A afirmação de uma ciência comprometida com a saúde da população; com a busca de de alternativas às desigualdades; conectada com o tempo histórico e os movimentos sociais. Em entrevista ao site Outra Saúde, Isabela Cardoso Pinto, presidente do Abrascão 2022, ressalta o que torna o Congresso tão central na agenda deste ano.
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“Temos um contexto de múltiplas crises, desmontes das políticas públicas, contingenciamentos, ataques à democracia, à ciência, às instituições e à vida […] E o nosso Congresso deseja contribuir como campo científico, ético e político para a formulação das soluções que inspirem os gestores que terão a responsabilidade de reerguer o Brasil.” Leia a entrevista abaixo, conduzida pela repórter Gabriela Leite, e acesse aqui a matéria na publicação original.
Outra Saúde: O Abrascão vai acontecer novamente após 4 anos, depois da pandemia, 600 mil mortos e toda a crise política e sanitária que testemunhamos. Qual o significado desse acontecimento?
Isabela Cardoso Pinto: A nossa expectativa é enorme. A possibilidade do encontro presencial nos anima e no plano das ideias a comissão organizadora está bastante estimulada e atenta às necessidades de um evento desse porte. Depois de 2 anos de uma pandemia que ainda exige muitos cuidados, sem dúvida será um momento histórico para nós. Para a Saúde Coletiva, um momento de reafirmação dos nossos pactos em defesa da vida, do SUS e da democracia brasileira.
Importante destacar que o 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva ocorre num ano extremamente importante para o futuro político do país. E será um espaço onde não pode sair da nossa pauta a defesa da democracia, dos princípios constitucionais, dos direitos, e dos nossos compromissos com a diversidade, a equidade e a justiça social.
Além disso, ser em Salvador, cidade acolhedora, diversa e multicultural, também reflete o espírito desse encontro. Com certeza a força agregadora do trabalho coletivo será a marca desse Congresso. Com espírito de articulação, integração, defesa de direitos e da democracia.
Esperamos que os debates, tanto nos eventos preparatórios quanto nos diversos espaços do Congresso estimulem reflexões e propostas que possam ser incorporadas à agenda política da Saúde, da Educação e da Ciência Tecnologia, dos próximos governos.
OS: A história do Abrascão se confunde com a do SUS e da democracia brasileira, ao longo dos últimos 36 anos. Qual será a particularidade deste ano?
ICP: O termo de referência do Abrascão 2022 destaca a escolha da frase “Saúde é democracia”, chamando atenção para o discurso do professor Sérgio Arouca na abertura da 8ª Conferência Nacional de Saúde e ao movimento da Reforma Sanitária brasileira. Destacando que naquele momento histórico, questões relevantes para a saúde coletiva foram postas, como a determinação social do processo saúde-doença, a necessidade de criação de um sistema de saúde universal, e o desafio de enfrentar questões como a desigualdade, a violência, a iniquidade e a diversidade da sociedade brasileira.
Sobre os desafios que a conjuntura atual nos impõe e que constituem pautas do nosso debate na Abrasco, sem dúvida temos problemas crônicos e problemas emergentes. Problemas que perduram no Brasil e que foram agudizados pela pandemia, que provocou uma reviravolta no mundo e nos sistemas de saúde. Temos um contexto de múltiplas crises, desmontes das políticas públicas, contingenciamentos, ataques à democracia, à ciência, às instituições e à vida.
E o nosso Congresso, a ser realizado no mês de novembro de 2022, deseja contribuir como campo científico, ético e político para a formulação das soluções que inspirem os gestores que terão a responsabilidade de reerguer o Brasil.
OS: O Congresso tem início no dia seguinte após o dia da Consciência Negra, na cidade mais negra fora da África, Salvador. A questão da saúde de populações mais vulneráveis será importante no Abrascão?
ICP: Sem dúvida, a busca de alternativas para o enfrentamento das desigualdades, das iniquidades, da violação dos direitos humanos, das formas de opressão e exclusão de diversos grupos sociais, estarão na pauta do nosso Congresso. Assim como, o reconhecimento das contribuições e o protagonismo que estes grupos marginalizados trazem para a produção de conhecimento, para as políticas públicas e o enfrentamento dos desafios da sociedade brasileira.
OS: Vivemos num contexto de grande valorização do SUS pelos brasileiros, que se iniciou após o início da pandemia de covid. Ao mesmo tempo, o desmonte e o desfinanciamento atingem patamares também históricos. De que maneira esse debate poderá ser abordado no Abrascão?
ICP: A responsabilidade, compromisso e contribuição da saúde coletiva marcaram esse período de enfrentamento da pandemia. Cada Congresso da Abrasco traz experiências, resultados de pesquisas e debates que abrem novas perspectivas para o campo. Assim será o Abrascão 2022, a comunidade epistêmica da Saúde Coletiva, os trabalhadores e profissionais de saúde, conselheiros, gestores, os movimentos sociais progressistas, a sociedade em geral estão sendo convocados para um diálogo crítico e criativo para dar conta de tantos desafios.
Sem dúvida, o desmonte das políticas públicas e os efeitos perversos do desfinanciamento da saúde estarão presentes nos debates. A Comissão Científica do nosso Congresso vem construindo a programação conectada com as grandes problemáticas, e também com as alternativas de soluções. Os eixos temáticos propostos trazem a inovação de articular áreas, saberes e princípios.
OS: Ainda nesse contexto, o que será preciso cobrar de um novo governo, desta vez progressista, se tudo correr bem?
ICP: Com a proposição de ações e compromisso social com os movimentos de mudanças na saúde, nas políticas públicas e na sociedade. Com espírito de articulação, integração, defesa de direitos e da democracia, traduzidos no tema central do Congresso – “Saúde é democracia: diversidade, equidade e justiça social” – reafirmação dos nossos pactos em defesa da vida, do SUS e da Democracia brasileira.