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Hesio Cordeiro, presente

Bruno C. Dias - Pesquisa: Hara Flaeschen

Hesio Cordeiro no VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, realizado na Uerj, em 2013 – Foto: Flaviano Quaresma/Abrasco

A Saúde e a Educação brasileiras despedem-se de um dos seus gigantes. Faleceu neste domingo, 8 de novembro, Hesio Cordeiro, aos 78 anos. Médico sanitarista e professor, as inúmeras funções e atividades desempenhadas numa extensa e intensa trajetória vivida por Hesio Cordeiro o inscrevem na história contemporânea como um dos nomes da construção do direito à saúde e à educação de nosso país. A Abrasco teve a honra de tê-lo como presidente entre 1983 e 1985. Aqui prestamos nossa homenagem e agradecimento a este grande sanitarista brasileiro. Confira também depoimentos de abrasquianos, amigos e alunos.

Um pioneiro: Filho de Aílton Cordeiro e Yette de Almeida e Albuquerque Cordeiro, Hesio de Albuquerque Cordeiro nasceu em 21 de maio de 1942, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Graduou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da então Universidade do Estado da Guanabara no ano de 1965, tendo realizado residência em Clínica Médica no ano seguinte.

No entanto, seu caminho logo tomou o rumo dos debates sobre os sistemas de saúde. Uma bolsa conjunta concedida em 1969 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) permitiu que o jovem pesquisador realizasse cursos e visitas técnicas às escolas de Medicina Preventiva nos Estados Unidos. O conhecimento adquirido e as relações de cooperação estabelecidas foram centrais para que, na já Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Hesio fundasse o Instituto de Medicina Social (IMS) em 1971, junto com Nina Pereira Nunes e Moyses Szklo.

Entre 1971 e 1978 trabalhou como consultor da OPAS para atividades de organização de serviços de saúde, tecnologia e recursos humanos, atuando em vários países, como Argentina, Peru, Equador, Venezuela, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, México e República Dominicana, sem nunca deixar os vínculos com o IMS/Uerj.

Ainda durante o regime militar, participou do Simpósio sobre Política Nacional de Saúde, promovido pela Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, em 1979, quando veio a grande público um dos textos seminais da área, A Questão democrática na área da Saúde, redigido por Hesio, Reinaldo Guimarães e José Luis Fiori, então organizados no Centro de Brasileiro de Estudos de Saúde – Cebes.

Um líder: Esssa intensa militância o colocou em contato com diversas instituições de ensino, pesquisa e treinamento, nomeados à época como Medicina Preventiva, Medicina Comunitária, Medicina Social ou Saúde Pública. A força do debate crítico sobre as práticas médicas e dos sistemas de saúde, e a necessidade de respostas concretas às condições de vida, adoecimento e morte da sociedade brasileira aprofundaram os debates já estabelecidos entre pensadores e docentes desses centros formativos. Estavam dadas as condições para o surgimento de um campo emergente de saberes e práticas em saúde. Ao final do encontro Formação e Utilização de Pessoal de Nível Superior para a Saúde Pública, realizado em 27 de setembro de 1979, no escritório da OPAS no Brasil, em Brasília (DF), foi criada e fundada a então Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. A assinatura de Hesio é a 14ª na ata inaugural.

Em 1981, doutorou-se em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Entre 1983 e 1984 dirigiu o IMS, e no biênio de 1983-1985 presidiu a Abrasco.

Hesio Cordeiro integrou o Grupo de Trabalho para o Programa de Saúde, da Coordenação do Plano de Ação do governo do presidente Tancredo Neves para ampliação e organização do sistema de saúde do país. Sua central atuação o alçou ao cargo de presidente do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), exercido de 1985 a 1988.

Junto com Sergio Arouca, coordenou e presidiu os trabalhos da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, outro marco do Movimento pela Reforma Sanitária brasileira e que pautou na sociedade a saúde como dever do Estado, a universalização e a integralidade nos cuidados de toda a população com ativa participação e controle dos serviços de saúde por seus usuários – elementos que comporiam o capítulo da Saúde da Constituição Federal de 1988. Neste mesmo ano, Hesio recebeu o título de doutor honoris causa da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) por suas contribuições.

O papel de professor ao qual sempre se dedicou foi ampliado no ano de 1992, quando foi nomeado reitor da Uerj, após ter ganho a eleição direta. Conduziu os rumos da Universidade até 1995, quando liderou uma grande iniciativa de formação de professores das redes públicas em parceria com as demais instituições de ensino superior do Estado.

Aposentou-se pelo IMS/Uerj em 1996 e tornou-se coordenador de saúde da Fundação Cesgranrio e assessor técnico do Ministério da Saúde para o Programa de Saúde da Família. Em 1999, Hesio foi Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro. De 2000 a 2006, dirigiu o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estácio de Sá, na qual também foi fundador e coordenador do programa de pós-graduação em Saúde da Família. De 2007 a 2010, foi diretor de gestão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), sendo sua última contribuição à vida pública do país.

Sempre com grande carinho pela Abrasco, Hesio participou de inúmeros congressos, eventos e atividades da entidade, discutindo seu papel e seus desafios futuros, com importante participação no Aniversário de 35 anos da Associação, realizado no escritório-sede da OPAS Brasil, em Brasília, em 2014. Recebeu o mesmo carinho e admiração das inúmeras instituições pelas quais contribuiu. Nesse momento de despedida, recebe mais esta homenagem em tributo ao seu legado. Nosso muito obrigado, Hesio. Continuaremos firmes construindo a história que tão belamente teve em você um dos grandes nomes.

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