Dificuldades e contratempos que se surgiram no processo de organização e planejamento do evento transformaram-se, pela força do coletivo, numa maior capacidade de articulação, promovendo assim um salto qualitativo num dos princiais eventos científicos da Saúde Coletiva no ano de 2019. Essa foi a sensação que abrasquianos associados ao Grupo Temático Vigilância Sanitária (GT Visa/Abrasco) e integrantes da Secretaria Estadual de Minas Gerais e da Secretaria Municipal de Belho Horizonte que compuseram a Comissão Organizadora Local expressaram na reunião de avaliação do 8º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária (8° Simbravisa). A atividade aconteceu na Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (SES/MG), instituição que acolheu e apoiou todas as etapas do Simpósio, nos dias 5 e 6 de março, e reuniu cerca de 30 participantes, entre pesquisadores, docentes e profissionais do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária de seis estados.
“Quando começamos nosso planejamento, em março de 2018 e, já inspirados em Guimarães Rosa, escolhemos os caminhos e descaminhos da Visa para orientar o primeiro dia do Simpósio. Com essa decisão, nós tivemos que introduzir novas atividades, buscar metodologias inovadoras para abordar temas relevantes para os simposiastas”, explicou Luiz Antônio Dias Quitério, coordenador da Comissão Científica. No primeiro dia do simpósio, em 25 de novembro de 2019, oito problemas emblemáticos do cotidiano das vigilâncias sanitárias foram apresentados e debatidos em oito salas no período da manhã. No início do período da tarde, os oito problemas, agrupados em pares por similaridade temática (produtos, serviços de saúde, medicamentos e meio ambiente/ambiente de trabalho), foram tema de quatro mesas-redondas. O primeiro dia terminou com o Grande Encontro, realizado no final da tarde, ocasião em que as questões tecno-científicas abordadas nas atividades anteriores foram recolocadas a partir da perspectiva socio-econômica e política. O objetivo desse arranjo era fazer a transição, desde os problemas práticos vivenciados pelos trabalhadores de VISA no seu cotidiano até os aspectos determinantes desses problemas, que se localizam no modo como a sociedade de organiza ou não para proteger e promover a saúde dos seus cidadãos.
Quitério apresentou também a avaliação da programação científica, resultado da tabulação da pesquisa de satisfação preenchida pelos participantes do 8º Simbravisa. Os gráficos mostram que os participantes aprovaram a novidade inserida no primeiro dia do evento. Ainda que sejam necessários ajustes, foi consensual que essa nova forma de organizar o Simbravisa tem tudo para voltar a ser aplicada nas próximas edições. A avaliação das Discussões Temáticas (DT), modalidade de apresentação de trabalhos exclusiva dos Simbravisa desde a terceira edição (Florianópolis, 2006), foi comparada com a edições anteriores (7º e 6º Simbravisa). “As DT deverão passar por uma resignificação, de modo a atender os anseios dos simposiastas, expressos na pesquisa de satisfação”, ponderou o coordenador da Comissão Científica. Houve ainda a apresentação da avaliação e resultados do programação cultural e do projeto “Cartas de Guimarães”, liderado e apresentado por Daniella Guimarães, e dos dados gerais do evento, por Edna Covem. Coube à Secretaria-Executiva da Abrasco, liderada por Thiago Barreto, apresentar os resultados financeiros e os desdobramentos do evento para o setor de Relacionamento com Associados da Abrasco.
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O 8º Simbravisa refletiu sobre dilemas e tensões do encontro da prática cotidiana da Vigilância Sanitária com o conhecimento científico e com a conjuntura política e social brasileira. “Esse Simbravisa se propôs a discutir os caminhos e descaminhos do Estado, da Saúde e da Democracia num momento de desmonte de direitos e forte polarização em nossa sociedade. Realizar essa transição das questões do cotidiano para uma análise maior é realmente um desafio. As pessoas vêm a um evento científico como o Simbravisa e muitas vezes querem obter respostas, enquanto queremos mais é apresentar outras formas de ver e enfrentar os dilemas do campo e da sociedade. Isso também é muito benéfico, tira as pessoas das suas zonas de conforto” apontou Ana Maria Figueiredo, membro da comissão cultural e científica.
Parcerias antigas, novas e recontextualizadas: Nas diversas intervenções ao longo do dia, o grupo também analisou as parcerias e alianças construídas na realização do Simbravisa. Esta foi a primeira edição em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não esteve presente em nenhuma etapa do evento, contando com a participação individual de técnicos e analistas. As situações decorrentes dessa ausência, no entanto, deram maior coesão às comissões científica e organizadora local, em mais uma demonstração de que a ação coletiva em torno da produção e discussão de boas práticas e conhecimento científico são maiores do que todos e quaisquer governos.
“Descobrimos, acima de tudo, que não existe Simbravisa sem a presença das vigilâncias de estados e municípios. Com todos esses percalços tivemos um Simpósio com mais de mil pessoas. Elas foram solidárias ao Simbravisa da resistência. Foi extremamente rico ter uma maior liberdade, inclusive para os servidores da Anvisa que aqui estiveram. Que surpresa boa poder olhar para temas tão caros ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária por outros olhares e falas”, avaliou Ana Cristina Souto, presidente do Simpósio.
Geraldo Lucchese, membro da comissão cientifica, ressaltou que esse posicionamento institucional adotado pela diretoria da Agência clama ao GT Visa e a Abrasco como um todo, discutir o papel da Anvisa no SUS. “Nosso objeto é o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, e a Anvisa é uma unidade do SUS. Isso deve mobilizar a gente, inclusive, para debater qual compromisso governos e gestores têm com o Sistema Único e a Saúde Pública brasileira”.
Para Rilke Púbio, coordenador da Comissão Organizadora Local, a realização do Simbravisa nas condições dadas foi mais uma prova que força do SUS vem de seus trabalhadores, e no contexto do Vigilância Sanitária brasileira, pela força das visas municipais e estaduais. “Vi muito compromisso com o Simpósio e a compreensão de que esse é um espaço de formação, de troca e reconhecimento de profissionais que se dedicam demais à Visa em suas rotinas de trabalho, e isso é fundamental” ressaltou ele ao contar sobre a moção de aplauso que a Vigilância da cidade de Perdigão, interior de Minas, recebeu da Câmara de Vereadores, após participação no 8 Simbravisa, dentre outras histórias, bem ao gosto mineiro.
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O segundo dia do encontro foi dedicado ao GT repensar suas estratégias internas na articulação da área da Vigilância Sanitária com outros eixos e núcleos teóricos, políticos e organizatvos da Saúde Coletiva e Pública brasileiras, sua política de associação, levando em conta representatividade territorial e institucional e composição entre academia e serviço, e as práticas de comunicação, tanto internas à organização do GT, como externas, voltadas à sociedade. Ao final, uma homenagem com uma salva de palmas e lembranças à colega Sirlei Famer, médica sanitarista, reconhecida nacionalmente por seu trabalho na Vigilância em Saúde, e que faleceu no final de fevereiro deste ano.