“A resposta da Epidemiologia brasileira à pandemia é um tributo às suas origens: o compromisso social é inerente, está escrito na definição da epidemiologia brasileira, demonstra sua essencialidade ao campo da Saúde Coletiva” , disse Guilherme Werneck, professor da UERJ e UFRJ, durante a conferência de fechamento do 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em 26 de novembro. O epidemiologista fez coro às falas de colegas – como Gulnar Azevedo e Cesar Victora – que, durante o evento, reivindicaram a história da área em defesa da vida, do direito à saúde e do SUS.
Werneck promoveu uma reflexão sobre os aprendizados da Epidemiologia diante da Covid-19, “o maior desafio sanitário de nossa geração”. Para ele, a resposta do Brasil à pandemia foi catastrófica: não houve coordenação de ações para impedir a propagação do vírus e salvar vidas, como testagem, rastreamento, e incentivo ao uso de máscaras e distanciamento social. Citando o “Boletim Direitos na Pandemia“, coordenado por Deisy Ventura (USP), o pesquisador pontuou, ainda, que houve “estratégia deliberada de promover a propagação da Sars-Cov-2”
“É nesse contexto que se dá a minha reflexão: nesse cenário totalmente adverso, o que podemos tirar de perspectivas para repensar a epidemiologia? Houve um amplo e inédito envolvimento de toda a comunidade da área, não só os de doenças infecciosas. Nos envolvemos para buscar soluções e maneiras de contribuir com o enfrentamento racional dessa pandemia. Mas surgiram outras questões, que precisamos discutir sobre, como a invasão dos modelos matemáticos ou o fato de pessoas sem especialização se autodeclararem epidemiologistas”, pontuou Werneck.
Segundo o professor, a pandemia também reforça a importância do diálogo com as Ciências Sociais e Humanas em Saúde, no controle da crise sanitária, e a Epidemiologia é essencial neste processo, já que adentra no cenário de debate duro científico levando a questão de que só a ciência não “muda o mundo”. Para lidar com a complexidade e com as múltiplas camadas dos efeitos da doença na sociedade, é preciso atuação política e um olhar amplo da sociedade, para além dos números.
“A comunidade da Abrasco teve um papel fundamental, de resistência, para salvar vidas. É uma honra participar deste coletivo. Ciência, política e militância social andam juntas, na vida de todos, inclusive de nós, epidemiologistas”, finalizou Guilherme Werneck.
A conferência foi coordenada por José Cássio Morais, professor da FCM/Santa Casa SP, presidente do do 8º Congresso Brasileiro de Epidemiologia (São Paulo, 2011). Assista: