizasse a avaliação dos programas pela Capes, na área da Saúde Coletiva.

Esta reunião do Fórum de pós-graduação da Abrasco foi organizada localmente pelos Programas de Pós-Graduação da Faculdade de Saúde Pública da USP – Saúde Pública; Nutrição em Saúde Pública; Saúde Global e Sustentabilidade; Epidemiologia; e Entomologia em Saúde Pública, tendo como coordenadores: Cleide Lavieri Martins, Dirce Marchioni, e Aylene Bousquat; Pós-graduandas: Fabiana Martins Soares de Souza, Vanessa Gusmon da Silva, Lays Janaína Prazeres Marques, Patrícia Marques Moralejo Bermudi, Raquel Gardini Sanches Palasio, Gisele Aparecida Fernandes e como Secretária: Maria Aparecida Mendes.

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