O vírus H5N1 ainda é misterioso com relação ao seu alcance e letalidade, o que faz um possível quadro de pandemia global da gripe aviária impossível de ser previsto com exatidão. A boa notícia é que o Brasil será o primeiro país em desenvolvimento capaz de produzir vacinas contra o tipo sazonal e pandêmico do vírus, assim que o Ministério da Saúde julgar necessário. A novidade foi anunciada no painel “Da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) à gripe aviária: lições aprendidas e novos desafios”.
O país já tem pronto um plano de enfrentamento e combate do H5N1, caso um cenário de pandemia venha a se tornar realidade – o que ainda parece distante de acontecer. Tratam-se com ações pragmáticas coordenadas e, em alguns casos, simuladas, nos níveis federal e estadual em termos de monitoramento, comunicação, prevenção e tratamento. “A coordenação e integração de ministérios e governos é fundamental neste quadro”, diz Jarbas Barbosa Silva Jr., secretário de Vigilância em Saúde.
Medicamento
O governo brasileiro investiu milhões de dólares na compra de 9 milhões de doses do medicamento osetalmivir. “Com esta droga podemos medicar as primeiras pessoas contaminadas enquanto fabricamos a vacina com a exata cepa do vírus equivalente ao grau da doença naquele momento”, explica Silva Jr. “Não adiantaria fabricarmos uma vacina agora para uma pandemia futura cuja letalidade desconhecemos”.
É importante distinguir a influenza sazonal – que ocorre geralmente em países com invernos muito rigorosos, suscetíveis a cepas mais fortes do vírus – e a gripe aviária: doença ainda considerada veterinária, com alto grau de letalidade (58% dos contaminados morrem), que tem alarmado a Ásia e se alastrado para a Europa, mas que, por enquanto, matou 238 pessoas em todo o mundo. “O vírus é o mesmo, mas cada doença tem um quadro diferente”, ressalta Silva Jr.
O Ministério da Saúde aposta no modelo europeu de enfrentamento da gripe aviária, que, com infra-estrutura médica e capacidade de ação, tem dado certo. “O problema são países como os asiáticos em que um agricultor pobre reluta em matar toda sua criação de frangos”, explica Silva Jr. Aliás, o Brasil, como maior produtor destas aves do mundo, poderia perder cerca de 4 milhões de postos de trabalho, caso a gripe aviária se torne ma pandemia nos trópicos. Isto, sem falar nos riscos à saúde pública. Por isso, o monitoramento rigoroso ainda é a melhor forma de prevenção. O diagnóstico não deve passar de 48 horas.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, acredita-se que o fato de a população estar sendo vacinada contra a influenza pode garantir maior resistência em caso de pandemia de gripe aviária. “Temos de estar preparados para o pior, mesmo que este quadro não venha acontecer e que não haja comparação a pandemias históricas como a gripe espanhola, que pode ter matado até 40 milhões no século passado, quando não existiam sequer antibióticos”, diz Silva Jr.
Prevenção
Os sistemas de saúde pública do mundo estariam preparados para enfrentar tamanho flagelo? Essa é a questão central que foi discutida pelo especialista norte-americano Georges Benjamin, da American Public Health Association (APHA). A partir da apresentação das medidas que estão sendo discutidas e preparadas nos Estados Unidos para deter a doença, Benjamin ponderou se o mundo está realmente preparado para enfrentar a gripe aviária. Até o momento, milhões de aves já morreram ou foram sacrificadas dentro das medidas para conter o vírus da doença, que em sua forma mutável pode ser altamente transmissível entre humanos.
Tida como uma das maiores ameaças para a ocorrência de uma pandemia, a gripe aviária é uma das doenças que mais tem provocado a emissão de alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo alguns especialistas, é uma questão de tempo para essa doença contagiosa e altamente patogênica avançar pelo mundo. Para o Brasil, a previsão de chegada da doença foi estimada a partir de setembro próximo. Segundo o Banco Mundial, a pandemia prevista de gripe aviária deve significar gastos na ordem de U$ 800 milhões ao redor do planeta.