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Inovação e tecnologia como conceitos à serviço da democratização

Em diálogo com a conferência de Ana Sojo, o presidente da Abrasco e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), Luis Eugenio Souza, iniciou a conferência pela questão do desenvolvimento, um conceito de que deve ir além da visão de mero progresso técnico e com incorporação de novas tecnologias, mas, como postulado por Amartya Sem, uma busca contínua pelas potencialidades coletivas e liberdades individuais. “Apesar do crescimento econômico e geração de renda, ainda vemos a visão de privilégio das políticas de desenvolvimento movidas pelo crescimento do PIB e pautadas pela oligopolização e financeirização dos grupos econômicos”.

 

Luis Eugenio apresentou o conceito de inovação tanto na sua concepção do senso comum como na definição teórica de Joseph Schumpeter, que articula a aquisição de novas tecnologias como ato intrínseco e definidor da economia capitalista na garantia vantagens na competição entre as empresas capitalistas para a incorporação de novos produtos, processos e também mercados. Frisou também os poderes dessa tecnologia na indústria bélica, na criação de verdadeiros soldados-ciborgues nas guerras do Oriente Médio, e no cotidiano, com graves efeitos graves nas condições ambientais das cidades, com trânsito, poluição, aquecimento global e desequilíbrio ecológico.

 

Na saúde, o professor frisou os efeitos positivos da saúde, mas destacou também as atrogenias, como as hemorragias digestivas causadas por anti-inflamatórios não esteroides e casos de infecção por superbactérias resistentes aos antibióticos. Destacou também a elevação dos custos do sistema de saúde pela agregação de tecnologia, levando a argumentos para a redução dos sistemas universais de saúde onde existem.

 

Inovação com visão social: Uma outra visão da tecnologia e inovação são possíveis, para Luis Eugenio. “As tecnologias não são neutras dos propósitos sociais, são ambivalentes. Vemos uma predominância de interesses e valores orientados apenas pela busca do lucro, mas é possível mudar esse modelo de desenvolvimento tecnológico”.

 

O atual modelo, citou o professor, trabalha numa estreita articulação entre pesquisadores da saúde, engenharia, empresas e governos, com critérios que visam os interesses e rápida aceitação dos profissionais de saúde e depois pelos usuários e a capacidade de pagamento dos preços estabelecidos para as tecnologias (desirability e o affordability). “Inicialmente essas estratégias eram voltadas para os países desenvolvidos, depois para os mercados emergentes para conquistar e capturar políticas públicas para a aquisição e compra das tecnologias”.

 

Mas é possível mudar esse quadro, tanto pelo enfrentamento político quanto simbólico da utilização da tecnologia, segundo Luis Eugenio. Entre as estratégias, citou a importância da tradução dos conhecimentos para o senso comum, para destituir o fetiche da tecnologia, e “potencializar esses efeitos na educação permanente e na socialização dos conhecimentos adequados ao interesse social”. A radicalização da democracia, com crescente representação, representatividade e definição de agenda é outra estratégia. “O SUS tem um marco legal para a participação da sociedade civil. A possibilidade de influência é possível, mas é preciso capacitação para irmos além das sugestões de melhoras tecnologias”.

 

Para a comunidade da saúde coletiva, Luis Eugenio incitou a produção de pensamentos e busca por financiamentos em tecnologias orientadas a partir dos perfis epidemiológicos das populações e focados nos nós críticos dos problemas. “São questões que tem de estar no início das definições das pesquisas e investimentos, tanto médicos como os que interferem nos determinantes sociais”.  Entre os exemplos citados destacou as pesquisas em AIDS/HIV, modificadas pela ação da militância, e das políticas ambientais.

 

Em sua apresentação, o professor aponta que não é preciso voltar a uma idade pré-industrial, mas sim acreditar e trabalhar para que as tecnologias possam ser utilizadas para novos valores. “Valorizar a produção e pesquisa em tecnologia de caráter não-capitalista, socialista até, que se constrói não a partir de um movimento de ruptura mágica, mas com a possibilidade da transição desse modelo tecnológico em processos construídos no cotidiano”.A moderação foi de Geraldo Lucchese, que situou o debate dentro da atuação da vigilância sanitária, tanto pela atuação dentro dos parques produtivos no início da apresentação, e a qualidade do debate, longe dos obscurantismos e rico em potencialidades para novas conceituações.

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