O GTCOM resulta de encontros entre profissionais de saúde e de comunicação, que fazem da pesquisa e da docência uma chave para entender e fortalecer uma prática. Encontros entre pessoas e entre dois Campos, numa constante construção do novo, do que não é somente Saúde nem somente Comunicação, movimento ao qual imprimem permanentemente novos sentidos.
O primeiro dos encontros aconteceu em 1989, em Belo Horizonte (MG), em Encontro promovido pela Fundação Ezequiel Dias/Belo Horizonte, apoiado pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS). Nesta ocasião, alguns dos futuros membros do GTCOM tiveram o privilégio de encontrar o Prof. Fernando Lefévre (Professor Titular da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo) referência inicial e apoiador incondicional para a criação do grupo. Um segundo encontro aconteceu durante o 1º Encontro de Ciências Sociais em Saúde em 1993. O terceiro encontro, fundador do GTCOM, aconteceu no Rio de Janeiro (RJ), no IBAN – Instituto Brasileiro de Administração Municipal do Rio de Janeiro. A partir de então, os esforços ainda predominantemente isolados e individuais foram reunidos no GTCOM, que foi reconhecido pela ABRASCO. (Veja mais detalhes em: https://www.abrasco.org.br/UserFiles/File/ABRASCO_25_ANOS/10%20Cap-cronoediretor.pdf )
É nesse cenário que o GTCOM se institucionaliza e inicia a construção de cumplicidades e alianças com outros grupos temáticos, comissões e grupos de trabalho da ABRASCO, em especial com os GT de Educação e de Informação.
Vários outros encontros aconteceram e foram responsáveis pelos eixos temáticos, linhas de pesquisa e atual composição de seus participantes, porém destacamos o IV Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, de 19 a 23 de junho de 1994, em Olinda (PE), momento no qual o tema saiu da esfera de um pequeno grupo e foram promovidos eventos abertos. Naquele ano, depois de um longo debate sobre as questões que o GTCOM pretendia articular e sobre a necessidade de repensar teorias e metodologias específicas para o campo, foi produzido um Termo de Referência que orientou o debate e as ações do GTCOM e de seus membros.
Referências
O GTCOM se identifica como um grupo temático por se reconhecer como espaço de estudo e intercâmbio científico complementar aos órgãos diretivos, parte da estrutura consultiva e de assessoramento da ABRASCO, mantendo como foco a ação política e a articulação entre instâncias da ABRASCO com instituições universitárias e sociedade civil organizada (Regimento Interno do GTCOM, em processo de construção/ aprovação )
Desde sua criação o GTCOM apresenta como principal proposição o reconhecimento de que a comunicação é uma dimensão central da saúde e fundamental para as propostas da Reforma Sanitária e do Sistema Único de Saúde – SUS. De início, o GTCOM propôs e assumiu como tarefa realizar – por meio de ação prática, de representação em conselhos e comissões, da articulação dos espaços e atores da academia, da gestão e dos serviços, do vínculo entre reflexão, prática e política e também por meio do desenvolvimento de trabalhos de pesquisa, artigos técnicos, políticos e científicos – a revisão crítica da longa trajetória ‘campanhista’ que marcou a configuração das práticas de comunicação na saúde, de caráter normativo e instrumental, distante das propostas e da lógica da Reforma Sanitária e do SUS, assim como dos modelos e teorias que as sustentavam.
Nestes anos, muitas frentes de atuação foram abertas, conjugando pesquisa e desenvolvimento metodológico, assessoria e cooperação técnica, desenvolvimento de políticas e estratégias. São temas que se articulam em três eixos que os delimitam e nos estruturam como grupo: política, formação e pesquisa. Entre os temas trabalhados estão:
- Cobertura midiática sobre saúde
- Comunicação e controle/participação social
- Comunicação e políticas públicas de saúde
- Comunicação na ação de redes: regionalização e Governança
- Comunicação no âmbito dos serviços e ações de saúde
- Conexões entre mídia, midiatização e medicalização
- Democratização de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação
- Dispositivos públicos de visibilidade de demandas de saúde
- Diversificação de espaços de pesquisa e intercâmbio com outros países
- Fomento a publicação científica sobre o tema em periódicos das áreas
- Formação de profissionais de saúde e de comunicação
- Impactos e possibilidades abertas pela internet e mídias sociais
- Modelos de assessoria de imprensa e de campanhas publicitárias
- Políticas de Comunicação e saúde
- Relação entre comunicação e desigualdade na saúde.
- Relação entre comunicação e os determinantes sociais da saúde
Durante estes vinte anos o GTCOM vem buscando articular diferentes campos do conhecimento. No entanto, se existem diferentes formas de compreensão e modos de intervir que não são estranhos aos membros do GTCOM, há um consenso mínimo e um conjunto de relações institucionais que aproximam os seus membros, além da própria natureza do objeto de reflexão do grupo, que desde a sua criação vem procurando atender aos requisitos e chamamentos de um campo do conhecimento eminentemente transversal ao conhecimento acumulado no campo da Saúde Coletiva, a demandar, portanto, uma prática articulada e cooperativa entre seus membros (Documento “Memórias de uma Construção”, GTCOM-Abrasco, 2006:1.)
Reconhecemos e destacamos como importantes esforços, de articulação e desenvolvimento de referências os seguintes marcos em nossa história:
Em 1991, Áurea Maria da Rocha Pitta e Ilara Hammerli Sozzi Moraes realizaram, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), o primeiro curso de pós-graduação de comunicação e informação em saúde, na modalidade de aprimoramento. (Em 2004 esse curso tornou-se especialização)
Os cursos tiveram um papel mobilizador estratégico e se transformaram nos primeiros passos de uma produção científica organizada, de constituição de núcleos institucionais em diferentes regiões do país e de institucionalização e reconhecimento em relação a outros saberes, instituições e campos profissionais.
Em 1993, a busca de uma relação mais estreita com o controle público dos serviços e ações de saúde foi objeto de um seminário e da publicação do número 1 da série “Saúde & Movimento”.
Inicia aqui um movimento de parceria com diferentes universidades brasileiras, com cursos em comunicação e cultura voltados para profissionais da saúde.
Em 1995, como consequência desse movimento de alianças acontece o lançamento o livro Saúde e Comunicação: visibilidades e silêncios, publicação coordenada por Áurea Maria da Rocha Pitta e Flávio Magajewski, com conteúdo e colaboração de diferentes membros do GTCOM.
No temário, diferentes perspectivas, autores, instituições, enfoques: novas tecnologias, poder simbólico, democracia, descentralização do processo decisório e das ofertas de serviços, além de usos da mídia, foram alguns dos temas e problemas apresentados para o campo.
Em 1997, foi entregue ao Conselho Nacional de Saúde, levantamento do perfil tecnológico da área de comunicação no SUS, pesquisa sobre a percepção dos representantes de usuários na 10a Conferência Nacional de Saúde (Brasília, em 1996) (Veja mais em Documento levantamento do perfil tecnológico da área de comunicação no SUS)
A intenção, inicialmente mais modesta, de um reconhecimento da forma como as tecnologias de Comunicação utilizadas pelo SUS eram percebidas pelo representante de usuários à Conferência, foi surpreendida – como seria de se esperar de um estudo qualitativo – pela riqueza dos campos de análise que se abriram e que transcendem em muito nossas expectativas originais. No entender, portanto, do grupo de pesquisadores, o material reunido esteve além, em termos de densidade, do que as disponibilidades momentâneas do grupo de se debruçar mais detidamente sobre ele.
Em 2000, Áurea Maria da Rocha Pitta e Flávio Magajewski realizam um esforço de levantamento e análise de cenário e reconhecem que no plano acadêmico ocorria um desenvolvimento crescente no campo da comunicação, o mesmo não acontecendo no plano das políticas governamentais. (Ressalte-se que o nome genérico – comunicação e saúde – envolve a informação, a educação e a comunicação propriamente dita, e nesse documento os autores chamam a atenção para a necessidade de integração dessas três dimensões)
A preocupação com uma reflexão acadêmica entre as relações Comunicação e Saúde data da segunda metade dos anos 80. Pode-se identificar como uma primeira expressão mais estruturada desta preocupação o Encontro de 1989 (primeiro encontro)e desde então foram lançadas as bases conceituais para o aprofundamento deste tema.
Em 2003, acontece a 12ª Conferência Nacional de Saúde com programação com eixo que contemplou os temas da Informação, da educação e da comunicação na saúde.
O GTCOM é representado por Wilma Madeira que, em palestra fala sobre a contradição existente entre o discurso de democratização da gestão do SUS (descentralização com gestão participativa) e o exercício cotidiano do modelo centralizado da comunicação. O tema da 12a Conferência “A saúde que temos, o SUS que queremos”, mostra que o SUS buscava novos caminhos e o GTCOM afirma que é o exercício cotidiano da comunicação policêntrica, que é possível fortalecer e traduzir para a prática os princípios de equidade e universalidade do SUS.
Em 2004, acontece a Pesquisa Fala Conselheiro! Análise de estratégias e redes de interesse na XII Conferência Nacional de Saúde. Essa pesquisa foi coordenada por Wilma Madeira e Inesita Soares Araujo, primeira parceria em pesquisa realizada entre o GTCOM da ABRASCO e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/ Fiocruz).
Nesta pesquisa, experimentamos a utilização combinada de dois métodos de análise de discursos desenvolvidos em diferentes universidades: o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) proposto por Fernando Lefèvre (Faculdade de Saúde Pública/USP) e a Análise Social dos Discursos (ASD) desenvolvido por Milton Pinto e seus discípulos (Escola de Comunicação/UFRJ).
Em 2005, resultante dos esforços de Ana e Fernando Lefèvre, foi realizado o Seminário DE DENTRO PARA FORA (e também de fora para dentro), integrando conhecimento científico e conhecimento do senso comum.
O conhecimento sobre saúde e doença é (ou deveria ser) um só,compartilhado entre os técnicos e os leigos, é uma exigência da modernidade.O objetivo deste seminário foi contribuir com reflexões e experiências para este mais que necessário diálogo, envolvendo o campo da saúde e da doença, entre o conhecimento científicogerado na academia e os outros conhecimentos, gerados fora dela.
Em 2006, é lançado o primeiro edital que acolheu uma pesquisa de Comunicação e Saúde – o Edital MCT/CNPq/MS-SCTIE-DECIT 23/2006 – que significou o reconhecimento do tema como prioritário para pesquisas em saúde.
Importante inclusão na agenda nacional de pesquisas, gerou resultados como uma pesquisa nacional sobre comunicação no SUS, envolvendo diferentes universidades e centros de pesquisas brasileiros.
Em 2007, novo esforço para organização e sistematização do tema acontece e Inesita Soares de Araújo e Janine Miranda Cardoso produzem e publicam o livro Comunicação e Saúde, pela Editora Fiocruz.
Comunicação e Saúde é um termo que indica uma forma específica de ver, entender, atuar e estabelecer vínculos entre estes campos sociais. Distingue-se de outras designações similares, como comunicação para a saúde, comunicação em saúde e comunicação na saúde. Embora as diferenças pareçam tão sutis que possam ser tomadas como equivalentes, tenhamos em mente que todo ato de nomeação é ideológico, implica posicionamentos, expressa determinadas concepções, privilegia temas e questões, propõe agendas e estratégias próprias.
Em 2009, o GTCOM organiza e a ABRASCO assina Carta de Aberta aos delegados da 1ª Conferência Nacional de Comunicação Social (Confecom).
Como resultado de um Fórum e debate sobre o tema, Fórum de Políticas Públicas de Comunicação e Saúde: desafios e agenda da Conferência Nacional de Comunicação, realizado durante o IX Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Recife, 31 de outubro a 4 de novembro de 2009), que ampliou o tema e gerou compromisso da ABRASCO no fortalecimento das ações de democratização da comunicação social no Brasil.
Em 2012, resultante dos esforços de Ligia Rangel e Tetê Marques, acontece o 1º Encontro Nordeste Comunicação e Saúde, realizado pelo GTCOM da Região Nordeste, sendo o primeiro evento realizado por um núcleo regional.
Esse encontro reuniu mais de 200 profissionais de saúde e de comunicação, de diferentes estados brasileiros, ouvindo, falando, debatendo e reconhecendo estudos e experiências exitosas do campo.
Em 2013, acontece em Recife, durante a Conferência Regional de Determinantes Sociais da Saúde (DSS), um encontro entre membros do GTCOM e convidados, que ao final elaboram uma Carta de Recife sobre Comunicação e DSS.
Para compreender o lugar da Comunicação na luta contra as iniquidades em saúde é necessário antes compreender o modo pelo qual ela constitui os processos sociais de determinação dessas iniquidades. Mas, para isto, é preciso que vejamos a comunicação para além de sua dimensão instrumental, que estabelece para ela um lugar subsidiário e aparentemente neutro no campo da saúde. É preciso entender a comunicação como um processo social, estruturante dos demais processos. É pela comunicação que se formam os sentidos da vida e do mundo que organizam as relações na sociedade; é pela comunicação que se imprime sentido às realidades, portanto que se constroem as realidades. (…). ( Veja mais em: http://dssbr.org/site/entrevistas/a-comunicacao-como-ciencia )
Em 2014, como resultado de diferentes articulações, e alianças institucionais, o GTCOM testemunha a aprovação do Marco Civil da Internet no Brasil.
Entendemos que o Marco Civil deve considerar e responder diretrizes constitucionais e contemplar demandas sociais relativas à Saúde, garantir o processo democrático e ajudar no debate sobre temas pungentes para a democracia participativa nos processos decisórios e de efetivação (garantia) do Direito da Saúde, possibilitando a utilização crescente e democrática de instrumentos (ferramentas) eletrônicos, da Comunicação e do SUS. A Internet é um bem público, dos diálogos da sociedade civil, do processo criativo da sociedade e do exercício democrático. Consideramos a Comunicação, a Informação e o Controle Social como partes estruturantes da democracia, da qualidade e da Universalização do SUS.
Durante esses anos, outras articulações e alianças foram sendo trabalhadas. São muitas e diversas as pesquisas resultantes dos cursos de pós-graduação e articulações entre universidades. A presença de membros do GTCOM orientando em cursos de pós-graduação, no desenvolvimento de projetos de pesquisa, em assessorias e em publicações especializadas demonstra a legitimidade acadêmica dos quadros de pesquisadores e docentes, e a capacidade mobilizadora e integradora do tema, que acabou buscando parcerias em grupos de estudos e pesquisas em comunicação de diferentes universidades brasileiras, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade de Brasília (UnB).
Dentre outras atividades do GT, destaca-se também a promoção de mostras de filmes. O sucesso da iniciativa, ampliando as linguagens e os modos de enunciação da saúde, permite afirmar que ela não se restringe ao âmbito do GTCOM, incorporando-se organicamente aos encontros da ABRASCO.
Promovendo encontros, oficinas, mesas-redondas, painéis e fazendo da comunicação um campo de reflexão e produção de conhecimento, debates acadêmicos e novas práticas, o GTCOM busca dar concretude à articulação entre luta política e debate acadêmico, ao mesmo tempo em que faz dessa luta e desse debate os eixos permanentes de sua estruturação, ampliação legitimação e reconhecimento público.
Coordenação:
Adriano de Lavor Moreira
Liandro Lindner
Nadja Maria Souza Araújo
Aluízio de Azevedo Silva Júnior
Anderson dos Santos Machado
Bruno Cesar Dias
Clarisse Castro Cavalcante
Claudia Malinverni
Daniela Savaget Rezende
Dom Condeixa de Araújo
Helena de Moraes Fernandes
Inesita Soares de Araujo
Janine Miranda Cardoso
José Gadelha da Silva Júnior
Juciano de Sousa Lacerda
Juliana Lofego Encarnação
Katia Lerner
Mariela Pitanga Ramos
Raquel Aguiar Cordeiro
Rodrigo Murtinho de Martinez Torres
Sandra Raquew dos Santos Azevedo
Silvia Bezerra dos Santos
Wilma Madeira da Silva
20 de novembro, a luta antirracista continua!
Revista Ciência & Saúde Coletiva – novembro de 2024
Em breve.