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Ineficácia da cloroquina contra a Covid-19 é confirmada em revisão de 70 referências

Bruno C. Dias

Divulgado na manhã desta quarta-feira, 20 de maio, documento científico repertoria pesquisas realizadas em todo o planeta e vaticina: não há evidências científicas favoráveis que sustentem o uso da cloroquina (CQ) e da hidrixicloroquina (HCQ) em qualquer dose ou estádio da Covid-19, quer no nível individual quer no de políticas públicas. Pelo contrário, a nota sustenta que há sim evidências de associações desses usos à frequência de eventos adversos graves e com maior letalidade; devendo o uso de CQ/HCQ ser restrito a protocolos de pesquisa aprovados por comitês de ética em pesquisa. A nota vai em direção contrária às orientações do Ministério da Saúde para o tratamento medicamentoso prococe de pacientes com diagnóstico de Covid-19, divulgadas também na manhã do mesmo dia 20, sem assinatura oficial de nenhuma autoridade sanitária ou mesmo secretaria ou departamento da autarquia.

Assinado por oito cientistas, sendo quatro deles da Academia Nacional de Medicina, o documento seguiu critérios técnicos rígidos. O primeiro passo foi o levantamento do conjunto de trabalhos disponíveis na literatura médico-científica até 19 de maio – tanto os publicados por periódicos como os divulgados em repositórios preprints – sobre o uso da CQ e da HCQ no tratamento da Covid-19. Artigos de opinião foram excluídos. Ao final, foram lidas e analisadas 70 diferentes referências, que incluem relatórios de bancada, ensaios clínicos e estudos observacionais ou prospectivos. As pesquisas avaliadas abordam o uso dos fármacos – isolados e combinados com azitromicina – em diversas situações de contato com o SARS-CoV-2: in vitro, com modelos animais, em pacientes com formas leves e graves da Covid-19 e também por indivíduos que fizeram uso profilático das substâncias.

Ao final, o documento expressa o posicionamento claro de que não há razão para o uso da CQ e da HCQ no tratamento da doença e orienta a necessária precaução aos agentes públicos. “Em uma situação de emergência global de saúde pública, como a pandemia causada pelo SARS-CoV-2, cabe ao Poder Público garantir o bem-estar da população de forma responsável e embasada em conhecimento produzido pela ciência e não a submeter ao risco adicional de um tratamento sem garantias de segurança e eficácia sob a chancela de uma política nacional de saúde”. O  documento é assinado em ordem alfabética por Celso Ferreira Ramos Filho; Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro; Daniel Goldberg Tabak; Djane Clarys Baia-da-Silva; José Gomes Temporão; Marcus Vinícius Guimarães Lacerda; Margareth Pretti Dalcolmo; Mauro Schechter; Natália Pasternak Taschner e Patrícia Brasil. Acesse o documento.

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