A incorporação da pauta étnico-racial no currículo dos cursos de graduação e pós-graduação em saúde coletiva foi o tema abordado no dossiê ‘Raça. etnia, gênero: experiências na formação em saúde’, organizado pelas pesquisadoras de Rosana Monteiro, Márcia Pereira Alves dos Santos e Edna Maria de Araújo, integrantes do GT Racismo e Saúde, e publicado pela Revista Interface, Comunicação e Saúde. A abordagem da temática é necessária no processo de formação para que, o futuro profissional de saúde, compreenda o impacto das iniquidades étnico-raciais na saúde da população. Há ainda uma legislação que determina a abordagem de temas relacionados a relações étnico-raciais, história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nos cursos da educação básica ao ensino superior. Algumas Diretrizes Curriculares Nacionais de cursos de graduação, a exemplo das DCN do curso de Medicina, também indicam a necessidade de abordagem de tais temáticas.
Entre os objetivos do GT Racismo e Saúde está “Propor a inclusão dos temas relacionados a racismo […] bem como suas interseccionalidades (gênero, classe) em […] Congressos organizados pela Abrasco; e ainda “Contribuir para nortear a implantação da temática, fomentar e incluir os temas como racismo e saúde da população negra nas formações universitárias […] e na educação permanente […]. Assim, as organizadoras do Dossiê submeteram proposta de Grupo Temático ao 8º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde (CBCSHS) aprovado como GT28 “Saúde, currículo, formação: experiências, vivências, aprendizados e resistência sobre raça, etnia, gênero e seus (des)afetos”. A qualidade dos trabalhos e dos debates levou a proposição do dossiê.
Uma consulta realizada pelo GT Racismo e Saúde, o GT Saúde Indígena e o Fórum de Graduação em Saúde Coletiva em 2019 reforça a necessidade e importância do tema do Dossiê. Foi realizada uma consulta aos 89 programas de pós-graduação em Saúde Coletiva e 18 responderam. Entre as perguntas estavam: “Seu programa de pós-graduação possui disciplina(s) que abordam a temática saúde da população negra e saúde da população indígena?” e, apenas, 38,9% disseram que abordam a temática saúde da população negra e 22% a saúde da população indígena.
O artigo de Rosana Monteiro, Márcia Pereira Alves dos Santos e Edna Maria Araújo, que compõe o dossiê aborda a inserção da temática étnico-racial dos cursos de Saúde de instituições de nível superior (IES) nos estados da Bahia, de Sergipe, Alagoas e São Paulo, no período de 2010 a 2018. Em São Paulo, por exemplo, ‘dos 24 cursos de Saúde, (…) somente 25% incluíram a temática da saúde da população negra no processo de formação dos acadêmicos, entretanto nenhum curso de saúde tinha uma disciplina específica sobre a temática.
Para além da denúncia sobre as ausências, o dossiê traz artigos sobre experiências de abordagem da temática nos cursos de graduação e pós-graduação, apontando caminhos possíveis.