O Grupo Técnico do Eixo Epidemiológico do Plano Operacional da Vacinação contra Covid-19” emitiu na quarta-feira, 9 de dezembro, nota pública sobre questões fundamentais do plano a ser implementado no país. O documento destaca a importância de o Ministério da Saúde seguir as recomendações técnicas dos eixos geridos pela Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI), acompanhando, assim, evidências científica e evitando eventuais cenários políticos de fundo. A necessidade de inclusão de mais grupos populacionais entre os prioritários para receber a vacinação e a adoção de todas as vacinas que se mostrarem eficazes e seguras são os principais destaques da nota.
Incorporação das vacinas seguras e eficazes
Segundo Ligia Kerr (UFC), que compõe o grupo representando a Abrasco, a realidade para imunização de toda a população brasileira ainda não está totalmente definida para o ano de 2021 e, por isso, o planejamento a ser feito exige mais detalhes: “Estamos vivendo um cenário onde dificilmente poderemos atingir o montante de vacinas que será necessário para a adequada cobertura de vacinação dos mais de 200 milhões de habitantes, como é o caso do Brasil. Desta forma estamos restringindo a vacinação a grupos prioritários, para todo o ano de 2021″.
Para sanar tal questão, será necessário adquirir doses de diferentes fabricantes para alcançar o maior número de pessoas. Neste ponto, o documento do grupo técnico destaca a demora do Ministério da Saúde em estabelecer negociações com laboratórios que estão em fase conclusão dos estudos sobre a eficácia das vacinas. Até o momento, o Ministério tem somente uma única alternativa à AstraZeneca incluída em seu planejamento, que seria a vacina produzida pela Pfizer e que requer esforços logísticos maiores por conta da cadeia de frio necessária. Vacinas como a CoronaVac, do Instituto Butantan, e outras candidatas em fase avançada de testes clínicos seguem ignoradas pelo planejamento do Ministério, dificultando a ampliação da população a ser atendida.
Ampliação de grupos prioritários e fortalecimento do PNI
Ethel Maciel (UFES), que também representa a Abrasco no grupo técnico, criticou a retirada de segmentos populacionais das prioridades estabelecidas para vacinação: “O Governo tentou retirar a população privada de liberdade quando deveria ampliar para todas populações vulneráveis e trabalhadores essenciais”. Além de recolocar a população privada de liberdade no planejamento, o documento aponta a necessidade de incluir ainda populações quilombolas, ribeirinhas, pessoas com deficiência, profissionais da educação e trabalhadores essenciais.
O grupo enfatiza ainda que o atraso do programa de vacinação significa a perda de mais vidas e lembra que o PNI é referência mundial. Esse reconhecimento é creditado à ação de diversos agentes que compõem a área da Saúde e a estruturação do SUS: “Tal feito foi obtido graças à dedicação de seus quadros técnicos e da parceria com entidades científicas e conselhos ligados à saúde pública em nosso país, garantindo ações baseadas em evidências, alheias a eventuais cenários políticos de fundo”. Nesse sentido, Ethel Maciel traz também a preocupação da desarticulação do PNI e de uma corrida para que a estados e municípios corram para garantir a imunização em seus territórios. Segundo a abrasquiana, se o governo federal não liderar e coordenar as ações, o país pode ter sérios problemas que vão desde insegurança nas informações sobre as pessoas imunizadas até o aprofundamento de desigualdades regionais, tendo em vista que muitos municípios e estados podem não ter recursos para fazer tais compras.