Luiz Claudio Meirelles, integrante do GT Saúde e Ambiente da Abrasco e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz, e Larissa Bombardi, pesquisadora da Universidade de São Paulo, concederam entrevista ao Jornal Nacional (Rede Globo) na última sexta-feira (28/06). Os pesquisadores falaram sobre a intensificação no registro de agrotóxicos em 2019. Leia a matéria, abaixo, e assista ao vídeo:
O governo acelerou a liberação do uso de novos agrotóxicos no país e aumentou a preocupação de especialistas com os riscos que isso pode representar para a saúde e o meio ambiente.Nunca tantos agrotóxicos foram liberados num intervalo de tempo tão curto no Brasil. Em 2019, o governo já autorizou 239 novos pesticidas, sendo 42 só esta semana. Um recorde. Já são ao todo mais de dois mil agrotóxicos licenciados para uso nas lavouras brasileiras.O último levantamento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação mostra que o Brasil foi o país que mais gastou com agrotóxicos no mundo, à frente de Estados Unidos, China, Japão e França.
O Ministério da Agricultura não contestou esses dados, mas afirma que o Brasil não é o campeão mundial de agrotóxicos. O país apareceria em 44º lugar no ranking que mede a quantidade de pesticidas por hectare, atrás de Bélgica, Itália, Portugal e Suíça. Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo questiona os dados do levantamento. Segundo Larissa Bombardi, do Departamento de Geografia da USP, o cálculo incluiria as áreas de pastagens, o que alteraria o resultado final. “Se nós olharmos os dados do último censo do IBGE em termos de ocupação agrícola no Brasil, o pasto, a pastagem é aquilo que ocupa a maior área. E a pastagem usa pouquíssima quantidade: menos de 10% do volume de agrotóxicos utilizados no Brasil tem como destino o pasto. Então, quando você soma o pasto na área agriculturável do Brasil, esse volume enorme de agrotóxicos dilui e parece que usamos pouco”, explicou.
A pesquisadora afirma que 40% dos agrotóxicos autorizados essa semana utilizados no Brasil foram banidos da União Europeia pelos elevados riscos à saúde e ao meio ambiente.“Eu penso que o Brasil está andando para trás. Desses 42 agrotóxicos autorizados essa semana, 40% são proibidos na União Europeia. Alguns deles há 15 anos. Há um inseticida chamado atrazina que é proibido há 15 anos na União Europeia, porque é neurotóxico e, no entanto, ele está no rol, está na lista das substâncias autorizadas esta semana no Brasil”, continuou Larissa Bombardi.
O Ministério da Agricultura afirma que todos os defensivos liberados em 2019, com exceção de uma nova substância, já existem no mercado e que a oferta de genéricos abre caminho para a concorrência. Especialistas denunciam outros problemas relacionados à multiplicação de agrotóxicos no Brasil. Além da falta de fiscalização e da orientação técnica para o agricultor sobre como aplicar corretamente os pesticidas, o país não está em dia com as análises dos alimentos para saber se eles estão chegando à mesa do consumidor com excesso de agrotóxicos.
Luiz Claudio Meireless, pesquisador da Fiocruz e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, lembra que o último relatório sobre riscos de contaminação dos alimentos foi publicado em 2016.“A Anvisa, por exemplo, nos últimos anos, eu não tenho visto o trabalho que ela tinha na área de controle. E, mesmo assim, nós tivemos já dois anos sem coleta. O outro problema é o monitoramento de mercado, que é importante você fazer um mapeamento daquelas substâncias perigosas, como é que são distribuídas. Isso não aconteceu mais. Notícia de fiscalização não tem acontecido”, avaliou.
O Ministério da Agricultura afirmou que o maior número de licenciamentos se deve à agilidade na análise dos pedidos e criticou a comparação dos agrotóxicos usados no Brasil com a Europa. A comparação correta seria com outros países como Estados Unidos e China que praticam agricultura de larga escala. O Ministério garantiu a segurança dos alimentos. “Eu não vejo como um risco à saúde primeiro porque a gente não tem um aumento do uso de agrotóxicos a campo, na verdade esses produtos vão disputar um mercado que já está consolidado e a garantia legal de que eles foram amplamente avaliados pelo Ibama e pela Anvisa”, afirma o coordenador geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Carlos Ramos Venâncio.
A Anvisa afirma que o programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos continua ativo e que deve publicar dados novos no segundo semestre.