Os números de muitas pesquisas quantitativas sobre os resultados de campanhas de prevenção de lesões e mortes no trânsito, não deixam dúvida: há muitos dados como os sociais, políticos e econômicos que não são considerados nesses levantamentos. Essas foram as principais contestações dos que se pronunciaram durante o debate após a explanação de informações apresentadas por Eugênia Rodrigues, da OPAS, que trouxe a experiência internacional; por Marta Silva, do Ministério da Saúde, que socializou os resultados do Projeto Vida no Trânsito em âmbito nacional; e Ana Amélia Pedrosa, que apresentou a experiência municipal de Teresina, no Piauí.
Segundo Eugênia Rodrigues, no contexto dos desafios, para a OPAS, fazem-se necessárias fortalecer a aplicação das leis para os fatores de risco de proteção e trabalhar de forma intersetorial com o objetivo de diminuir a exposição, o risco e as consequências sempre com foco nos usuários mais vulneráveis. “Precisamos dar ênfase às políticas de transporte público. Vale aqui mencionar os resultados de uma pesquisa da Associação de Transporte Público de São Paulo como exemplo, que mostra que para você usar o transporte público, comparando com o uso de uma moto para se locomover por um percurso de 8 quilômetros, é 1/3 do valor de usar uma moto”, ressalta. Nesse sentido, Eugênia afirma que se não houver uma mudança do olhar para a questão do investimento em transporte público, vamos continuar assistindo os números crescentes de acidentes no trânsito. Ainda assim, a representante da OPAS disse não haver ainda um trabalho mais incisivo da Organização Panamericana para a Saúde nesse sentido. “Consideramos que é um grave problema a falta de investimentos, contextualizamos essa questão nas ações que desenvolvemos para que possamos ter uma abertura de diálogo com os governantes, mas ainda não é uma frente de trabalho definida”, disse.
Marta Silva afirmou que a questão do transporte público é um desafio crescente, mas que as campanhas, as ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde para a prevenção de lesões e mortes no trânsito precisam ser realizadas. “Não podemos ficar assistindo os números crescentes das pesquisas, precisamos agir. Mas também sabemos que apenas campanhas não são suficientes”, disse.
Ana Amélia Pedrosa apresentou dados alarmantes de Teresina. Segundo ela, mesmo que as estatísticas mostrem um quadro muito negativo da situação, o governo municipal não promove uma ação “revolucionária” para reverter o problema. Na capital do Piauí, analisando os dados do mês de janeiro de 2014, por exemplo, apenas em um dia da semana não houve o registro de um acidente de trânsito, e os casos triplicam nos finais de semana, envolvendo principalmente motos.